Estados Unidos da América, Ano Zero: As eleições de 2020, os protestos contra a violência policial, a tentativa de golpe, e os 11 meses que redefiniram os EUA
Por Alexandre Enrique Leitão
Os últimos seis meses viram os Estados Unidos da América, a maior potência militar do planeta e sua maior economia – pelo menos por enquanto – ser marcado por fenômenos considerados ímpares em sua história: pela primeira vez, uma mulher afrodescendente foi eleita para a vice-presidência do país; pela primeira vez, um candidato presidencial norte-americano recusou-se a reconhecer o resultado de uma eleição, questionando na justiça a contagem dos votos e acusando o sistema eleitoral de vários estados de envolvimento em fraude; e pela primeira vez o país enfrentou aquilo que vários veículos de mídia definiram como uma tentativa objetiva de golpe de Estado[i] – caso do jornal La Repubblica, que na capa de sua edição de 07 de janeiro de 2021 trouxe a manchete “EUA, um dia de golpe” (“USA, um giorno da golpe”), bem como da revista Foreign Policy, que em artigo intitulado “A invasão do Capitólio foi um Golpe vindo de Baixo” (“The Capitol Invasion was a Coup from Below”), debatia se a insurreição teria sido uma tentativa de golpe de Estado (Holmes, 2021). O uso do termo golpe de estado refere-se aqui à tentativa de invasão do Congresso norte-americano por manifestantes favoráveis ao presidente Donald Trump, enquanto a Câmara dos Deputados e o Senado estavam em sessão para validar os votos das eleições de 2020, o último passo para ratificar definitivamente Joe Biden como o próximo presidente dos EUA. Em meio ao caos gerado pela insurreição violenta dos trumpistas, alguns dos quais portavam bandeiras confederadas (o símbolo dos estados do Sul escravagista, que se sublevaram contra a eleição de Abraham Lincoln em 1860, jurando fundar um novo país em que a escravidão seria mantida) e símbolos neonazistas[ii], cabe perguntar como os EUA chegaram a este ponto, que fatores vieram a permitir que eventos únicos em sua história se materializassem e quais seriam possíveis previsões para o futuro do país. Para tanto, primeiramente, é necessário voltar no tempo, e observar alguns indícios que já apontavam como estes acontecimentos e fenômenos já pareciam tomar vulto.
O ovo da serpente
Dia 20 de Outubro de 2016. Na ocasião, era realizado o terceiro e último debate dos candidatos à presidência dos Estados Unidos, disputada então pela ex-Secretária de Estado e ex-Senadora por Nova Iorque, Hillary Clinton, candidata do Partido Democrata, e pelo empresário e celebridade de séries de reality show, Donald Trump, escolhido como candidato do Partido Republicano. A eleição de 2016 anunciava-se como uma das mais polarizadas na história do país, marcada por ataques de Trump à candidata democrata (a qual ele acusava de corrupção), e pelo uso corriqueiro que o mesmo fazia de uma retórica xenofóbica, ao prometer que construiria um muro na fronteira com o México, capaz de impedir a entrada de imigrantes latinos. O candidato Donald Trump fora catapultado para a política anos antes, ao disseminar publicamente a teoria conspiratória de que o presidente dos EUA, Barack Obama, teria nascido no Quênia, não sendo efetivamente um cidadão norte-americano e, portanto, legalmente incapaz de exercer o mandato de presidente da República.
A alta tensão que permeou o debate presidencial viria a se acirrar, após o jornalista Chris Wallace, que mediava o evento, perguntar a Trump se ele pretendia reconhecer a vitória da candidata democrata, caso esta viesse a ocorrer. Trump optou por responder: “Eu manterei vocês em suspense, ok?”. Diante da resposta, Hillary Clinton aventurou-se a produzir um prognóstico, caso o cenário delineado pelo moderador do debate se materializasse:
“Toda vez que Donald pensa que as coisas não estão indo a seu favor, ele afirma que o que quer que seja, trata-se de uma armação contra ele. O FBI conduziu uma investigação de um ano em meus e-mails. Eles concluíram que não havia nenhum caso. Ele disse que o FBI foi fraudado. Ele perdeu a primária republicana de Iowa, ele perdeu a primária de Wisconsin, ele disse que a primária republicana foi fraudada contra ele. Em seguida, a Trump University é processada por fraude e extorsão. Ele acusa o sistema judiciário e o juiz federal de estarem armando contra ele. Houve até um tempo em que ele não ganhou um Emmy, por seu programa de TV, por três anos consecutivos e começou a twittar que os Emmy estavam fraudados contra ele. Este é um mind-set. É assim que Donald pensa, e é engraçado, mas também muito preocupante. Não é assim que a nossa democracia funciona. Estamos aqui há 240 anos. Nós viemos tendo eleições livres e justas. Aceitamos os resultados quando talvez não gostemos deles, e isso é o que se deve esperar de qualquer pessoa que esteja em um palco de debate durante uma eleição geral”[iii].
A candidata democrata, então, concluiu como uma advertência: “E sejamos claros sobre o que ele está dizendo e o que isso significa. Ele está denegrindo, ele está falando mal da nossa democracia”. Passados pouco mais de 4 anos desde que Hillary Clinton emitiu suas advertências, um grupo de centenas de apoiadores do presidente Donald Trump invadiu o Congresso dos EUA, enquanto este se encontrava em sessão, para contar e validar os votos emitidos pelos estados – o último passo legal para a oficialização do nome do candidato vencedor nas eleições presidenciais do país. O procedimento, normalmente apenas ritualístico, encontrava-se envolto por uma atmosfera de dúvida e tensão, após um período de dois meses em que Trump se recusou a reconhecer a derrota, preferindo disseminar teorias da conspiração segundo as quais ele teria sido vítima de uma fraude eleitoral de proporções nacionais. As alegações do presidente eram frequentemente ecoadas em coletivas de imprensa televisionadas por seus advogados, entre eles o ex-prefeito de Nova Iorque Rudolph Giuliani, que afirmava identificar indícios de fraude em grandes centros urbanos como Detroit (capital de Michigan), Milwaukee (capital de Winsconsin), Filadélfia (capital da Pensilvânia) e Atlanta (capital da Geórgia). Não escapou a observadores norte-americanos o fato de que estas cidades, além de terem sido instrumentais para garantirem a vitória de Joe Biden em seus respectivos estados no colégio eleitoral, possuem também uma alta concentração de população afrodescendente, como se Giuliani associasse o espectro da fraude à presença e engajamento do eleitorado negro (TIMM, 2020).
As alegações de Trump e seus advogados pareciam, paulatinamente, começar a afetar as ações de militantes do Partido Republicano. Já no dia 16 de Novembro, dois representantes locais do partido ensaiaram o não reconhecimento dos votos depositados em um dos condados com maior concentração de população afrodescendente da cidade de Detroit, interrompendo o processo de validação da eleição de todo o estado do Michigan durante algumas horas, até eventualmente desistirem da iniciativa (RUBLE, VIEBECK, DAWSEY & SWAINE, 2020). E no Senado estadual da Pensilvânia, no dia 05 de Janeiro – véspera da invasão do Capitólio – legisladores republicanos se recusaram a dar posse a Jim Brewster, o candidato democrata reeleito para uma das vagas da casa legislativa. A vitória de Brewster, tal qual a de Joe Biden, estava sendo contestada por seu rival republicano nos tribunais de estado. A recusa republicana em dar continuidade à posse levou a uma caótica sessão, em que senadores estaduais tomaram para si as funções que seriam reservadas ao vice-governador democrata do estado (MENA & LEBLANC, 2021).
Na manhã do dia 06 de janeiro, Trump liderou uma manifestação política em frente à Casa Branca, denominada “Stop the Steal” (“Pare o Roubo”), em que o mesmo, mais uma vez, propagou a tese de uma conspiração para tirá-lo do poder. Ao meio-dia e quinze, quando Trump já fazia seu discurso há alguns minutos, o mesmo proclamou uma convocação: “E depois disso nós iremos andar, e eu estarei lá com vocês. Nós iremos andar até o Capitólio. E nós iremos apoiar nossos bravos senadores e congressistas homens e mulheres, e nós provavelmente não iremos estar torcendo tanto por alguns deles. Porque vocês nunca vão retomar nosso país com fraqueza. Vocês têm que demonstrar força e vocês têm que ser fortes” (LEATHERBY, RAY, SINGHVI, TRIEBERT, WATKINS, & WILLIS, 2021). Em sua convocação constavam indiretos elogios a legisladores como os senadores Ted Cruz, do Texas, e Josh Hawley, do Missouri, que haviam afirmado, dias antes, que não iriam reconhecer os votos dos estados contestados pela campanha de Trump – supostamente com o intuito de pressionar o Congresso a aprovar a formação de uma comissão investigativa, para averiguar fraudes nas eleições de 2020 – além de críticas a republicanos como o senador Mitt Romney, de Utah, candidato derrotado à presidência em 2012, que publicamente reconheciam Joe Biden como vencedor do pleito.
