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Corrupção na área privada: desvendando o tabu de exclusividade da corrupção em setores públicos.

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Muito vemos publicado sobre corrupção na área pública. Poucos às vezes se apercebem do fato de que a grande quantidade de casos de corrupção publicados são justamente porque depois da Era Lula, a Polícia Federal triplicou seus policiais e Delegados e foi inaugurada materialmente a Controladoria Geral da União, antes criada no papel pelo Fernando Henrique Cardoso.

Nosso modo de combate à corrupção foi elogiado por organismos internacionais, inclusive.

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Enquanto isso, e a área privada? Que se arvora baluarte da correção e da ética? Já ouvi muito dizer que com a privatização de tudo o que fosse possível cairia o índice de corrupção porque os controles privados são melhores.

Bem, contra isso (essa imagem equivocada de que a corrupção é privilégio da esfera pública), além de já ter escrito artigo sobre o tema “Caso de Furnas (…)”, pinço para você e indico a leitura do artigo publicado na coluna de Elio Gaspari de hoje, no Jornal O Globo, de 05/05/2013, pg. 08.

Toda a corrupção que toda a esfera pública no mundo tenha produzido não se compara em termos de desgraça social ao que ocorreu na crise econômica mundial iniciada em 2007 e ainda em curso. As agências de rating, ao não avaliarem adequadamente os riscos das operações com títulos subprime que davam “garantia” a operações de financiamento ao consumo calcadas em valores futuros a partir de valorização de imóveis já hipotecados, criaram o racha econômico mundial condenando à pobreza milhões de europeus, americanos e japoneses! E com todo o reflexo negativo sobre a dívida pública desses países e a diminuição da marcha de negócios pelo mundo, prejudicando crescimento econômico mundial.

E isso, senhores, deriva de corrupção privada. Houve consenso, diante de fórmulas financeiras que garantiam altos lucros a milhares de bancos e empresas, entre formuladores e analistas de agências de rating. E deu no que deu. Se as agências de rating tivessem feito seu trabalho e condenado o uso de tais fórmulas, nada disso teria acontecido. Mas a promessa de lucros fáceis e rápidos era grande demais. Talvez se essas agências fossem públicas, como o IBGE, como o IPEA, talvez a vigília privada impedisse um absurdo desses, mas sendo privadas, tudo é conversável e a corrupção fica por ali, incógnita.

Também chamou a atenção o caso de corrupção privada na manipulação da Libor, índice financeiro que pauta grande parte do comércio e negociações mundiais. Descobriu-se um conluio de 32 bancos privados para a manipulação da Libor!!! Olhem o nível e o tamanho do ônus que este tipo de corrupção gera: influencia boa parte dos negócios mundiais… não são milhões de reais ou bilhões de reais.. tratam-se de trilhões de dólares!!!

Neste sentido, felicito Elio Gaspari por escolher escrever o artigo “A Falta de Sorte dos Sábios da KPMG”, publicado hoje, 05/05/2013, no Jornal O Globo pag. 08. Junto com todas as análises de outras consultorias e agências de rating, que “erraram” na avaliação da Enron, na avaliação de dezenas de bancos e empresas de grande porte, a KPMG errou na avaliação do estado das finanças do Banco Cruzeiro do Sul.. não viram um rombo de 3,1 bilhão de reais.

Segundo Elio Gaspari, “um dos chefes do serviço de fiscalização da KPMG já disse, com razão, que a corrupção em empresas privadas brasileiras consome até 5% de suas receitas.” Faça essa conta para as empresas listadas em Bolsa de Valores e calcule o prejuízo de acionistas, de empresas e do País.

Isso é para você ver a dimensão da corrupção na área privada. Melhor, isso é para você ver que corrupção na área privada existe e que ela é gigantesca! E pior, é mal publicada, porque o controle sobre a corrupção privada é mais difícil, pois não há Lei da Informação para garantir acesso a suas informações.

Mas o pior de tudo é que essas auditorias e consultorias são as mesmas que apontam sobre “carga tributária brasileira”, taxa de eficiência de empresas brasileiras, taxas e índices econômicos de todo o tipo e que influenciam tomada de decisões para elaboração de políticas públicas para o desenvolvimento do País. Em que medida podemos confiar em seus estudos e conclusões? Veja que complicado para realização do interesse público dependermos exclusivamente de avaliadores privados e concedermos a eles o reconhecimento de donos da verdade e da infalibilidade.

Leia o artigo de Elio Gaspari. Interessante para entendermos que a corrupção na área privada é provavelmente maior e mais grave do que na área pública. Temos de ver a realidade dos fatos. A realidade não é a de que prevalece a corrupção na área pública e a idoneidade na área privada. Há corrupção em ambas as áreas, mas na área privada é mais protegida e menos visível.

Importante salientar ainda que hoje foi publicado no Estadão que ações anticorrupção aumentaram em 133% o número de presos por corrupção ativa, passiva e peculato, em quatro anos!! Acesse: http://estadao.br.msn.com/ultimas-noticias/a%C3%A7%C3%B5es-anticorrup%C3%A7%C3%A3o-aumentam-pris%C3%B5es-por-crimes-contra-gest%C3%A3o-p%C3%BAblica-no-pa%C3%ADs

Dessa forma coloca-se o debate sobre corrupção privada x pública em dimensões e perspectivas mais próximas do real. Pena que não há o mesmo índice publicado para aumento de prisões de corruptos da área privada e nem tanta publicidade sobre a corrupção na área privada… só quando estoura em milhões de cidadãos, ou em rombos gigantescos na economia..

p.s. de 09/05/2013 – texto revisado.

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