“Seria lindo ter visto esse carnaval, ver como as pessoas se alegravam com uma coisa tão simples. Nós havíamos arruinado tudo e não havíamos ganhado nada. Tínhamos um título, mas o que era isso diante de tanta tristeza?”
Obdulio Varela,
capitão da seleção uruguaia, que derrotou o Brasil
na final da Copa do Mundo de 1950.
O Brasil é famoso no mundo inteiro como o “País do Futebol” [1]. Este título é tão marcante que alguns estrangeiros acreditam realmente que o brasileiro pode parar a qualquer momento no meio da rua e começar a fazer embaixadinhas, mais ou menos como aconteceu no capítulo de Os Simpsons que trata do país (ver a seção correspondente para mais detalhes). Acima de tudo, o mais interessante é que essa imagem do “País do Futebol” se confirma não somente nas vitórias brasileiras, mas, e, sobretudo, nas derrotas da seleção.
Nem sempre foi assim. No início do século XX, o football era visto como uma estrangeirice, trazida por um brasileiro com ares de inglês. Tratava-se do paulista Charles Miller, que aos nove anos foi estudar na Inglaterra e voltou ao Brasil para trabalhar em uma firma rodoviária inglesa. Ele trouxe junto consigo duas bolas de futebol e realizou a primeira partida oficial no Brasil em 1895, entre funcionários de empresas inglesas. Os primeiros clubes de futebol formaram-se nas áreas mais nobres do Rio de Janeiro (Flamengo e Botafogo [2], por exemplo, com moradores da área residentes junto ao mar e praticantes de remo), de São Paulo e de outras cidades, incluindo alguns jovens da elite, que estudavam em escolas britânicas. Os intelectuais reprovavam tal atividade e o escritor brasileiro Graciliano Ramos chegou a dizer, em uma crônica de 1921, que o futebol “É roupa de empréstimo, que não nos serve.” [3]
O talento dos brasileiros para o esporte prevaleceu, vindo acompanhado de uma persistente jornada de glórias e “olas” desde a vitória da seleção brasileira contra o time inglês Exeter City por 2×0 em seu primeiro jogo oficial, no campo do Fluminense (em Laranjeiras, no Rio de Janeiro), no dia 21/07/1914. De lá para cá, o Brasil é o único país que participou de todas as Copas do Mundo de Futebol, realizadas desde 1930 até 2014. É também o que conquistou mais troféus na competição mundial, sendo pentacampeão, além de ter conquistado muitos outros títulos.
Uma imensa quantidade de material promocional para divulgação do futebol brasileiro – que inclui camisetas, uniformes, bolas, comerciais de televisão, álbuns de figurinhas, jogos de videogame, livros, filmes etc. – circula no mundo inteiro e a tendência tem sido crescente. Depois de três filmes sobre o rei do futebol [4], foi rodado, para estrear no mesmo ano da Copa de 2014 (tendo estreado somente em 13/05/2016 nos EUA), o filme, em inglês, “Pelé, Birth of the Legend” (“Nascimento da Lenda”), sobre a trajetória do astro na juventude, até 1958, trazendo Leonardo Lima Carvalho para o papel de Pelé na infância e Kevin de Paula, jogador brasileiro Sub 20, do Esporte Clube Tigres do Brasil [5], para atuar como Pelé dos 13 aos 17 anos. O filme ainda tem a participação do ator Rodrigo Santoro, que possui considerável fama internacional e já representou o jogador brasileiro Heleno de Freitas no filme brasileiro “Heleno”, de 2011.
Além disso, o livro “A Loucura do Futebol”, lançado em 1983, por Janet Lever, na época professora de sociologia na universidade norte-americana de Yale, favoreceu a entrada do esporte em discussões acadêmicas nas ciências humanas, hoje ampliadas em cursos e estudos que vinculam os esportes com a política. Em 18 de agosto de 2004, foi realizado um amistoso da seleção brasileira, que ficou conhecido como o “Jogo da Paz”, levando alegria a um Haiti destruído pela guerra civil. Tal evento serve para dimensionar a importância do esporte para a imagem internacional do Brasil. A ida dos craques da seleção [6] – Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Roberto Carlos, o goleiro Júlio César e outros – para o Haiti, inaugurando a chamada “Diplomacia do Futebol” [7], foi motivada por um comentário do primeiro-ministro haitiano, Gérard Latortue, para os brasileiros, que lideravam a missão de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) [8]: “Em vez de soldados, o Brasil deveria enviar sua seleção de futebol” [9]. O presidente Lula levou em conta a queixa e promoveu o jogo amistoso, cujo resultado final foi divulgado como “Seis para o Brasil – Paz para o Haiti” [10]. Em novembro de 2009, o presidente Lula sugeriu repetir a fórmula para aproximar israelenses e palestinos em uma mesma seleção, no entanto o projeto não teve continuidade.
