Na página 04 da edição do Jornal O Globo de 13/09/2014 foi publicado o seguinte editorial “Ameaça no Horizonte”, dando notícia de que o fato de um “servidor de carreira” ter efetuado a alteração de perfis de Miriam Leitão e de Sardenberg do Planalto seria um indício de tomada da máquina pública e afirma que “a infiltração partidária na máquina pública é mais grave do que se fosse realizada por meio apenas de ocupantes de “cargos de confiança”, preenchidos sem concurso.” Conclui, ainda, que “a contaminação é mais séria e representa um perigo para o futuro governo não petista.” Como assim??!!?!
Senhores, não pensei realmente que em algum momento o Editorial de um grande jornal, o maior representante da grande mídia do país, pudesse deixar tão evidente seu preconceito contra servidores públicos. Facilita muito nossa postura de expor que a grande mídia tem como um de seus objetivos o aniquilamento do serviço público e de servidores públicos e isso, sim, muito mais do que o crime perpetrado pelo tal “servidor de carreira” é muito mais grave para o interesse do País.
Primeiro, o preconceito fica evidente do contraste da leitura do artigo a que se refere o editorial, intitulado “Pai e colegas dizem que servidor que mudou o perfil de jornalistas é do PT”, e da afirmação do editorial de que o criminoso não era de cargo em comissão. Observe que no quarto parágrafo do artigo que deu origem ao editorial questionado está assim escrito “Responsável pelas alterações, Vieira Filho é funcionário de carreira do Ministério da Fazenda, mas estava lotadona Secretaria de Relações Institucionais (SRI) na época das alterações. (…) ocupava a função de chefe da Assessoria Parlamentar do Ministério do Planejamento. (…) acumulava o benefício de DAS 4 (Direção de Assessoramento Superior)”. E pouco antes estava escrito que seu pai admitia que “pelo fato de o filho ocupar um cargo de confiança, ele disse considerar natural que ele tenha deixado o cargo.”
Então, senhores e senhoras, vejam, o funcionário estava em CARGO DE CONFIANÇA. Como quase sempre, para não dizer sempre, não estava no exercício das atribuições de seu cargo público efetivo. Porque talvez, como a absoluta maioria dos casos, no cargo efetivo ele não teria coragem de fazer algo dessa natureza porque correria o risco de perder o emprego/cargo efetivo.
Então por que o editorial falou que não era alguém em cargo em confiança? E qual o problema de um servidor de carreira ocupar cargo de confiança? Quer dizer que se o cargo fosse ocupado por um empresário e ele tivesse feito as alterações de perfis de jornalistas o risco seria menor para a sociedade? Por quê? Um servidor público petista agir mal torna evidente o quê? Que todos os servidores são petistas? Que o serviço público é uma estrutura partidária? Que o PT está colocando pessoas nos cargos públicos e depois as chama para cargos em comissão e estão se espalhando na estrutura do serviço público para tomar o país, contra qualquer outro partido ou político que entre na Presidência da República?!
Gente… antes de ser servidor público, o alterador de perfis, Luiz Alberto de Vieira Filho, é uma pessoa, um brasileiro, que por suas convicções políticas se filiou ao PT. Por conta disso e por fanatismo personalíssimo, ao que tudo indica, achou que fazendo a imbecilidade que fez ajudaria o PT e, na cabeça dele, o país. Ele errou não como servidor público, mas como pessoa. Assim como o médico geneticista estuprador de clientes errou como pessoa, sem criar uma pecha a todos os médicos geneticistas e auxiliares no processo de fertilização. Ou Sérgio Naya errou ao construir prédio com areia de praia e parte do prédio desabou matando 8 pessoas. E esses outros exemplos são até piores, pois o médico estava no exercício de sua medicina, o engenheiro estava no exercício de sua engenharia, mas o servidor Luiz Alberto não estava no exercício de seu cargo público; ele estava no exercício de cargo de confiança, algo principiologicamente estratégico e que no Brasil está tomando ares e se transformando de instrumento de cooptação político-partidária e de “troca-troca” por favores políticos, sendo mais de 25 mil cargos em confiança no governo federal.
Inclusive propagandear que o Luiz Alberto pode perder o cargo efetivo, não tendo feito nada no exercício das atribuições de seu cargo efetivo, é rancoroso e esquisito. Ele pode responder criminalmente pelo que fez, pode perder o cargo em comissão, que entregou ao assumir a culpa, mas vemos como difícil a perda de cargo efetivo, cujas atribuições pertinentes ao Ministério da Fazenda não traiu.
E mais, as investigações deveriam continuar, eis que, como tive experiência na área criminal, muitas vezes alguns assumem as culpas dos outros em troca de bens materiais ou imateriais que lhes interessam, escondendo o real criminoso e mandante ou executor das garras da justiça. A investigação não se encerra na confissão de uma pessoa, simplesmente.
Então, senhores e senhoras, deixo aqui meu desgosto e minha consternação com a mais pura demonstração de preconceito contra o serviço público e servidores públicos que o Jornal O Globo sustentou com o infeliz editorial intitulado “Ameaça no Horizonte”.
