Há algo de estranho na Teoria Econômica. Na faculdade, aprende-se, por uma demonstração matemática, que os impostos geram uma ineficiência no mercado chamada de “peso morto”, que impede a realização de algumas trocas comerciais, sendo isso prejudicial à economia como um todo. Esse “peso morto” seria uma espécie de mal necessário para o setor público poder se financiar e prover alguns bens e serviços que, por diversos motivos, não há interesse de que eles sejam providos pelo setor privado.
A Teoria Econômica admite que isso é apenas um recorte da realidade, no entanto, apresenta esse fato como uma espécie de verdade incontestável, de certa forma apontando o governo como o vilão da história, como aquele que impede a perfeição matemática dos fluxos comerciais. Obviamente, as coisas não são bem assim. Em primeiro lugar, o mercado também funciona através de imensas distorções e irracionalidades por si só. Ele possui seus tetos e seus pisos, que geralmente são muito mais arbitrários por só atender ao lucro e ao interesse da empresa e do empresário, sem nenhuma representatividade ou legitimidade na sociedade, já que nem o empresário, nem os acionistas, nem os diretores precisam ser escolhidos pela população ou prestar contas a ela.
Além disso, ficando apenas com os detalhes econômicos e matemáticos da teoria, cabe a nós pensar: qual é o benefício que o Estado pode gerar para a população com os impostos? Digamos que uma empresa de cigarros perca um total de 20 consumidores e mais alguns outros que reduzam seu consumo durante um ano por causa do encarecimento deste produto com a cobrança de impostos. Pela arrecadação destes impostos, o governo pode decidir construir uma praça que atenda a 100 pessoas diariamente ou mais, sendo que estas mesmas 100 pessoas na praça tornam-se consumidoras potenciais de produtos (lanches, balões, brinquedos etc.), de publicidade e de possíveis atrações que podem ocorrer nela, dependendo do lugar. Isso para não falar também da sustentabilidade.
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Em outro exemplo, digamos que os impostos na produção de carros sejam convertidos na extensão das obras do metrô ou em melhorias para o transporte público. O investimento serve para que a cidade tenha menos engarrafamentos e mais vagas, gerando um benefício diário e geral para toda a população.
Ademais, há fatores que não foram contabilizados, pois existe uma enorme quantidade de tempo que se economiza com as melhorias no trânsito, que pode chegar a mais de duas horas diárias, e com a grande diminuição do consumo de cigarro, que pode chegar a até 10 anos, em termos de expectativa de vida. Pensando economicamente, podem ser 2 horas diárias e 10 anos de vida a mais para um consumidor (ou produtor) potencial.
Portanto, fica evidente que o governo não é o vilão da história para a economia. Pelo contrário. Hodiernamente inclusive há muitas formas de atuação conjunta e parcerias entre o governo e as empresas para beneficiar a sociedade, como comprovam os estudos do Estado Conformacional feitos pelo Mário César Pacheco Dias Gonçalves, criador deste Blog. Se o governo atender às necessidades da população, ele na verdade é um gerador de bens, de serviços e atuará na melhoria da qualidade de vida, inclusive gerando diversas possibilidades econômicas onde o investimento ou é muito alto ou está fora do interesse no mercado, o que frequentemente ocorre nas áreas de saúde, segurança, cultura e educação.
Olá, Paulo! Mais uma vez, abordando temas espinhosos de maneira consistente e interessante. Parabéns!
Há uma multiplicidade de vilões, mas os mais danosos são aquelas que deveriam evitar os males e os promovem. Os maus administradores, públicos ou privados, por exemplo.
Também há pouquíssima importância para a coletividade. Para o outro. Para a humanidade.
Os números não mentem. Mas as pessoas que os interpretam sim. As questões humanas deveriam importar mais, no entanto, isso é pouco aprendido nos melhores cursos.
Grande abraço!
Muito obrigado, André Tenório! Sinto-me bastante honrado de ter um leitor tão presente e preocupado com os problemas humanos como você.