Mas o que realmente fez a imagem do futebol brasileiro no exterior foram os lances geniais dos jogadores brasileiros, muitos dos quais jogaram e jogam em clubes estrangeiros. A história da seleção brasileira traz muitos personagens e imagens marcantes: Bellini, capitão da equipe brasileira, erguendo a taça de campeão mundial pela primeira vez na Copa de 1958 [11]; a volta olímpica dada pela seleção de 1958, após vencer a Copa; o gol clássico de Pelé contra a Suécia, na final da Copa de 1958; Garrincha driblando toda a defesa da União Soviética em sua estreia na Copa de 1958; o gol de bicicleta [12] de Pelé em um amistoso contra a Bélgica, vencido por 5×0, no estádio do Maracanã (no Rio de Janeiro), em 1965; o gol que Pelé não fez, mas que teve a bola passando rente à trave, com chute de antes do meio de campo contra a Tchecoslováquia, no primeiro jogo do Brasil na Copa de 1970; o gol de Pelé de cabeça, após cruzamento de Rivellino, contra a Itália na final da Copa de 1970; o gol do capitão Carlos Alberto Torres, após passe de Pelé, fechando o placar de 4×1 contra a Itália, na final da Copa de 1970; o gesto de beijar o troféu, que se considera ter sido iniciado por Carlos Alberto Torres após vencer a Copa de 1970; o gol de Nelinho, que fez curva na bola, na vitória por 2×1 contra a Itália, no jogo de disputa pelo terceiro lugar da Copa de 1978; a defesa de três pênaltis [13], pelo goleiro Taffarel, cobrados pela Alemanha contra o Brasil nas semifinais das Olimpíadas de 1988; o gol de cabeça do baixinho Romário, após cruzamento de Mazinho, na difícil vitória contra o Uruguai por 1×0, no Maracanã [14], no jogo da final da Copa América de 1989; a comemoração do golaço de Bebeto, simulando embalar seu filho nascido dois dias antes, na vitória contra a Holanda por 3×2, nas quartas de final da Copa de 1994; Cafu, capitão da seleção [15], erguendo, sorridente, a taça de campeão de 2002, no alto do pódio, em meio a uma chuva de papéis prateados; o gol de Rivaldo, relembrando Pelé, contra a Bélgica, na vitória do Brasil por 2×0 nas oitavas de final da Copa de 2002; os dois gols fenomenais de Ronaldo contra a Alemanha, na vitória por 2×0 na final da Copa de 2002; a vitória do Brasil por 4×1 contra a Argentina na final da Copa das Confederações de 2005, na Alemanha, representando o auge do “Quadrado Mágico”, que reunia os principais jogadores do mundo na época (Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Kaká) no auge de suas carreiras; as jogadas impressionantes de Neymar, Fred e toda a equipe na vitória por 3×0 do Brasil contra a Espanha, considerada invencível, na final da Copa das Confederações de 2013; o gol premiado de Wendell Lira jogando pelo time do Goianésia em 2015; a primeira vitória olímpica da seleção brasileira em 2016 no Rio de Janeiro etc. etc. etc.
Só que não apenas nas vitórias o futebol e o espírito esportivo brasileiro se destacam. De fato, muitas seleções e muitos jogadores ficaram famosos exatamente por derrotarem o Brasil, ou mesmo por conseguirem fazer gols na seleção brasileira. Esse foi o caso da França na final da Copa de 1998, cuja vitória, em seu próprio país, ficou mais associada à má atuação de Ronaldo, que gerou todo tipo de comentários e até teorias de conspiração [16]. O jogo trouxe imensa fama ao jogador Zinédine Zidane, que marcou dois gols contra a seleção brasileira na vitória por 3×0. A França só deixou de atormentar o Brasil depois de uma vitória da seleção brasileira, em uma nova fase, por 3×0 recentemente, em 2013, durante um amistoso em Porto Alegre [17].