Às 12h50, quando apoiadores do presidente começam a se aproximar das escadarias do Congresso, a presença de um artefato explosivo, próximo do Comitê Nacional do Partido Republicano, em Washington, é relatada, com outro explosivo sendo localizado também no Comitê Nacional do Partido Democrata. Perto das 12h53, as primeiras barreiras policiais, colocadas à distância do prédio do Capitólio, são atravessadas. Cinco minutos depois, a presidente democrata da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, dá início à sessão, ao lado do vice-presidente dos EUA, Mike Pence. Nos EUA, o vice-presidente da República é também o presidente do Senado, sendo incumbido de presidir a sessão de contagem dos votos estaduais. A família de Pence se encontrava também no prédio do Capitólio. No curso dos 50 minutos seguintes, um número cada vez maior de apoiadores de Trump passaria a ocupar as escadarias do Congresso, enquanto senadores e congressistas ainda não haviam sido informados do que ocorria do lado de fora do prédio. Às duas da tarde, parte da multidão rompe a última barreira policial que a impedia de adentrar na porta dianteira do Capitólio.
Cenas do evento, transmitido ao vivo por centenas de participantes anônimos da insurreição, em diversas redes sociais, mostrariam que a vanguarda da multidão – os primeiros a avançarem contra a barreira policial – parecia marcada pela presença de homens com coletes de proteção militar, capacetes e máscaras anti-gás. Às 14h13, quando muitos dentre eles já estavam nos corredores do Congresso, Pence é retirado do Senado por agentes do Serviço Secreto. Enquanto manifestantes invadiam o prédio, vídeos mostravam vários dentre eles entoando a frase “enforquem Mike Pence” (PARKER, LEONNIG, KANE & BROWN, 2021), em resposta à declaração do vice de Trump de que ele não iria tentar interromper ou vetar a contagem dos votos eleitorais durante a sessão. Análise posterior dos vídeos da invasão demonstrou que a multidão esteve a poucos segundos de encontrar Pence, e só não conseguiu fazê-lo em virtude da ação do policial Eugene Goodman, um oficial afrodescendente, e veterano da Guerra do Iraque, que decidiu empurrar um dos manifestantes (o qual se encontrava entre uma parte da multidão formada exclusivamente por homens brancos), afim de desviar a atenção dos mesmos e afastá-los do hall do Senado. Goodman se deixou perseguir pela turba por dois lances de escada enquanto o vice-presidente da República era removido para um local seguro (BROWN & LEBLANC, 2021).
Durante as três horas seguintes, os insurretos ocupariam quase todos os espaços do prédio. Nesse interim, cinco pessoas viriam a morrer. Entre elas Brian D. Sicknick, um oficial da polícia do Capitólio, que veio a falecer dias após ser agredido com um extintor de incêndio na cabeça, e Ashli Babbitt, empreendedora da Califórnia e veterana de guerra da Força Aérea, que foi morta com um tiro, ao tentar invadir um dos corredores do Congresso que dá passagem para o salão da Câmara dos Deputados. A imprensa norte-americana e estrangeira viu em Babbitt um trágico exemplo do processo de radicalização produzido através das redes sociais durante a presidência de Donald Trump. Uma ex-apoiadora do presidente Barack Obama, Babbitt tornara-se uma fervorosa crente na teoria da conspiração chamada QAnon.
Segundo essa teoria, surgia primeiramente em 2017 no fórum online 4chan, um indivíduo que se apresentava como um alto membro do governo norte-americano, com o codinome Q – em referência às credenciais de nível Q do governo dos EUA (que conferem acesso a documentos e informações altamente confidenciais) – afirmava que Donald Trump estaria liderando uma operação secreta, em consonância com as Forças Armadas do país e com diversas agências de inteligência, para identificar, coibir e prender integrantes de uma sociedade secreta formada por satanistas e pedófilos , que visavam tomar o poder nos EUA. O pretenso Q (que pode, na verdade, ter sido composto a partir de diversos indivíduos), nas postagens que realizou ao longo dos anos, corriqueiramente interpretava acontecimentos do cotidiano, falas avulsas de Donald Trump e ocorrências do mundo da política, como códigos de um plano-mestre do presidente dos EUA, com o objetivo de sinalizar mensagens secretas a seus apoiadores e coibir a suposta sociedade secreta. Entre as postagens feitas por Q, constava a descrição de um evento de caráter apocalíptico denominado “The Storm” (A Tempestade): uma ocasião em que Trump iria revelar a guerra sub-reptícia que ele estaria conduzindo, prendendo seus opositores, julgando-os em tribunais militares e realizando execuções em massa (HARWELL & TIMBERG, 2021 e ROOSE, 2021). Um dia antes de invadir o Capitólio e ser morta pela polícia, Ashli Babbitt postou em suas redes sociais: “Nada irá nos parar. Eles podem tentar, tentar e tentar, mas a tempestade está aqui e estará caindo sobre DC (a capital Washington) em menos de 24 horas” (BBC, 2021).
A conspiração em questão seria capitaneada por democratas como Barack Obama, Hillary Clinton e o financista Goerge Soros, os quais integrariam, juntamente com outros nomes das elites políticas, econômicas e culturais norte-americanas, uma cabala de adoradores do demônio, envolvidos com o abuso, tráfico sexual e canibalismo de crianças (Idem). A presença massiva de seguidores desta teoria da conspiração – que procuradores norte-americanos passaram a definir como uma “seita” (“cult” no original em inglês) (POLANTZ, 2021), e que parece ressoar com crenças medievais antissemíticas, segundo as quais judeus sequestrariam, sacrificariam e beberiam o sangue de crianças cristãs durante a Páscoa (Ginzburg, 2012), pôde ser atestada na invasão do Capitólio. Nas cenas da perseguição ao oficial Eugene Goodman, por exemplo, é possível observar que um dos mais destacados membros da multidão que cercou o policial, portava uma camiseta com simbologia QAnon (Associated Press / L.A. Times, 2021).
No entanto, além da presença de defensores de teorias da conspiração, a invasão do Capitólio contou com a participação de uma ampla gama de movimentos de extrema-direita e supremacistas brancos, como atestado pelo jornal The Washington Post. Este conseguiu realizar um levantamento por meio do qual alguns grupos puderam ser identificados entre os invasores a partir do uso de certos símbolos, bandeiras e vestimentas. Entre eles, os mais destacados eram os Proud Boys (Garotos Orgulhosos), grupo de extrema-direita criado em 2016 pelo jornalista Gavin McInnes, cofundador do grupo de Mídia alternativa Vice. Os Proud Boys apresentavam-se inicialmente como um clube masculino, descrevendo a si mesmos como “chauvinistas ocidentais” (FRENKEL & FEUER, 2021), passando paulatinamente a atrair indivíduos que frequentemente ecoavam opiniões anti-islâmicas e antissemíticas. Os Proud Boys ganharam notoriedade no governo Trump por se envolverem em brigas de rua durante manifestações de movimentos de esquerda, e desde as eleições de novembro de 2020, pareciam engajados nas tentativas de Trump de reverter a decisão das urnas (The Washington Post, 2021). Vale ressaltar que, durante o primeiro debate presidencial realizado em 29 de setembro de 2020, entre Trump e Biden, o então presidente dos EUA dirigiu-se diretamente aos membros do grupo, após Biden lhe cobrar que denunciasse seus integrantes. Na ocasião, Trump preferiu emitir uma espécie de comando, dizendo: “Proud Boys, stand back and stand by” (“Proud Boys, recolham-se e aguardem”). Conhecidos por irem para manifestações de rua vestindo camisas polo pretas, com detalhes dourados, durante a invasão do Congresso dos EUA, os Proud Boys podiam ser identificados por portarem insígnias e distintivos da organização em suas roupas e capacetes.
