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Crítica aos artigos de 18/08/2011 da Miriam Leitão: “Economia desacelera, mas não caminha para recessão” e “Crise econômica está por trás dos…”

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Crítica a dois artigos de hoje, 18/08/2011, da Miriam Leitão: “Economia desacelera, mas não caminha par a recessão” e “Crise econômica está por trás dos protestos na Espanha”

Vejam, acessem os artigos abaixo:

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http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2011/08/18/economia-desacelera-mas-nao-caminha-para-recessao-399481.asp

http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2011/08/18/crise-economica-esta-por-tras-dos-protestos-na-espanha-399471.asp

O que está errado nesses artigos? Ambos dão boas informações e informações objetivas corretas. Mas o erro, na minha perspectiva, está na idéia descrita no segundo de que “nenhum bom momento dura para sempre”, recado que, segundo a Miriam a Espanha com seu alto desemprego para jovens dá ao Brasil, depois de período de bonança quando entrou para a Zona do Euro. Assim como a idéia passada no primeiro texto de que a queda grave de atividade econômica demonstrada pelo índice IBC-BR em junho, com queda de 0,29% (indicativo de possível início de recessão) é “pontual” (será pontual se pararem de exigir aumento de juros Selic já mais que criminosamente demasiado para a relaidade nacional e mundial).

Vejam, as duas conclusões estão tratando as conseqüências como se fossem autônomas em relação às suas causas, o que dá a impressão de que são fatos surpreendentes e fortuitos, que aconteceram por acaso… que são fatos apresentados tão-somente pela economia brasileira que andava forte e agora teve um “ponto” de fraqueza e que o desemprego espanhol também foi algo fortuito e que pode acontecer conosco, ou seja, nossa maré de sorte pode mudar a qualquer momento e, pior de tudo, a conclusão e o clima que quer se instaurar de “controle de gasto público” e medidas contendoras de despesas como se nos preparássemos para um inverno rigoroso, que como se sabe, vem, independente do que o homem possa fazer, já que o clima ninguém controla.

Essa abordagem é mecânica. Essa abordagem é desinformativa. Essa abordagem é alienante do leitor em relação ao processo de causas e conseqüências dos fatos econômicos.

Na Espanha o desemprego não veio à toa. A “maré” não mudou por acaso. Foi um desastre construído. Nada estaria assim se não houvesse a crise dos subprime de 2008. A Espanha estava afogada em títulos subprime e quando a corrente quebrou nos EUA, veio bater pesadíssimo na Espanha. Portanto, não foi porque ela ganhou muito dinheiro quando entrou para a Zona do Euro e gastou exageradamente suas contas públicas.

Depois da crise, o Estado Espanhol teve de resgatar os bancos e a área privada, consequentemente ficou altamente endividado e não conseguiu ainda debelar os efeitos tóxicos dos títulos subprime podres que teve de comprar. Sua economia ainda não se recuperou mesmo com todo o dinheiro público investido nesse sentido e os jovens espanhóis sofrem e sofrerão por talvez 5 a dez anos, com toda a certeza. Não há novidade. Nem há que deste fato imaginar-se que com o Brasil pode ocorrer o mesmo. Nossas variantes são outras e devem ser consideradas autonomamente.

A abordagem da Miriam nesses artigos, portanto, são alienantes, ao meu ver. É claro que hoje estarmos bem não é garantia de que amanhã estaremos bem, mas o que conduz ao nosso mal não será o que conduziu a Espanha, pois não trabalhamos com subprime. Concordaria 100% com ela se ela desse o alerta no sentido (ela até alerta para que nosso consumo tenha controle) de indicar que as operações de empréstimos devem ter regras mais rígidas, assim como o controle das operações bancárias de crédito, mas para mim a abordagem foi mais genérica, e comparando genericamente o fato espanhol de desemprego de jovens com uma “ameaça futura e incerta ou inespecífica” quanto ao futuro do Brasil. Aí o erro. E aí vejo a preparação do terreno ou vitaminização do terreno argumentativo para o mantra do “controle de gastos públicos”, contenção de “inchaço público” e a ladainha irresponsável de sempre, desconsiderando nossa capacidade de arrecadação e a necessidade do povo brasileiro de melhora do serviço público.

O mesmo se diga do argumento sobre o índice do Banco Central que mede a atividade econômica, o IBC-BR, indicar para junho de 2011 queda na atividade de 0,29%. Por que é tão surpreendente? Como falamos aqui, as coisas não mudam de uma hora para outra… isso só ocorre nos jornais de grande circulação que apresentam abordagens populistas e vendáveis, de acordo com o seu interesse editorial.