Mesmo com o vexame da seleção brasileira na Copa de 2014 no Brasil, sendo derrotada pela Alemanha nas semifinais por 7×1, foi praticamente universal o apoio à seleção brasileira e ao jogador Neymar, craque da equipe que não pôde jogar porque estava contundido após uma joelhada violenta que sofrera pelas costas no jogo anterior. O atacante reserva alemão Lukas Podolski chegou a dizer depois do jogo: “Respeite a AMARELINHA com sua história e tradição, o mundo do futebol deve muito ao futebol brasileiro, que é e sempre será o país do futebol.” [18]. O Brasil teve a sua “revanche” contra a Alemanha na final das Olimpíadas de 2016, em 20/08/2016, no Maracanã, com atuação marcante do craque Neymar, que marcou o gol do Brasil durante a partida (que terminou empatada em 1×1) e marcou o último gol na disputa de pênaltis, logo após uma defesa do goleiro brasileiro Weverton. Foi um jogo disputado literalmente até o último instante, e a vitória brasileira representou sua primeira medalha de ouro olímpica, único título que a seleção ainda não havia conquistado, o que foi ainda mais significativo porque as Olimpíadas ocorreram, pela primeira vez na história, na cidade do Rio de Janeiro. [19]
No entanto, certamente o caso mais célebre continua sendo a derrota do Brasil para o Uruguai na final da Copa de 1950. Foi a primeira Copa do Mundo de Futebol sediada no Brasil e era a única até o país ter sido escolhido como sede da Copa de 2014. O Brasil sofreu uma derrota por 2×1 no estádio do Maracanã – construído especialmente para a Copa – e o Uruguai sagrou-se bicampeão mundial [20]. Os brasileiros, na época, não estavam totalmente decididos em relação ao futebol [21] e vieram a assumir seu amor pelo esporte exatamente por causa dessa Copa, manifestando seus verdadeiros sentimentos na derrota, quando a pátria inteira calou-se diante do segundo gol dos uruguaios. O curioso é que os próprios uruguaios reconheceram isso. Depois do jogo, o capitão da equipe uruguaia, Obdulio Varela, saiu anônimo pelas ruas do Rio de Janeiro sentindo a dor dos brasileiros e, por incrível que pareça, até consolando alguns [22]. Fez então a declaração principal em destaque em uma entrevista publicada em 1972, exatamente 22 anos depois do jogo contra o Brasil [23]. Para o escritor brasileiro Nelson Rodrigues, essa derrota teria inaugurado o nosso “complexo de vira-latas” [24], entretanto, ele escreve isso antes da estreia do Brasil na Copa do Mundo de 1958 e de tudo o que veio depois. Na atualidade, a imagem que ficou para nós é de que o maior algoz da história do futebol brasileiro identificou-se conosco e, mesmo tendo sido vencedor, desejou presenciar novamente a alegria do povo brasileiro. Do auge de sua vitória, ele reconheceu as qualidades do país que viria a ser o “País do Futebol”.
Notas:
[1] O título refere-se somente ao futebol masculino do Brasil, que tem imensa popularidade mundial. O futebol feminino possui alguns títulos e certa popularidade no Brasil, mas nada comparável ao futebol masculino. Também valem ser destacados o futebol de salão, que já foi considerado um dos esportes mais praticados no Brasil, e o futebol de 5 para deficientes visuais, em que a seleção brasileira venceu o tetracampeonato nos Jogos Paralímpicos de 2016 no Rio de Janeiro.
[2] Os bairros de Copacabana, Ipanema, Leblon e Lagoa eram relativamente recentes nessa época e a maior parte de sua ocupação e urbanização deu-se posteriormente.
[3] Frase citada no livro Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, de Leandro Narloch, pg. 122 (Editora Leya, SP, 2ª edição, 2011).
[4] São eles: “O Rei Pelé”, de 1962; o documentário “Pelé, Garrincha, Dieux du Brésil” (“Deuses do Brasil”), de 2002, e o documentário “Pelé Eterno”, de 2004.
[5] O time, em 2014, passou a chamar-se Itaguaí Futebol Clube, tendo sido comprado pela prefeitura de Itaguaí. Ele participa da série B do Campeonato Carioca Sub 20.
[6] Os jogadores brasileiros ficaram hospedados em Santo Domingo, capital da República Dominicana, comparecendo ao Haiti somente para o jogo e para um desfile em Porto Príncipe, a bordo de um veículo blindado, sendo ovacionados por uma imensa multidão.