Para além deles, a invasão viu figurarem com proeminência membros das milícias norte-americanas. Muito diferentes dos grupos de crime organizado brasileiros, as milícias dos EUA são organizações paramilitares, formadas a partir das décadas de 1980 e 1990, e que reúnem indivíduos de extrema-direita, unidos pela crença de que o governo norte-americano estaria ampliando excessivamente seu poder sobre os cidadãos do país. Os membros das milícias, as quais atraem ex-integrantes das forças armadas do país – entre eles veteranos de guerra – realizam treinamentos de tiro e exercícios militares, com o declarado intuito de prepararem seus membros para o que eles vislumbram como inevitáveis catástrofes políticas. Tal é o caso do movimento Boogaloo (PINEDA, 2020), conhecido por seus membros (chamados “Boogaloo Bois” – com “i”) fazerem demonstrações portando armas de fogo, enquanto trajam camisas havaianas, em frente a prédios públicos. O nome “Boogaloo” refere-se ao filme Breakin 2: Electric Boogaloo (1984), em que um grupo de dançarinos de break luta contra a corrupção em sua cidade. Apesar da mensagem do filme – que conta com atores negros e latinos – o uso do termo “Boogaloo” se daria pelo fato da película ser uma continuação: ao se valer da expressão “Boogaloo”, os membros do movimento desejariam sugerir que uma Segunda Guerra Civil norte-americana estaria próxima de ocorrer (Idem).
O uso das roupas havaianas se remeteria à expressão “O Grande Luau”, usada como código por seus integrantes em fóruns online para descrever o declínio da sociedade norte-americana (Idem). Por mais que o movimento não tenha figurado com destaque na invasão do Capitólio, um grupo de Boogaloo Bois da Virgínia postou um vídeo na rede social de extrema-direita Parler, divulgando sua participação no incidente (THOMPSON & GISCHER, 2020). Os Boogaloo Bois ganharam notoriedade em novembro de 2020 quando alguns indivíduos ligados ao movimento foram presos pelo FBI, em uma operação para neutralizar um plano de sequestro e execução da governadora do estado de Michigan Gretchen Whitmer, frequentemente atacada pelo presidente Donald Trump durante a campanha presidencial por ter declarado um duro lockdown em seu estado (COLLINS, ZADROZNY, WINTER & SIEMASZKO, 2020). Dois Boogaloo Bois também foram presos, acusados de terem matado um policial e atirado com uma AK-47 contra uma delegacia em Minneapolis, durante os protestos em oposição à violência policial e à injustiça racial nos EUA, em Maio de 2020: o interesse deles teria sido cooptar manifestantes e utilizar o episódio para dar início a uma guerra civil no país (LI, 2020).
Mais destacadas na invasão do Capitólio foram as presenças dos movimentos denominados “Three Percenters” (“Os 3%” em tradução livre) e os “Oath Keepers” (“Os mantenedores do juramento”). Os “Three Percenters” consistem numa milícia de caráter mais tradicional, fundada em 2008, similar àquelas criadas no curso da década de 1990, quando indivíduos de extrema-direita começaram a temer a ampliação de poderes do governo federal após operações policiais contra militantes de extrema-direita, conduzidas pelo FBI e pela Agência de Álcool, Tabaco e Armas de Fogo (ATF), redundaram na morte de civis em Ruby Ridge (1992) e em Waco, Texas[iv] (1993). Defendendo um ideário de extrema-direita e de inspiração libertária, os membros do movimento “Three Percenters” apoiavam o governo de Donald Trump. O nome da organização se baseia na crença errônea de que apenas 3% da população das colônias britânicas pegou em armas e lutou contra as tropas inglesas durante a Guerra de Independência dos EUA (The Washington Post, 2021).
Assim como eles, os “Oath Keepers” (grupo criado em 2009) também se assemelham a uma milícia mais tradicional – sendo uma das maiores nos EUA – diferindo das demais por sua estratégia de recrutamento, focada em membros das forças policiais e ex-integrantes das forças armadas do país. Seu nome se remete ao juramento de lealdade à Constituição dos EUA (“oath” é “juramento” em inglês), no qual os militares americanos, depois de se alistarem, juram defender a carta constitucional contra “inimigos estrangeiros e domésticos” (The Washington Post, 2021). Os “Oath Keepers” vêm mantendo uma considerável presença midiática nos últimos anos figurando por exemplo, nos protestos contra o racismo e a violência policial realizados em Ferguson, Missouri, em 2014, em resposta à morte de Michael Brown, jovem negro de 18 anos de idade, pela polícia (FOWLER, 2015). Na ocasião, membros dos “Oath Keepers” apareceram nos telhados de edifícios da cidade enquanto protestos eram realizados na rua, em demonstrações de intimidação. A presença deste grupo junto às forças policiais norte-americanas pôde ser atestada quando, em Junho de 2020, manifestantes que protestavam em resposta à morte de George Floyd, fotografaram um policial do Departamento de Polícia de Orange County, na Califórnia, usando um emblema do movimento “Oath Keepers” e do “Three Percenters” em seu uniforme (DAVIS, 2020).
Para além das insígnias e símbolos das milícias, a invasão contou com a presença das bandeiras dos estados Confederados – tradicionalmente associadas a grupos de supremacia branca, em especial à Ku Klux Klan, a sociedade secreta racista que durante o século XX protagonizou linchamentos de homens negros, sobretudo no Sul dos EUA – e do gesto de OK com os dedos. Este passou a ser apropriado por grupos racistas, que começaram a utilizá-lo como uma referência à expressão “white power” (poder branco): com os dedos médio, anelar e mindinho se referindo à letra “w”, e o círculo feito com o indicador e o polegar remetendo a uma letra “p” (The Washington Post, 2021).
A presença intensa de grupos paramilitares na invasão ao prédio do Capitólio representou um sinal de alerta para o Departamento de Justiça dos EUA. Semanas depois do ataque, investigações apontavam que a invasão, longe de ser uma ação espontânea, teria sido planejada. Documentos judiciais apresentados no dia 19 de janeiro, apontavam que membros de milícias teriam feito planos de invadir o Capitólio antes do dia 06 de janeiro, comunicando-se uns com outros durante a ação, além de terem conversado sobre “caçar congressistas” (COLE, 2021). Um dos indícios de que o ataque teria contado com um nível complexo de planejamento – além de sinalizar para a intenção violenta dos manifestantes – foi apontado pela congressista democrata do estado de Massachusetts Ayanna Pressley, que descobriu, após os eventos do dia 06 de janeiro, que os botões de pânico de seu escritório, os quais eram regularmente testados, haviam sido removidos (GAOUETTE, 2021). As crescentes pistas de que o ataque teria sido planejado começam a sugerir a provável abertura de uma comissão investigativa para apurar os fatos, semelhante à comissão que investigou os ataques terroristas do 11 de setembro (TAMA, 2021).
Caso venha a ser instituída, a comissão terá de lidar com a análise de cenas como aquelas divulgadas pela revista New Yorker, em seu canal no YouTube. Gravadas pelo correspondente de guerra Luke Mogelson durante a invasão do Capitólio, as imagens mostram grupos predominantemente formados por homens brancos perguntando onde estão os membros do Congresso – sugerindo o intuito de captura-los – além de, meticulosamente, analisarem e fotografarem os documentos que deputados e senadores deixaram para trás em seus pódios, quando todos foram obrigados a abandonar os salões do Congresso por motivos de segurança (MOGELSON, 2021). Em uma das sequências do vídeo, um homem vestido com vestimenta militar (colete e capacete) e munido de algemas plásticas nas mãos, orienta os demais manifestantes a não sentarem nas cadeiras reservadas aos congressistas, como se o mesmo exercesse algum papel de liderança. O homem em questão foi posteriormente identificado como Larry Rendall Brock Jr., um tenente coronel aposentado da Força Aérea americana (FARROW, 2021). Larry Brock e Ashli Babbitt não foram os únicos militares presentes à invasão do Capitólio, no entanto, mais séria para as forças armadas dos EUA foi a presença na insurreição da Capitã Emily Rainey, uma oficial da ativa do Exército, especializada em operações psicológicas (voltadas para estratégias de comunicação e convencimento de massas) e sediada em Forte Bragg, na Carolina do Norte. Além de participar do ataque, Rainey ainda declarou ter levado 100 pessoas para a manifestação “Stop the Steal”, convocada pelo presidente Donald Trump.
A presença de militares nas fileiras dos manifestantes fez soar um alarme junto aos comandos militares americanos, em especial depois de se averiguar que 1 em cada 5 dos réus, acusados de participarem da invasão ao Congresso, possuíam experiência militar (DREISBACH & ANDERSON, 2021). Caso se arrisque fazer prognósticos, pode-se sugerir que o governo norte-americano, por meio de seu Departamento de Justiça, do FBI, e das Forças Armadas – as quais serão, pela primeira vez na história do país, comandadas por um homem negro, o general da reserva Lloyd Austin, nomeado Secretário de Defesa por Biden – irá voltar suas atenções para os movimentos domésticos de extrema-direita, com possíveis destaques para o movimento Boogaloo, os Proud Boys, as milícias e a Ku Klux Klan. Austin, por exemplo, já prometeu, em sua sabatina perante o Senado, combater o movimento de supremacia branca nas fileiras militares dos EUA (BOOKER, 2021).