Quando houve o caso em que, consoante notícias publicadas pela Carta Capital sobre inquérito da polícia federal sobre quebra de sigilo fiscal de Serra, um servidor da Receita Federal de Minas Gerais teria ajudado supostos ajudantes da campanha de Aécio à indicação partidária para o pleito da Presidência da República em 2010 a verificar a declaração do imposto de renda de Serra, no que foi chamado de “fogo amigo”, o Globo não disse que isso era risco à República… começou a falar que era enquanto achou que a quebra de sigilo era ordem do PT, mas, quando viu que era fogo amigo do PSDB, parou com as indicações de fascismo partidário-estatal. Para o PSDB pode?
E o que foi aquilo? O servidor da Receita que colaborou com aquilo foi até muito mais longe do que o Luiz Alberto, pois perpetrou crime de quebra de sigilo fiscal e ainda o fez no estrito exercício do cargo público! Era um psdbista! Então, o problema não é ser funcionário público, mas ser partidário do PT ou PSDB e resolver fazer besteira, pelo que deverá, nesta condição de agente de crime ou contravenção ou ilícito administrativo responder nestas medidas e com a agravante de ser servidor público. Vejam, bem, por ser servidor público suas sanções podem ser multiplicadas e suas penas serem maiores. Então ser servidor até prejudica ainda mais os indicados a cargo em comissão que queiram agir em desacordo com a lei. Ao contrário de pessoas da área privada ou empresários.
Ah, sim, por ser servidor público ele largou o cargo de confiança e voltou à sua atividade anterior habitual? Sim. Mas se fosse da área privada também faria o mesmo. Então que tipo de comentário é esse? Preconceituoso. O Globo não deveria ficar insinuando que há um espraiamento de “petistas” fanáticos na máquina pública, em cargos efetivos, mas exigir que o servidor seja punido, como agente de eventual crime (falsidade ideológica, por exemplo), e que seja apurada sua responsabilidade administrativa. E só. E não é pouco. E é o correto e devido. Não deve ficar alimentando suspeitas infundadas e cinematográficas sobre toda a estrutura da cargos efetivos e sobre todos os servidores, porque se tudo fosse executado por funcionários particulares, empregados com risco de demissão, haveria, aí sim, uma aproximação muito maior dos interesses privados, políticos e partidários, sem possibilidades de o Estado controlar a imensa corrupção da função pública que ocorreria em todas as esferas de governo, simplesmente porque quem se negasse a executar tarefas corruptas seria demitido imediata e sumariamente.
Pedimos e exigimos respeito aos servidores públicos de carreira e exigimos que o Jornal O Globo não difame a estrutura federal de serviço público e de servidores públicos com cargo efetivo, com base na ação isolada, incauta, temerária, de uma pessoa filiada ao PT, em exercício de cargo em comissão no Planalto e que, por um acaso, também era servidor público efetivo, e não do órgão em que estava lotado no momento em que resolveu alterar os perfis de Miriam e do Sardenberg. Servidores públicos são honestos, dignos, comprometidos com o cumprimento de suas funções públicas e da lei, respondem severamente por seus erros e nada têm a ver com atos isolados de quem quer que seja, mesmo que possa ser um outro servidor público da carreira que seja.
Exigimos o fim do preconceito do Jornal O Globo contra os servidores públicos.
p.s.: Para deixar claro sobre o absurdo da abordagem do editorial que se critica, pergunto, se o Luiz Alberto fosse empresário, seria ponderado no editorial sobre o risco para o País do espraiamento de petista no empresariado? E se fosse policial civil, seria comentado que os crimes no Brasil agora estariam em risco de serem resolvidos contra o PT? E se fosse um diplomata, seria ponderado que o PT se infiltrou no Itamaraty e que esse corpo nunca mais defenderia a ALCA, independente do Presidente eleito e que seria um bunker petista a favor do bolivarianismo? E se fosse um militar, diria que agora ficaria evidente que há risco institucional para a democracia porque toda a estrutura militar brasileira estaria em risco com o espraiamento do PT pelas Forças Armadas e que isso seria um indicativo de próximo golpe e tomada PTista do Poder? Claro que não!!!! Então, senhores, fica claro que o editorial foi infeliz e preconceituoso!! Tratou-se de ato desvairado de uma pessoa que estava em cargo de confiança, que é filiado ao PT e que, por acaso era servidor público, generalizando e incutindo suspeitas contra o serviço público de forma geral. Não quer dizer que todo petista, nem todo integrante de cargo comissionado (apesar de que estes ficam mais vulneráveis, realmente) e muito menos todo servidor público seja um clone de petista fanático (tipo os “agents” no filme Matrix) prestes a aparecer e sabotar o serviço público, a lei e a ordem para defender, com faca nos dentes, e a qualquer preço o PT e seu governo!! Pelo amor de Deus!!! Isso é ridículo!! Isso é o cúmulo do ridículo!!!
p.s. de 17/09/2014 -texto revisado e ampliado.