O livro de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, foi o tesouro mais precioso que pude encontrar na minha trajetória de vida e carreira acadêmica no programa de pós-graduação em ciência da religião da UFJF. É um livro que abraça um mundo, com sua dimensão metafísica que toca os principais temas que marcam o ser humano em sua trajetória de vida. Impressiona-me sobretudo o traço de ambiguidade que marca o grande personagem, Riobaldo Tatarana, que, na verdade, traduz a medula de todos nós, pontuados que somos pela presença dialética de luzes e sombras. Esse foi um dos grandes aprendizados que tive. Todos somos tocados pela neblina da vida, em suas facetas contrastantes, e provocados a enfrentar com muita coragem esse desafio de sempre aprender a levantar com alegria e disposição para retomar com liberdade o caminho. O tema da religião é outro ponto forte do livro: a luta entre Deus e o Demo, e a capacidade de Riobaldo, com a preciosa contribuição de compadre Quelemém, de saudar com alegria a beleza da diversidade das crenças: “Muita religião, seu moço! Eu cá não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio… Uma só para mim é pouca”. Marcou-me também a forma singular como Guimarães Rosa aborda no livro o amor, com uma simplicidade e abertura que encantam. Riobaldo é portador de um coração que soma, nunca divide. O seu modo livre e espontâneo de amar é um aprendizado para todos. Também me encanta a forma singela como o livro relata o aprendizado do amor à natureza, pacientemente trabalhado na relação de Diadorim com Riobaldo. Com a leitura paciente do livro, vamos nos dando conta que tudo está relacionado numa teia de carinho e afeição.
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Faustino Teixeira, mineiro de Juiz de Fora e professor no Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG). Atua também no Programa Paz e Bem e colabora no Instituto Humanitas da Unisinos.