No que concerne a possíveis investigações criminais, o novo Procurador Geral da Justiça do governo Biden, o ex-juíz Merrick Garland, pode vir a seguir na mesma direção. Por mais que Garland possuísse um perfil punitivista quando juíz – desinteressante para certos grupos de esquerda liberais – o mesmo se notabilizou por ter sido o promotor principal no caso que envolveu o atentado a bomba contra o prédio do governo federal, em Oklahoma City, em 1995, quando 168 pessoas foram mortas em uma explosão, planejada e executada pelo militante de extrema-direita, Timothy McVeigh, que veio a ser condenado e executado na câmara de gás, chegou a frequentar as reuniões iniciais da Milícia do Michigan, uma das mais famosas da década de 1990 (BOGEL-BURROUGHS, DEWAN & GRAY, 2020).
Desde a posse de Biden, o Departamento de Justiça e as forças policiais norte-americanas foram responsáveis por realizar centenas de prisões. Até o momento, mais de 300 pessoas foram acusadas judicialmente pela invasão do Capitólio, com a expectativa de que algo em torno de 500 processos venham a ser abertos (MACFARQUHAR, 2021). Os réus compõem um conjunto formado por uma diversificada gama de indivíduos ligados a movimentos de extrema-direita, como os Proud Boys (BBC, 2021). Algumas das pessoas foram indiciadas por conspiração, apontando para o fato de que a invasão foi pré-planejada, caso de Edward Caldwell, Donovan Crowl e Jessica Watkins, todos os três ligados à milícia Oathkeepers (SAVAGE, GOLDMAN & MACFARQUHAR, 2021). No entanto, a invasão do Capitólio, em parte insuflada pelo ex-presidente Trump, não representa necessariamente uma anomalia junto à história dos Estados Unidos da América, marcada, paradoxalmente, por movimentos e fenômenos políticos que, constantemente, representaram sérias ameaças à seu sistema de governo constitucional. Tanto governos republicanos quanto governos democratas foram responsáveis por desenvolver e implementar políticas públicas (por vezes ilegais em sua natureza) responsáveis por coibir o livre exercício da participação democrática na política, bem como por cercear a liberdade de expressão.
A década de 1960, por exemplo, viu o governo democrata do presidente Lyndon Johnson permitir que o FBI realizasse escutas telefônicas contra o líder dos direitos civis Martin Luther King (a qual teria sido pedida pelo então procurador-geral Robert Kennedy) (HORROCK, 1975), bem como operações de sabotagem clandestinas contra líderes do movimento negro. Seu sucessor, o republicano Richard Nixon, iria ampliar o sistema de vigilância eletrônica de opositores, chegando a investigar jornalistas críticos a seu governo (DAY, 2016), e personalidade públicas que lhe faziam oposição, como o compositor John Lennon (COHEN, 2006). Já no início do século XXI, sob a justificativa de conduzir uma Guerra contra o Terrorismo, o governo do Republicano George Bush implementou o Ato Patriótico – legislação que ampliou os poderes de vigilância do governo norte-americano – tendo sido sucedido pelo democrata Barack Obama. Se em um primeiro momento, Obama foi um crítico feroz das violações aos direitos civis e democráticas realizadas sob a justificativa da Guerra ao Terror, ele próprio pleitearia o desenvolvimento do programa Prism, o mais avançado projeto de espionagem eletrônica na história humana, voltado para o acúmulo de metadados dos celulares, perfis de redes sociais e aparelhos eletrônicos de milhões de pessoas ao redor do mundo. O Programa Prism só veio a público após ter sido revelado pelo delator Edward Snowden, em 2013. Além do programa Prism, que permitiu a espionagem de milhões de usuários de redes sociais e aparelhos de smartphone em diversos países (não se restringindo aos EUA), o governo Obama permitiu ainda que a NSA (National Security Agency) espionasse os e-mails e mensagens eletrônicas de chefes de Estado estrangeiros, como a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, e a então presidente do Brasil, Dilma Rousseff (G1, 2015).
Com relação à extrema-direita norte-americana, sua presença na política do país é muito mais longeva do que o fenômeno de milícias – como os Oathkeepers – poderia sugerir. A invasão de uma casa legislativa por uma multidão insurrecional já ocorrera antes na história dos EUA, mais precisamente em 1898, na cidade de Willmington, no estado da Carolina do Norte. Na ocasião, quando o município se encontrava às vésperas de dar posse a uma nova legislatura municipal, na qual receberiam assento vereadores negros (a primeira na história da cidade), um grupo de centenas de homens brancos, liderados por políticos do Partido Democrata – à época associado aos interesses do Sul escravagista, e bem distante de ser o partido político identificado com o movimento dos direitos civis – invadiram a câmara de vereadores e empossaram apenas os legisladores que lhes interessavam. A decisão nunca foi revertida, de forma que a insurreição de Wilmington é considerada o primeiro e único golpe de Estado bem-sucedido na história dos EUA como país independente (LAFRANCE, NEWKIRK II, 2017).
A extrema-direita, identificada com a supremacia branca, ainda se faria presente no curso do século XX, fosse através das ações da Ku Klux Klan, que em 1920 realizou uma marcha com 30 mil de seus membros nas ruas de Washington, ou do German-American Bund, uma sucursal do Partido Nazista alemão, atuante nos EUA durante a década de 1930. Em 1939, o Bund marcaria a história do país ao reservar o Madison Square Garden, o maior centro de convenções de Nova Iorque, para um evento nacional do movimento, reunindo 20 mil pessoas. Cenas da manifestação nazista do Madison Square Garden podem ser vistas no filme A Night at the Garden, indicado ao Oscar de melhor curta documentário, em 2017 (Link para o documentário no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=NC1MNGFHR58)
O que a invasão do Capitólio não representou, portanto, um evento necessariamente surprendente, mas sim a perigosa mescla entre um superpoderoso Executivo, dotado de poderes especiais, herdados de governos anteriores, ao menos desde a década de 1960, e uma crescente extrema-direita fortemente marcada pela presença de movimentos supremacistas branco.
Vale ressaltar que os efeitos da invasão do Capitólio ainda se fazem sentir, passados mais de dois meses da mesma. O Diretor do FBI, Christopher A. Wray, em depoimento concedido ao Senado norte-americano no dia 2 de Fevereiro, emitiu um alerta acerca da possibilidade de terrorismo doméstico – em especial aquele de conotação supremacista branca – estar em ascensão nos EUA. Para Wray, tal qual um câncer, o terrorismo doméstico estaria “se metastatizando ao redor do país” (GOLDMAN, 2021). Desde que ele assumiu a direção do Departamento Federal de Investigações, em 2017, Wray afirma que as investigações em torno de casos de terrorismo doméstico, cresceram ao número de duas mil. A ameaça representada por movimentos de extrema-direita, parece assim continuar a causar impacto no sistema político dos EUA. Um exemplo deste fato se deu na primeira semana de março de 2021, quando no dia 04, quinta-feira, a Câmara dos Deputados dos EUA suspendeu sua sessão ordinária. O motivo: a Polícia do Capitólio relatou que havia uma possibilidade real de uma nova invasão, promovida por uma “conhecida milícia” (KATKOV, 2021), ocorrer nessa data. A razão por trás disso se deveu, mais uma vez, à teoria da conspiração QAnon (SARDARIZADEH, 2021). Em fóruns online, nos quais a teoria conspiratória ainda exerce atração, alguns de seus seguidores começaram a conjecturar, nas últimas semanas, que Trump voltaria a assumir a presidência do país no dia 4 de Março, ao considerarem que, até a década de 1930, a posse dos presidentes dos Estados Unidos, dava-se nesta data. A prática de se empossar presidente eleitos na primeira semana de março foi alterada em parte graças ao apoio do presidente Franklin Roosevelt. Em 1933, pouco depois de assumir o cargo, Roosevelt ratificou a 20ª Emenda da Constituição do país, a qual alterava o dia da posse de 4 de Março para 20 de Janeiro. A mudança se deu pelo fato dele considerar que, em meio à Grande Depressão que assolava o mundo nos anos 30, a posse do chefe de Estado norte-americano deveria ocorrer em um tempo hábil, permitindo que o vencedor (fosse o próprio Roosevelt ou um opositor) pudesse assumir rapidamente o governo do país.
Apesar das prisões, e dos indícios de que o governo norte-americano passará a coibir mais rigidamente esses grupos, a crescente presença de movimentos extremistas e supremacistas brancos na política americana, que deixaram de agir às margens do sistema para participarem do mainstream, parece apontar para a centralidade que o tema das relações raciais passou a deter nos debates políticos do país, bem como para o protagonismo que o eleitorado negro viria a ter nas eleições de 2020.
