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Palavras, palavras, palavras…

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A inflação é gerada pela dissociação entre moeda e produção. Quando a moeda é emitida sem lastro na realidade perde-se confiança na economia e os preços sobem porque a moeda passa a valer relativamente menos. A atual crise não é inflacionária, pois parte considerável da economia está ou parada ou incentivando o consumo, mas há outra coisa sendo emitida pelo governo sem lastro na realidade que pode gerar uma bolha destrutiva de desconfiança: palavras.


Considerações sobre a poupança Bamerindus

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Havia um adágio publicitário na década de 1990 que declarava a permanência da poupança Bamerindus, apesar da relatividade do tempo. O comercial errou em todas as afirmações: o tempo não passou, uma vez que a economia continua vivendo as consequências do que veio depois da década perdida; também não voou, já que os traumas daqueles tempos estão, mais do que nunca, presentes e, certamente, a poupança Bamerindus não continua numa boa. Curiosamente, o tempo só passou e voou realmente para a própria poupança Bamerindus, pois praticamente ninguém se lembra mais dela, com exceção, talvez, dos que tiveram seu dinheiro lá investido e deste autor. É claro que faltaria discutir a equivocidade dos termos passar e voar, isso para não falar do tempo, mas penso que a música e o anúncio deveriam ser revistos e invertidos na atualidade: “O tempo não passou, o tempo não voou e a poupança Bamerindus não continua numa boa. A poupança Bamerindus não é mais.” E um final com letras garrafais: “A BOA ATUAÇÃO E PERMANÊNCIA DOS BANCOS DEPENDE DE FATORES ENDÓGENOS E EXÓGENOS, REPRESENTADOS PRINCIPALMENTE PELA CONJUNTURA ECONÔMICA, PELA CONFIANÇA, PELO BOM RELACIONAMENTO COM O CLIENTE E POR UMA BOA ADMINISTRAÇÃO. PESQUISE BEM ANTES DE INVESTIR SEU DINHEIRO EM QUALQUER LUGAR.” Pessoalmente, eu investiria meu dinheiro em um banco assim com satisfação, pois confiaria que este banco imaginário respeitaria o meu dinheiro e a minha inteligência, mesmo na ruína. Chego a ser otimista a ponto de pensar que um mundo com comerciais de banco como esse estaria menos sujeito a crises econômicas e a seus reflexos e quase certamente não sofreria a crise que ocorreu nos anos 00. No entanto, para o momento, posso apenas advertir os leitores para sempre tomarem cuidado com aquilo que escutam em vídeos publicitários, principalmente quando vem na forma de jingle.
(02/08/2014)


É possível que no futuro olhem para os economistas como nós hoje olhamos para os profetas, predizendo o que acontecerá do alto de seus templos envidraçados de muitos andares. Mas o deus pragmático a que servem não é nenhum Apolo e, talvez felizmente, exige outros tipos de sacrifício. O problema dos economistas, e me incluo entre eles, não é tanto suas previsões, mas, como a maioria dos profetas, é não saber ou não avisar que pode existir outro caminho melhor fora de suas palavras e de seu discurso.
(30/06/2016)

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3 COMENTÁRIOS

  1. Olá, Paulo! Parabéns pelo texto.

    Eu me lembro do comercial com a música e uns bichinhos subindo e descendo. Lembro-me também de que os comerciais foram veiculados à exaustão enquanto o banco já fazia água. E que isso me fez refletir sobre as diferenças entre publicidade, propaganda e realidade. Como era possível que aquele banco ainda pudesse angariar mais clientes?
    Mas, falando sobre os economistas, eles são importantes, claro, mas precisam entender que fazer análise correta sobre o que já aconteceu não os habilita a prever o futuro.
    Por fim, o tempo não existe.
    Grande abraço.

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