[7] Há outros casos interessantes da influência diplomática do futebol: no início de 1969, uma série de jogos do time brasileiro do Santos, com o jogador Pelé, contra a seleção do Congo tiveram por efeito interromper a guerra civil que ocorria no país (citado em: http://almanaquesports.blogspot.com.br/2012/03/guerra-que-parou-para-ver-pele-jogar.html) e, em 2014, o papa Francisco promoveu em Roma o “Jogo pela Paz”, reunindo ex-craques do futebol como o argentino Diego Maradona e o italiano Roberto Baggio, uma segunda edição deste jogo ocorreu em 12/10/2016, com a presença dos brasileiros Cafu e de Ronaldinho Gaúcho, convidado pessoalmente pelo Papa (conforme reportagem de 03/02/2016 da agência de esportes norte-americana ESPN, disponível no site: http://espn.uol.com.br/noticia/575285_com-ronaldinho-gaucho-papa-francisco-lanca-segunda-edicao-do-jogo-pela-paz).
[8] A MINUSTAH – Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, sigla em francês – foi implementada em 01/06/2004, e ainda permanece no Haiti, sob liderança do Brasil, a pedido do governo local, tendo ajudado o país após o terremoto de janeiro de 2010 e o surto de cólera em outubro de 2010 (embora tenha havido, em 2016, o reconhecimento por parte da ONU de que funcionários da organização infectados possam ter tido um papel no início da contaminação epidêmica no país). A MINUSTAH atualmente contribui para a segurança do povo haitiano, para a formação da Polícia Nacional Haitiana, para o desenvolvimento de projetos sociais (como construção de escolas, programas de treinamento e reinserção social, trabalhos temporários, reparo de estradas e fornecimento de iluminação e de serviços públicos) e para a manutenção da estabilidade e da ordem democrática. Além da missão de paz no Haiti, os governos brasileiro e haitiano vêm intensificando a cooperação técnica e humanitária em diversas áreas com o objetivo de alcançar uma paz mais duradoura. Em março de 2015, a ONU (Organização das Nações Unidas) propôs opções para que a MINUSTAH fosse substituída, em 2016, por missão menor e mais especializada, e vem determinando reduções do efetivo militar total da missão. [Nota posterior à publicação do livro: a MINUSTAH oficialmente foi oficialmente encerrada em 15 de outubro de 2017 e o contingente militar foi sendo trazido de volta ao Brasil até o fim de outubro do mesmo ano]
[9] O comentário aparece citado em uma notícia de jornal na abertura do documentário “O Dia em Que o Brasil Esteve Aqui” (de 2005).
[10] Citado no artigo “O Futebol da Paz” da revista alemã Der Spiegel de 30/08/2004, pg. 68; o artigo também comenta o desencanto do Haiti de não ter marcado pelo menos um gol, o que fica visível no documentário “O Dia em Que o Brasil Esteve Aqui”.
[11] O gesto ficou tão famoso que costuma ser repetido em todas as Copas. Inclusive, há uma estátua de Bellini erguendo a taça em frente a uma das entradas do estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Aparentemente, a estátua, inaugurada em 1960, não era originalmente dedicada a Bellini, mas “Aos Nossos Campeões”, só que a memória do acontecimento acabou falando mais alto. Sobre a seleção brasileira de 1958, declarou Eric Persson, presidente do comitê que selecionou os jogadores da seleção sueca (derrotada na final por 5×2): “Não vemos razões para que nos acabrunhemos ante a derrota que sofremos contra uma equipe que joga o melhor futebol do universo” (declaração citada no jornal O Globo de 30/06/1958, pg. 25).
[12] Existe uma discussão se este gol de Pelé foi de bicicleta ou de puxeta. O chute de bicicleta inclui o movimento de pedalar com as pernas, que Pelé não teria realizado, e o de puxeta é apenas um movimento rápido puxando uma das pernas.
[13] Uma defesa no tempo regulamentar e as outras duas na decisão por pênaltis, que foi vencida pelo Brasil.
[14] Essa vitória foi uma espécie de redenção pela derrota do Brasil, no mesmo estádio, para o Uruguai por 2×1 na final da Copa de 1950.
[15] Cafu foi o jogador que mais jogou pela seleção brasileira, participando de 149 jogos (ou 150, havendo uma pequena diferença entre, respectivamente, o número divulgado e o somatório de partidas). Ele foi o único jogador de futebol da história que participou de três finais da Copa do Mundo: em 1994, em 1998 e em 2002, nesta última com 32 anos, tendo ele nascido no mesmo ano da Copa de 1970, em que o Brasil conquistou o tricampeonato.