O poder negro: nas ruas e nas urnas
Stacey Abrams, Keisha Lance Bottoms, Raphael Warnock, John Lewis, Jim Clyburn, George Floyd. É possível afirmar que, quase unanimemente, analistas e comentaristas políticos norte-americanos reconheceriam que estes foram alguns dos nomes mais relevantes para a política dos EUA no ano de 2020, tendo sido instrumentais tanto para a derrota de Donald Trump quanto para a vitória dos Democratas no Senado norte-americano, o que conferirá ao governo de Joe Biden pelo menos dois anos de controle do Legislativo federal. O que os une é o fato de todos serem afrodescendentes. George Perry Floyd Jr. (1973-2020), homem negro que trabalhava como segurança em um bar e restaurante, até perder o emprego devido à pandemia do novo Coronavírus, viria a se tornar uma das mais notórias vítimas de violência policial na história dos EUA depois que, no dia 25 de maio de 2020, ele foi morto por asfixia, após um policial – chamado por um atendente de uma loja, o qual alegou que Floyd lhe passara uma nota falsa de 20 dólares – permaneceu com o joelho em seu pescoço por 8 minutos e 26 segundos. O vídeo da execução de Floyd, realizada publicamente, em uma rua de Minneapolis (HILL, TIEFENTHÄLER, TRIEBERT, JORDAN, WILLLIS & STEIN, 2020) levaria à eclosão de protestos antirracistas, em larga medida organizados pelo movimento Black Lives Matter (BLM). O evento fez com que a questão racial passasse a ser uma das pautas centrais nas eleições presidenciais desse ano, especialmente diante da resposta de Donald Trump aos protestos: ao invés de assumir um tom apaziguador, o presidente dos EUA decidiu muitas vezes menosprezar e atacar os manifestantes, mobilizando a polícia em Washington para suprimir uma passeata pacífica, afim de que pudesse realizar uma sessão de fotos, com uma Bíblia na mão, em frente a uma das igrejas mais tradicionais da capital americana (BAKER, HABERMAN, ROGERS, KANNO-YOUNGS & BENNER, 2020).
No dia 17 de Julho de 2020, outra notícia viria a chocar a comunidade afrodescendente do país e sedimentar ainda mais as mobilizações negras: tratava-se do falecimento do deputado federal John Lewis, que representava o estado sulista da Geórgia desde 1987. Histórico militante a favor dos direitos civis, Lewis fora um dos organizadores da famosa Marcha em Washington, liderada por Martin Luther King, na qual King realizou seu seminal discurso a favor da igualdade racial, conhecido pela frase “Eu tenho um sonho” (“I have a dream”). No curso das décadas, Lewis se notabilizara como uma das principais vozes negras na política norte-americana, e sua morte, em meio às manifestações contra o racismo e durante a pandemia do novo Coronavírus, quando milhões de afrodescendentes viam-se afetados tanto pela doença quanto pelo desemprego, tornaria seu nome um dos mais frequentemente mencionados no curso da corrida eleitoral. A centralidade do tema racial na disputa faria com que a campanha de Joe Biden buscasse um nome negro e feminino para compor sua chapa. O próprio Biden já tinha percebido, em meio às primárias do Partido Democrata, o peso que o eleitorado afrodescendente viria a ter em sua campanha. No mês de Fevereiro de 2020, suas chances de ser escolhido como candidato democrata à presidência pareciam frustradas: Biden ficou em quarto lugar na primária de Iowa, e em quinto na de New Hampshire (as disputas que inciam o ciclo eleitoral norte-americano). Uma reviravolta ocorreu quando, na última semana de fevereiro, o deputado Jim Clyburn, da Carolina do Sul, terceiro mais importante líder da bancada democrata na Câmara dos Deputados, decidiu endossar Biden como seu candidato. Clyburn é uma importante liderança negra da Carolina do Sul, sendo influente entre eleitores afrodescendentes moderados e religiosos. Seu apoio – anunciado três dias antes das primárias democratas no estado – foi instrumental para incentivar eleitores negros a comparecerem às urnas e garantirem a sobrevivência da campanha Biden. O próprio candidato democrata disse, após o anúncio de sua vitória no estado: “Meu amigo Jim Clyburn, você me trouxe de volta” (COTTLE & STOCKTON, 2021). Quando os resultados da primária democrata da Carolina do Sul foram contabilizados, atestou-se que Biden conseguira obter 61% dos votos dos eleitores negros (WAGTENDONK, 2020).
Ainda que a escolha por Kamala Harris pareça lógica diante desse cenário, na realidade a mesma integrava uma lista na qual figuravam outras fortes candidatas. Entre elas os nomes de duas políticas negras do estado da Geórgia despontavam como favoritas: Stacey Abrams e Jeisha Lance Bottoms. Bottoms é prefeita da cidade de Atlanta, e obteve forte exposição midiática em 2020 pela forma diplomática como lidou com os protestos antirracistas em sua cidade e por ter adotado uma postura equilibrada no combate à pandemia. Já Stacey Abrams destaca-se pelo fato de ser a mais poderosa política negra sem mandato eletivo dos EUA, sendo creditada como a principal arquiteta da vitória de Joe Biden no estado da Geórgia (EPSTEIN & HERDON, 2021). Ex-líder da bancada democrata na assembleia estadual, Abrams concorreu ao cargo de governadora da Geórgia em 2018, numa campanha acirrada contra o candidato republicano Brian Kemp, que à época detinha o cargo de supervisor das eleições estaduais. O pleito de 2018, que redundou na derrota de Abrams, seria marcado por denúncias de tentativa de supressão do voto afrodescendente por meio de estratégias legais e burocráticas: pouca manutenção das condições de acesso às urnas eletrônicas em seções e distritos de maioria negra, o que levava à formação de longas filas no dia da eleição; a cassação do direito de votar de 85 mil eleitores registrados nos três meses que antecederam a eleição; e ampliação de exigências documentais que afetavam desproporcionalmente a comunidade afrodescendente, fazendo com que 53 mil pedidos de registro de eleitores ficassem pendentes, que ativistas em favor dos direitos civis afirmaram afetar, sobremaneira, minorias étnicas (SHAH, 2018). Abrams viria a perder aquela eleição por menos do que 55 mil votos (The New York Times, 2018).
Ao invés de se resignar com a derrota e simplesmente buscar concorrer a outro cargo, Abrams continuou a liderar mobilizações em favor do registro e mobilização de eleitores negros no estado, tendo fundado duas ONGs voltadas à defesa do direito ao voto e à arregimentação de eleitores negros na Geórgia, os quais eram habitualmente rechaçados por candidatos republicanos e ignorados por candidatos democratas. Tratam-se do New Georgia Project e do grupo Fair Fight. Ambos estão inseridos no que Abrams definiu como seu plano de, em um período dez anos – iniciado quando ela ainda se encontrava na assembleia estadual – transformar a Geórgia em um estado “azul” (a cor é associada nos EUA com o Partido Democrata) (EPSTEIN & HERDON, 2021).
O plano pareceu começar a render frutos em 2020, quando Joe Biden foi declarado o vencedor da Geórgia, carregando seus delegados para o Colégio Eleitoral. O feito não é pequeno, já que o estado, tradicionalmente republicano e conservador, não votava em um candidato do Partido Democrata desde 1992, quando conferiu a vitória a Bill Clinton – à época ex-governador do estado sulista do Arkansas. Porém, o plano de Abrams e a mobilização tanto do Partido Democrata quanto de ativistas negros redundou na segunda vitória do Partido no estado: diante de um cenário de segundo turno para as duas cadeiras reservadas à Geórgia no Senado Federal, em ambas os candidatos republicanos foram derrotados, num pleito que foi definido pela alta participação de eleitores negros e pela margem considerável destes a favor dos candidatos democratas (EVELYN, 2021). Segundo cálculos do jornal The Guardian, 93% dos eleitores negros do estado votaram nos candidatos democratas Raphael Warnock e Jon Ossoff (Idem). Em se tratando dos candidatos, a presença de um nome negro também atuou para que as eleições do Senado na Geórgia adquirissem caráter histórico. Raphael Warnock, um dos vencedores do pleito, sagrou-se como o primeiro afro-americano eleito para o Senado dos EUA por um estado do Sul. A relevância histórica do fato é ampliada quando se considera a biografia do novo senador. Conhecido pelo apelido de “o Reverendo”, Warnock é o pastor principal da Igreja Batista Ebenezer, de Atlanta, a qual teve Martin Luther King como um de seus pastores-chefes, entre 1960 e 1968, quando o mesmo foi assassinado. O outro senador eleito, o jornalista Jon Ossoff, também se destacou por ser o primeiro judeu eleito para o Senado norte-americano pelo estado da Geórgia. Para além deste feito, assegurado em larga medida pelo eleitorado negro do estado – que o candidato ganhou com uma margem de 92% (Idem) – Ossoff também possui ligação direta com o falecido deputado John Lewis: sua carreira pública iniciou-se ainda aos 16 anos, quando o agora senador escreveu uma carta para Lewis e conseguiu obter uma vaga como voluntário em seu escritório. A vitória de Warnock e Ossoff, confirmada no dia 06 de janeiro, representaria também a oficialização da hegemonia democrata no legislativo.