Ora, se a inflação medida em março de 2011 chegou a 0,77% e em abril caiu para 0,45% e em maio marcou 0,15%, em junho idem e em julho 0,16% (ver p.s. 21/08/2011), sabendo todos que a partir de setembro o índice anual de inflação passaria a cair, não era de se esperar esfriamento da atividade econômica? A queda a 2/3 do INPC em um mês e depois outra queda pela metade no mês seguinte não indica arrefecimento de atividade?

Agora, para quem dizia que as famílias continuam comprando muito, mesmo endividadas, e que o aumento do tomate em 50% demonstra descontrole inflacionário e que o INPC cair mas o índice de serviços estar em 8% significa que a inflação engolirá o país.. aí, gente, para estes analistas o índice do IBC-BR de junho, indicando queda na atividade econômica, é surpreendente.

Como defendemos aqui, a continuidade de alta de juros Selic enquanto o índice mensal IPC caía foi um crime incentivado pela mídia. Pressionar por aumento de juros SELIC enquanto todos sabiam que as medidas macroprudenciais de contenção ao crédito somente demonstram efeitos em seis meses, foi um crime incentivado pela mídia. O relatório FOCUS, que é a média organizada pelo BACEN de estimativa inflacionária feita por 100 organizações privadas financeiras e de índices do mercado, indicando aumento de inflação enquanto o índice mensal caía francamente mês a mês, foi um crime e um estelionato nacional de Juros SELIC para os bancos.

Então, nós no Blog vínhamos alertando. Agora, o crescimento do Brasil para 2011 será abaixo da meta de 4,5% a 5%. Será de 3,94% se tudo for bem, apesar de Mantega alimentar expectativa de 4,5%. Isso é menos emprego para brasileiros.

Nós podemos ter vida autônoma e feliz e responsável, aumentado empregos e riqueza dos brasileiros, mas não será com uma mídia que só prepara terreno para crescimento exclusivo de lucro de banco. Lucro de banco e instituições financeiras com Selic não se coaduna com verdadeira governança de contas públicas nem com política industrial ou de melhora de prestação de serviço público. A visão de curto prazo de lucratividade de bancos está impedindo o Brasil de atingir suas potencialidades econômicas, o que, no longo prazo beneficiaria os próprios bancos.

Verdadeira governança de contas públicas não é meramente encerrar gastos públicos. Isso qualquer idiota pode fazer: juntar dinheiro. Governança de gastos públicos é igual a governança de investimento público e pressupõe ponderar receita tributária, fluxo de receita, verificação de necessidades de investimentos e compatibilidade entre investimento e receitas de forma a nunca dar conta negativa. Isso é gerência de gasto público com foco na melhoria do País para os seus habitantes.

E o pior é que, quando o erro do exagero na aplicação de juros Selic bater na economia, retirando empregos e prejudicando o crescimento, se o BACEN não mudar de postura de satisfazer as chantagens de mercado, quando a economia começar a realmente ser prejudicada, como já está sendo, com desindustrialização do Brasil, nesse momento o mesmo mercado que puxou o Brasil e o Governo para o fundo, apontará que o problema é do Governo. Apontará a “incompetência” do Governo Federal para gerenciar a economia e apoiará a oposição para as próximas eleições, com a “evidência” de maus números econômicas criadas pelo próprio mercado como pano de fundo de suas reivindicações!!

É isso o que vejo como pano de fundo desses dois artigos criticados: visão mecânica dos fatos, desconexão entre causas e conseqüências econômicas no Brasil e na Espanha e preparação retórica para a repetição do mantra genérico de “controle de gasto público”, sem ponderação de fluxo de receitas e das necessidades de investimento no serviço público prestado ao brasileiro e seus familiares.

p.s. 19/08/2011: texto revisto e ampliado

p.s. 21/08/2011: o índice inpc de 2011 é de 0,94 em janeiro, 0,54% em fevereiro, 0,66% em março. 0,72% em abril, 0,57% em maio, 0,22% em junho e 0,00% em julho. PAraconferir, acesse http://www.portalbrasil.net/inpc.htm

O índice IPC-A de 2011 é de 0,83% em janeiro, 0,80% em fevereiro, 0,79% em março, 0,77% em abril, 0,47% em maio, 0,15% em junho e 0,16% em julho. Observe que quando mencionei o evidente decréscimo inflacionário, me referi ao IPC-A, mas a partir de abril, o INPC indicou o mesmo. Para verificar o índice do IPC-A para 2011, acesse http://www.portalbrasil.net/ipca.htm

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