[16] O ex-jogador brasileiro Zico, que era auxiliar do técnico Zagallo na Copa de 1998, esclareceu o caso de Ronaldo muitos anos depois, contando que o jogador tivera uma convulsão no dia do jogo e, por decisão médica, não havia sido escalado para a final, mas acabou entrando no time quando apareceu bem de saúde antes do jogo. Os principais problemas, portanto, parecem ter sido a saúde de Ronaldo e a sua escalação de última hora. (As declarações de Zico estão citadas no site: http://sportv.globo.com/site/programas/sportv-news/noticia/2014/02/zico-lembra-copa-de-98-e-diz-que-ronaldo-nao-sabia-de-convulsao.html).
[17] A fama de Zidane de algoz do Brasil também perdeu um pouco o vigor, tendo a sua carreira ficado levemente manchada após ele ter sido expulso com cartão vermelho em sua última partida oficial, por ter dado uma cabeçada em um jogador italiano que o insultara. Isso ocorreu na final da Copa de 2006, que terminou com a vitória da Itália nos pênaltis.
[18] Declaração citada no caderno especial da Copa de 2014 do jornal O Globo de 10/07/2014, pg. 13.
[19] Na plateia, torcendo pelo Brasil, estava o invencível corredor jamaicano Usain Bolt, que permaneceu no país mesmo após sua última corrida. Neymar, inclusive, comemorou o seu golaço de cobrança de falta, durante a partida, repetindo o tradicional gesto de raio de Bolt. O corredor foi o centro das atenções nas Olimpíadas no Rio de Janeiro e despediu-se do Brasil, em 21/08/2016, com uma mensagem em português no aplicativo Instagram, em que dizia: “Rio eu tenho amor infinito para você.” (frase citada em: http://olimpiadas.uol.com.br/noticias/redacao/2016/08/21/bolt-se-despede-do-brasil-com-mensagem-em-portugues-na-web-amor-infinito.htm).
[20] O Uruguai já havia sido o país sede e campeão da primeira Copa do Mundo, de 1930.
[21] Por coincidência, 1950 foi o ano da primeira transmissão de televisão no Brasil. Em 1955 foi realizada, pela TV Record, a primeira transmissão de um jogo de futebol e, em 01/07/1956, foi transmitido o primeiro jogo da seleção: Brasil contra Itália no Maracanã, com vitória brasileira por 2×0. Esta última também foi a primeira transmissão interestadual, chegando do Rio de Janeiro até São Paulo. Desde então a popularidade do futebol, que era muito divulgado pelo rádio, só aumentou.
[22] Houve algumas tentativas de criar uma imagem monstruosa do jogador uruguaio. O escritor brasileiro Nelson Rodrigues, na mesma crônica do “complexo de vira-latas” (ver nota 24), diz que ele teria nos tratado a pontapés. Além disso, foi divulgado que Obdulio Varela teria dado um tapa no rosto do lateral brasileiro Bigode, o que foi negado por todos os jogadores da seleção, inclusive Bigode, com a exceção de apenas um (as informações estão citadas em: http://www.vdocshop.com/doc/batro/batro/2012071501/#0, pg. 11). Tal imagem não se confirma entre os brasileiros em geral, nem entre os uruguaios. Em 2013, inclusive, foi lançado um livro de contos de futebol por quatro escritores uruguaios com o título Obdulio era brasilero.
[23] A reportagem “El Reposo del Centrojas” (“O Repouso do Centromédio”) foi publicada em 16 de julho de 1972, na pg. 11 do suplemento cultural do jornal argentino La Opinión, e consistiu em um longo depoimento do jogador gravado pelo jornalista Osvaldo Soriano. Suas declarações estão parcialmente disponíveis, em português, no site: http://trivela.uol.com.br/a-dor-de-obdulio-e-a-condenacao-dos-11-brasileiros-de-50/. A reportagem original, em espanhol, está digitalizada no site: http://www.elortiba.org/pdf/soriano_reposo_centrojas.jpg.
[24] O termo vem de uma crônica de 1958 que classificava o “complexo” como “a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol.” Do livro À Sombra das Chuteiras Imortais, de Nelson Rodrigues, pgs. 51-52 (Companhia das Letras, SP, 1993).
Estamos tão acostumados a tratar o nosso Brasil como o país do futebol, que até as acirradas rivalidades políticas são chamadas de Fla x Flu. Isso já explica muita coisa sobre como nos vemos. Mas isso, no atual momento, é até injusto com o futebol, porque no esporte os torcedores são os primeiros a cobrar e a criticar os perebas do time, mas na política os jogadores só passam a ser considerados perebas quando saem do time.
Vivemos tempos de cegueira voluntária na política.
É verdade, André! Interessante observação.