Por conta disso, a Geórgia passou a ser encarada como campo de batalha ideológico, especialmente pelo fato das eleições de 2020 terem contado com Donald Trump como candidato do Partido Republicano, voltando a realizar uma campanha calcada em discursos de caráter xenofóbico. Aos esforços de Stacey Abrams para registrar eleitores negros no estado e, assim, permitir que estes pudessem votar tanto para presidente quanto para senador, juntaram-se os esforços de LaTosha Brown, organizadora comunitária e fundadora do grupo Black Votes Matter, que juntamente com outras organizações de base negras, realizou campanhas para atingir centenas de milhares de residentes da Geórgia durante o segundo turno para o Senado (Idem). Possivelmente por esses fatores, não apenas práticos como também simbólicos, Donald Trump concentrou grande parte de seus esforços jurídicos e políticos para reverter a derrota nas eleições presidenciais sobre o estado da Geórgia. No domingo, dia 03 de janeiro de 2021, o Washington Post teve acesso à gravação de uma conversa telefônica entre Trump, alguns de seus advogados, o Secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger (responsável por supervisionar e gerir as eleições no estado), e o advogado deste, Ryan Germany. Na conversa, o presidente dos Estados Unidos tenta de todas as formas – por vezes suplicando, por vezes ameaçando – convencer os funcionários públicos do outro lado da linha a reverterem os resultados das urnas. Em determinado momento Trump fala na possibilidade de que os votos sejam “recalculados”, e chega a pedir, sem meias palavras, que os responsáveis por fiscalizarem fraudes eleitorais no estado sulista “achem 11 mil votos” – o equivalente à diferença numérica que garantiu a vitória de Biden. Neste momento do diálogo, Trump diz: “Então, o que vamos fazer aqui pessoal? Eu só preciso de 11 mil votos. Pessoal, eu preciso de 11 mil votos. Me quebrem esse galho” (no original: “So what are we going to do here, folks? I only need 11,000 votes. Fellas, I need 11,000 votes. Give me a break”) (GARDNER, 2021).
Mesmo após deixar o cargo de presidente, suas tentativas de interferência nos votos da Geórgia continuavam sendo objeto de investigação do jornalismo norte-americano, com revelações feitas pelo jornal The New York Times de que, poucas semanas antes de deixar a presidência, Trump teria elaborado um plano para demitir o Procurador Geral de Justiça interino dos EUA, Jeffrey A. Rosen, substituindo-o possivelmente pelo advogado Jeffrey Clark, que seria incumbido de investigar as eleições da Geórgia e reverter seus resultados (BENNER, 2021). E em 24 de Janeiro, o Wall Street Journal informou que Trump pretendia, ao substituir seu procurador de Justiça (cargo que, nos EUA, detém as prerrogativas também de Procurador Geral da República), pedir à Suprema Corte que invalidasse a eleição de Joe Biden. Jeffrey Clark, o candidato à vaga ministerial, foi um dos participantes da fatídica ligação telefônica divulgada no início de Janeiro pelo jornal Washington Post.
Juntamente com as vitórias eleitorais, o movimento negro também conquistou importantes marcos simbólicos e práticos durante o ano de 2020, em resposta às manifestações subsequentes à morte de George Floyd. Departamentos de polícia de diversos estados norte-americanos, como a Califórnia e o Texas, declararam o banimento dentre suas práticas e procedimentos do uso de estrangulamento como técnica de imobilização de suspeitos. O indiciamento e prisão dos policiais envolvidos na morte de George Floyd e de Breonna Taylor, mulher afrodescendente morta pela polícia no Kentucky em Março de 2020, sinalizaram para uma primeira mudança de atitude no que tange à violência policial no país. O prefeito de Nova Iorque, Bill de Blasio, anunciou, em Junho, que ele pretendia reduzir o orçamento da polícia, repassando parte de seus valores para programas sociais e de amparo à juventude (ANKEL, 2020).
Em termos representacionais, as mobilizações negras de 2020 também fizeram avançar a luta pela remoção de símbolos confederados de prédios públicos civis e militares nos EUA. Tal foi o caso da estátua de Jefferson Davis, presidente dos Estados Confederados sulistas durante a Guerra Civil americana, removida do Capitólio Estadual do Kentucky em Junho de 2020 (HANSEN, 2020), da estátua do general confederado Stonewall Jackson, na cidade de Richmond, Virgínia, ocorrida em Julho, e da estátua do vice-presidente dos EUA, falecido em 1850, John C. Calhoun, na cidade de Charleston, na Carolina do Sul (EBRAHIMJI, MOSHTAGHIAN & JOHNSON, 2020). Calhoun, além de ser um defensor do escravagismo, possuía 80 escravos.
Vale ressaltar que a essas estátuas se juntaram outras, espalhadas por diversos estados norte-americanos, dedicadas a militares e políticos dos confederados ou então a soldados desconhecidos dos estados sulistas. Muitos desses monumentos, antes de serem removidos pelas autoridades locais, foram objeto de protestos antirracistas realizados por movimentos negros, em meio às manifestações de rua que eclodiram nos EUA em 2020, como ocorreu com outra estátua de Jefferson Davis, derrubada por manifestantes em Richmond, Virgínia, no dia 10 de junho. Em resposta à ação dos manifestantes, o prefeito da cidade, Levar Stoney declarou: “Jefferson Davis foi um racista e traidor que abandonou nossa cidade enquanto suas tropas cumpriam ordens de queimá-la por completo. Ele nunca mereceu ser colocado em um pedestal” (Idem). O prefeito apenas pedia, em nome da segurança pública, que os manifestantes deixassem a prefeitura realizar a remoção. O episódio ganhava conotações simbolicamente profundas, em primeiro lugar, pelo fato de Richmond ter operado, durante a Guerra Civil, como a capital dos Estados Confederados, e em segundo pelo democrata Levar Stoney ser afrodescendente.
Mas talvez o mais representativo ato ocorrido nesse sentido tenha sido a aprovação por plebiscito, nas eleições de 2020, da mudança da bandeira do estado americano do Mississippi. Historicamente identificado pela presença da Ku Klux Klan (sociedade secreta racista e defensora da supremacia branca, responsável pelo linchamento e execução de afrodescendentes, surgida nos estados sulistas depois da Guerra Civil) em seu território, onde ela foi responsável, só em 1963, pela execução do ativista dos direitos civis Medgar Evers, e pelo sequestro e execução de outros três militantes[v], o estado do Mississippi possuía, desde 1894, em sua bandeira estadual, o emblema dos Estados Confederados do Sul. Duas outras tentativas de alterar a bandeira estadual haviam falhado nos anos anteriores: em 2001, a proposta de substituir a bandeira foi derrotada em plebiscito com 64% dos votos (Office of Mississippi Secretary os State, 2001), totalizando 480 mil votos contrários à proposta; e em 2015, apesar de 20 propostas legislativas para se mudar a bandeira – lançadas em resposta ao ataque a tiros realizado por um supremacista branco contra membros de uma igreja de maioria afro-americana em Charleston, na Virgínia – nenhuma conseguiu passar sequer da fase de debates em comitê (GRINBERG, 2016). Porém, em 2020, a alteração da bandeira foi aprovada em plebiscito, com 73% de votos, sendo mais de 900 mil votos favoráveis à proposta.
Não à toa, a intelectual, professora universitária e ativista Angela Davis, um dos mais destacados nomes da contracultura norte-americana do final da década de 1960, disse em entrevista ao portal Democracy Now!, em Junho de 2020: “Este é um momento extraordinário. Nunca experimentei nada parecido com as condições que vivemos atualmente, a conjuntura criada pela pandemia COVID-19 e o reconhecimento do racismo sistêmico que se tornou visível nessas condições por causa das mortes desproporcionais nas comunidades negra e latina. E este é um momento que eu não sei se eu esperava experimentar”[vi] (Democracy Now, 2020). Davis ressaltou em sua frase o fato de que os eventos de 2020 não se restringiam apenas à mobilização política da comunidade negra, abarcando também outras minorias étnicas nos EUA. Entre elas pode-se mencionar a crucial importância do eleitorado indígena norte-americano no pleito presidencial. Cálculos feitos pelo jornal New York Times, mostraram que, no estado do Arizona, Joe Biden conseguiu obter mais de 80% dos quase 55 mil votos da Nação Navajo, a maior nação indígena do estado, bem como da reserva Hopi, que compartilha distritos eleitorais com os Navajo. Esse apoio eleitoral representou uma melhora em relação aos números obtidos pela candidata Hillary Clinton, em 2016, com Biden obtendo 13.500 votos a mais nas reservas indígenas do que Clinton conseguiu quatro anos antes. Biden viria a ganhar o estado do Arizona – sendo o primeiro democrata a vencê-lo numa eleição presidencial desde 1996 – por 10.500 votos de diferença em relação ao candidato republicano Donald Trump (ASTOR, 2020).
A presença maior de nativos-americanos nos corredores do poder em Washington se viu reproduzida também no estado do Novo México. Todas as três cadeiras do estado na Câmara dos Deputados, foram preenchidas em 2020 por mulheres indígenas: Deb Haaland, do povo Kawaki (também chamado Laguna Pueblo); Sharice Davids, da nação Ho-Chunk; e Yvette Herrell, da nação Cherokee. Haaland faria história também ao ser indicada pelo presidente Joe Biden para a pasta do Ministério do Interior, responsável, entre outras funções, pela demarcação de terras indígenas no país. Crítica costumeira do presidente do Brasil Jair Bolsonaro, Haaland conseguiu, quando deputada, aprovar uma emenda ao orçamento da defesa americano afim de obrigar o governo de Donald Trump a produzir um relatório sobre direitos humanos no Brasil, tendo afirmado: “Queremos que os EUA aumentem o escrutínio em relação ao desrespeito aos direitos humanos no Brasil, especialmente nas violações contra indígenas e afro-brasileiros” (Folhapress, 2020).
A centralidade que minorias étnicas passariam a ter na configuração do mapa eleitoral norte-americano já era anunciada em 1984, quando Jesse Jackson, ativista político, ministro batista e candidato derrotado nas primárias do Partido Democrata daquele ano, pronunciou o seu famoso discurso “Davi e Golias”. Descrevendo o Partido Democrata como um Davi, que deveria encarar o gigantesco e poderoso Partido Republicano (à época encabeçado por Ronald Reagan), Jackson sugere que as “pedras” que o partido precisaria colher no chão, afim de derrotar seu oponente, seriam os votos das comunidades negras e latinas, que apesar de numericamente relevantes, eram ignorados ou desprezados pelos democratas: “Reagan ganhou 8 estados do Sul por 182 mil votos” – afirmou Jackson na ocasião – “quando haviam 3 milhões de negros não registrados para votar nos mesmos 8 estados. Pedras, apenas paradas no chão” (NowThis News, 2020). A possibilidade de uma redefinição do mapa eleitoral nos EUA, ganha contornos ainda mais definidos quando se percebe uma importante vitória legislativa obtida pelo distrito de Columbia (onde fica localizada a capital federal Washington), no mês de Junho de 2020. Existindo em uma espécie de limbo jurídico, o distrito, famoso por ser a sede do Capitólio, da Suprema Corte e da Casa Branca, e historicamente definido como uma cidade de ampla maioria negra, não é considerado um município de qualquer estado dos EUA, apesar de possuir uma população de mais de 700 mil pessoas – superior a do estado de Vermont. A luta para que o Distrito ganhe a condição de estado tornou-se, nos último anos, um dos grandes espectros a assombrar o Partido Republicano: caso o distrito de Colúmbia adquira a posição de estado, ele passaria a ter duas cadeiras no Senado do país, o que – considerando o histórico de forte presença do Partido Democrata junto ao eleitorado negro – anunciaria a possibilidade dos democratas manterem, por um longo período, uma potencial maioria no Senado norte-americano. Em meio às manifestações contrárias ao racismo, em Junho de 2020, a Câmara dos Deputados, de maioria democrata, aprovou o projeto de lei que transformaria o distrito de Colúmbia em um estado (COCHRANE, 2020).
A crescente importância do eleitorado afrodescendente, latino, indígena e asiático na definição dos resultados eleitorais nos Estados Unidos, somado ao crescimento da extrema-direita e dos movimentos de supremacia branca, que tentaram reverter os resultados da eleição no dia 06 de janeiro, enquanto fenômenos históricos, pareceram convergir, em seus efeitos políticos, discursivos e simbólicos, no dia 20 de janeiro, quando da posse de Joe Biden na presidência: durante a cerimônia, a vice-presidente, Kamala Harris, a primeira mulher negra e descendente de asiáticos da história dos EUA, foi escoltada para seu lugar no pódio – onde também viria a fazer o juramento do cargo – pelo policial Eugene Goodman, o mesmo oficial negro que garantiu a segurança do vice-presidente Mike Pence, e do salão do Senado, durante a invasão do Congresso, e que foi promovido ao cargo de vice-chefe da polícia do Capitólio. Goodman foi ainda indicado para o recebimento da medalha de Ouro do Congresso, a mais alta condecoração que um membro da polícia do Capitólio pode receber (COCHRANE, 2021) .
Conclusão
Juntamente com a convergência de processos de transformação histórica nos EUA, as eleições americanas e a subsequente invasão do Congresso viram também uma reação política conjunta até então inédita no século XXI. Diante da continuidade do ex- presidente Donald Trump em afirmar que havia ganho as eleições de 2020, Twitter, Facebook, Instagram e YouTube decidiram banir seus perfis (no caso do Twitter, rede social mais utilizada por Trump, a suspensão do ex-presidente norte-americano foi declarada como permanente), os quais o mandatário utilizava para manter um canal de comunicação direta com seus seguidores. Somado a isso, perfis associados à teoria da conspiração de que teria ocorrido fraude eleitoral no pleito de 2020, bem como aquelas associadas ao QAnon, também passaram a ser removidos pelo Facebook (NEEDLEMAN, 2021). Para além de ações localizadas, conduzidas por redes sociais, medidas mais amplas foram tomadas por empresas como Google, Apple e Amazon. Menos de quatro dias após a invasão do Congresso, a rede social Parler, conhecida como espaço preferencial de expressão da extrema-direita global, por se apresentar como um espaço de “livre expressão” – sem os regulamentos presentes em outras redes sociais, como o Facebook – e onde muitos dos invasores do Capitólio postaram vídeos do evento, foi removida das lojas de aplicativos do Google e da Apple. A Amazon se juntou às duas outras organizações, no esforço de coibir o site Parler, anunciando no sábado, dia 9 de Janeiro, que iria remover a empresa do seu serviço de web-hosting, fazendo com que o mesmo efetivamente desaparecesse da rede (NICAS & ALBA, 2021). No dia 21 de Janeiro, um juiz federal dos EUA recusou o pedido da Parler de obrigar a Amazon a colocar seu site de volta no ar (WEISE, 2021. A Parler busca nesse momento o apoio da empresa russa DDos-Guard, especializada em tráfico de internet, para tentar abrir uma nova página. Especialistas consultados pelo New York Times alertam que, se o Parler passar a ser mantido através de uma empresa localizada na Rússia, seus usuários poderiam ser vigiados pelo governo do país, o que é permitido por suas leis (NICAS, 2021).
Cabe questionar se a atitude tomada por empresas como o Google, anunciaria uma nova era de controle e regulação dos discursos de ódio nas redes, e mesmo se estaríamos testemunhando um período de reequilíbrio do bios midiático. Definido por Muniz Sodré como uma “nova esfera existencial” (Sodré, 2014, p. 112), o bios midiático seria um espaço constituído por novas tecnologias da informação, redes sociais, e organizações de comunicação eletrônica, em que os indivíduos se veriam levados a construir virtualmente suas subjetividades, identidades étnico-políticas e seu próprio agir comunicacional. Até o presente momento, o bios midiático teria operado (e levaria os indivíduos a operarem dentro de si) a partir de estratégias sensíveis, em um cenário comunicacional definido pela forte presença de estereótipos e discursos de ódio, amparados em visões de senso comum (Sodré, 2016). De fato, para além dos esforços auto regulatório inéditos, testemunhados desde a primeira semana de Janeiro nos EUA, junto a plataformas eletrônicas, republicanos e apoiadores do ex-presidente Donald Trump – tradicionalmente identificados com a defesa do livre mercado – passaram a criticar as empresa, como o procurador-geral do Texas, Ken Paxton, que pediu a abertura de uma investigação civil sobre cinco redes sociais, entre elas o Facebook e o Twitter (AGNEW & MENA, 2021). Enquanto isso, o jornal Washington Post atestou que, desde a suspensão do perfil de Donald Trump noTwitter, a plataforma teria visto uma queda de 73% na incidência de fake news em sua rede (DWOSKIN & TIMBERG, 2021).
Ainda persiste uma incógnita com relação a como os eventos que tomaram lugar nos Estados unidos nos últimos 12 meses poderão afetar o Brasil. Porém, é possível afirmar que, tanto o novo governo norte-americano, quanto os movimentos sociais que lhe apoiam, e garantiram a eleição de Joe Biden, não veem com bons olhos o atual governo brasileiro, no que concerne a questões humanitárias e políticas ambientais. Também seria muito cedo para contemplar se movimentos como o Black Lives Matter poderão ganhar força em território brasileiro. Mas, em um contexto de centralidade do papel da mídia eletrônica na definição dos discursos hegemônicos, cabe atestar que, já em 2020, houveram sinais de que os protestos norte-americanos contra o racismo e a violência policial ecoaram no Brasil, vendo-se reproduzidos na cidade do Rio de Janeiro. No dia 31 de Maio de 2020, uma manifestação denominada “Vidas Negras Importam”, protestou contra o racismo e a violência policial em frente ao palácio do governo estadual. O estopim para a mesma fora a morte do menino João Pedro, de 14 anos, morto a tiros pela polícia no Complexo do Salgueiro no dia 17 de Maio – 8 dias antes da morte de George Floyd (LISBOA, 2020).
A título de comparação, no que concerne à disseminação midiática no Brasil do movimento Black Lives Matter, vale a pena indicar que, um dos sinais de que o nome de Jair Bolsonaro, como candidato à presidência da República, ganhava tração nos anos que antecederam o pleito de 2018, podia ser atestado pelo uso de sua imagem – aparentemente espontâneo – em vídeos de festas de aniversário, postados por indivíduos anônimos, em diversas redes sociais. Caso de Marcos Emmanuel Ferreira Pontes, um jovem de 19 anos que, em 2016, fez uma festa de aniversário temática, dedicada ao então deputado federal, Jair Bolsonaro (FERNANDES, 2016). Nas paredes de sua casa, imagens editadas inseriam o rosto do então deputado federal no corpo de um desenho do Super-Homem. A tendência em fazer festas de aniversário com o tema “Jair Bolsonaro” parecia ganhar força em meio à campanha de 2018, quando era possível encontrar em sites de compras produtos como balões de festa com a frase “Bolsonaro Presidente”, além de kits de painel e display com o nome de Bolsonaro (RIGEL, 2018). As festas em questão pareciam atestar, se não necessariamente uma unânime popularidade do candidato, ao menos sua ampla presença em plataformas midiáticas.
Sintomaticamente, em 06 de Outubro de 2020, a jovem Luma Brito, moradora do bairro Ininga, na Zona Leste de Teresina, Piauí, resolveu celebrar seu aniversário de 12 anos com uma festa de tema “Vidas Negras Importam”. Nas paredes de sua casa, a decoração era feita por fotos de Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul, falecido em 2013, Barack Obama, Michelle Obama, e da jogadora brasileira de futebol, Marta. O bolo de aniversário, por sua vez, encontrava-se decorado com silhuetas de rostos e cabelos de mulheres negras. Em entrevista ao portal de notícias G1, Luma disse: “Como eu sou negra também, senti como se fosse um dever fazer essa festa para tentar conscientizar as pessoas. Comecei a pensar nesse tema na semana do meu aniversário. Acordei e me veio a inspiração” (MOURA, 2020). Para a mãe de Luma, Pollyanna Britto, a filha teria passado a acompanhar o movimento Black Lives Matter através das redes sociais e dos noticiários, principalmente após a suspensão das aulas escolares, em virtude da pandemia. Para a mãe de Luma, a atenção conferida pela filha ao movimento antirracista teria começado a produzir mudanças de visão e comportamento: “Ela acompanhou mais, foi se interessando, se aceitando e resolveu fazer diferente. Hoje, minha filha gosta de ter o cabelo cacheado” (Idem).
Os Estados Unidos da América parecem estar adentrando uma nova fase de sua história, marcada pela redefinição de relações raciais, políticas e midiáticas. Cabe observar, nos próximos meses e anos, de que forma o Ano Zero norte-americano influenciará o Brasil, porém, é possível pressupor que, como atestado pela presença midiática do Black Lives Matter no Brasil de 2020, os movimentos negros a favor dos direitos civis e contrários ao racismo ganharão força simbólica e tração política no país, sobretudo ao mirarem o impacto assumido pelos seus congêneres norte-americanos. Isso pode redundar em um debate mais profundo acerca da natureza das relações raciais brasileiras, potencialmente afetando questões como educação, política cultural e segurança pública. Além disso, é possível também atestar que um governo Biden, em parte sustentado no discurso ambientalista e favorável aos direitos humanos, poderá vir a exercer maior pressão econômica e política sobre o Brasil, em especial no que concerne ao desmatamento da Floresta Amazônica. Esta pressão com certeza não se fará de imediato, sobretudo em razão da continuidade da pandemia do novo coronavírus e da necessidade de o governo Biden focar em questões referentes à recuperação do crescimento econômico doméstico.
Porém, como as recentes ações dos EUA no palco internacional atestaram – caso do ataque realizado no Leste da Síria, contra grupos apoiados pelo Irã, realizado no dia 25 de Fevereiro, e o aumento da pressão política sobre a Arábia Saudita – o país voltará a buscar protagonismo mundial, valendo-se potencialmente de preocupações referentes ao aquecimento global e à defesa dos direitos humanos, para buscarem reestabelecer sua proeminência. Não se trata, portanto, de imaginar que o ano de 2020 produziu uma desconstrução total de todas as premissas políticas, nacionais e internacionais, nos EUA, mas sim perceber que este ano definiu um ponto de inflexão dos mais importantes na história deste país, consistindo em um momento de reconfiguração. Ainda que possam ser percebidas continuidades em diversos processos e fenômenos, 2020 correspondeu a um Ano Zero nos Estados Unidos, o qual poderá ressoar na forma de pressão econômica e diplomática sobre o Brasil, mas também como exemplo de caso, possivelmente inspirando novas vozes e agentes políticos brasileiros.
Vídeos:
“A Night at the Garden” (2017) – Direção: Marshall Curry
Link: https://www.youtube.com/watch?v=NC1MNGFHR58
“A Reporter’s Footage from Inside the Capitol Siege | The New Yorker” – Repórter: Luke Mogelson
Link: https://www.youtube.com/watch?v=270F8s5TEKY&t=194s
Referências
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Notas
[i] Caso do jornal italiano La Repubblica, que na capa de sua edição de 07 de janeiro de 2021 trouxe a manchete “Usa, um giorno da golpe” (07/01/2021), bem como da revista Foreign Policy, que em artigo intitulado “The Capitol Invasion was a Coup from Below”, debatia se a insurreição teria sido uma tentativa de golpe de Estado (Holmes, 2021). Acessado em: https://foreignpolicy.com/2021/01/13/capitol-invasion-live/
[ii] Como o exemplo de Robert Keith Parker, homem de 56 anos, que ao invadir o Capitólio, vestia uma camisa com as inscrição “Camp Awschwtiz – work brings freedom” (Campo Awschwitz – o trabalho liberta), referência à inscrição colocada sobre o portão de entrada do campo de extermínio nazista de Awschwitz (LI & WALTERS, 2021), onde mais de 1.1 milhão de pessoas foram mortas, entre elas 1 milhão de judeus (Museu do Holocausto dos EUA, 2015).
[iii] Extraído da transcrição completa do debate presidencial de 2016 (POLITICO, 2016). Acessado em: https://www.politico.com/story/2016/10/full-transcript-third-2016-presidential-debate-230063
[iv] O Cerco de Waco se tornaria um caso paradigmático para o fortalecimento do movimento das milícias nos EUA. Em 1993, um complexo residencial mantido pelo grupo cristão fundamentalista conhecido como Ramo Davidiano, foi alvo de uma operação policial malsucedida. Após uma tentativa de invasão do complexo, onde os membros do grupo se encontravam armados, as forças de segurança o mantiveram cercado por 51 dias, até que uma segunda tentativa de ocupação do complexo pelas forças de segurança levaria à eclosão de um incêndio, redundando na morte de 76 civis, entre eles 25 crianças.
[v] Os ativistas Andrew Goodman, James Earl Chaney e Michael Henry Schwerner, foram sequestrados e mortos pela Klan enquanto buscavam registrar eleitores negros no estado do Mississippi. O caso causou comoção nacional nos EUA, sendo conhecido como “Os assassinatos do Verão da Liberdade”.
[vi] No original: “This is an extraordinary moment. I have never experienced anything like the conditions we are currently experiencing, the conjuncture created by the COVID-19 pandemic and the recognition of the systemic racism that has been rendered visible under these conditions because of the disproportionate deaths in Black and Latinx communities. And this is a moment I don’t know whether I ever expected to experience.