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Contra mapa eleitoral preconceituoso e sectarista

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Um fato que me chamou a atenção logo após a eleição foi a Globo mostrar um mapa, apresentado pela Mônica Waldvogel, em que os Estados que votaram em Serra eram azuis e os que votaram em Lula eram vermelhos e ela falou em tom que eu, pessoalmente, entendi como quase de constatação e lamento: “parece que esta configuração veio para ficar”, como se fossem dois blocos opostos consolidados.

Ficava claro que a informação passada pelo mapa eleitoral era a de que havia e passava a se cristalizar um conflito de interesses entre os Estados do Centro-oeste, Sul e Sudeste (menos o Rio de Janeiro), tratados em bloco como eleitores de Serra, e os Estados do Norte, Nordeste mais o Rio de Janeiro, tratados em bloco como eleitores de Dilma. Ora isso é uma grande besteira e como toda generalização, preconceituosa, além de não ser construtivo para o sentimento de cidadania brasileira.

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Alimentar sectarismos dentro da sociedade brasileira é um desserviço à Nação. E a informação ainda é falsa. Com certeza os eleitores em José Serra no Norte, Nordeste e Rio de Janeiro devem não ter se sentido representados pelo mapa eleitoral apresentado pela Globo. Suas opções, naquele mapa foram reduzidas a zero. Da mesma forma os eleitores de Dilma no Sudeste, Centro-oeste e Sul devem ter se sentido excluídos da “configuração (que) veio para ficar”.

Também é preconceituoso tentar defluir que deste “mapa eleitoral” pode ser constatado que os mais necessitados (pobres) se posicionam de um lado do Brasil e os autosuficientes e desenvolvidos (ricos) se posicionam de outro.

Observe: o Jornal da Globo publicou para o Rio de Janeiro a distribuição dos votos no Estado do Rio de Janeiro. Dilma ganhou no geral e em 52 cidades fluminenses, mas José Serra ganhou em 40 cidades do Estado do Rio de Janeiro, sendo muitos deles os mais pobres, como ocorreu no Município de Varre e Sai.

Se os “mais pobres” estão em bloco de um lado e os mais ricos estão em bloco do outro, como pode a cidade de Varre e Sai eleger majoritariamente Serra, o representante das elites, enquanto em Duque de Caxias, Nilópolis e Rio de Janeiro, as cidades mais ricas e mais educadas do Estado elegerem Dilma (parece que Niterói elegeu José Serra)?

Tenho certeza que isso aconteceu por todo o País. Não existe isso de pobre ou rico mais, gente, por favor. Isso só existe onde o País não apóia seus cidadãos, onde não há sentimento fortalecido de cidadania, onde não há igualdade de oportunidades e onde os cidadãos se sentem excluídos da sociedade. Isso é que não pode acontecer.

De resto, houve opção autônoma de cada cidadão brasileiro, de acordo com as informações a que teve acesso, o que na hipótese foi de péssima qualidade por culpa da campanha de Serra que baixou o nível e foi acompanhado pela grande mídia, atacando pessoalmente a candidata Dilma ao invés de discutirem projetos de governo.

Portanto, fica aqui meu desabafo e minha contundente posição contra esses “mapas” e informações sensacionalistas, sectaristas, simplistas que não contribuem para o debate político nem para o conhecimento nem para a análise do amadurecimento cívico nacional e muito menos para o fortalecimento da sensação de cidadania brasileira una.

A informação do Blog do José Roberto de Toledo, publicada no blog de Noblat é mais detalhada (http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/10/18/a-cor-do-voto-333383.asp), mas continua tratando das opções por percentuais entre ricos, educados, pobres, negros, brancos, etc… Podem fazer a descamação dos votos como quiserem, afinal tudo é informação; mas o que não podem é concluir e incentivar sectarismos na sociedade. Até porque percentual não é eleição em bloco. Como fica claro, se 79% da população de um bairro tradicional em São Paulo votou em Serra, 21% não votou. Será que eram só os pobres? Claro que não, pois em qualquer cidade a quantidade de cidadãos com menos posses é maior dos que com mais posses. A mentalidade é de toda a população do bairro ou que vota no bairro.

E se entre os mais educados 52% ficaram com Serra e 48% ficaram com Dilma, isso não quer dizer que os mais educados, em bloco, votaram em Dilma, apesar de esta ser a informação que se passa e se enaltece pela mídia. Significa somente que, dos brasileiros mais educados, 52% votaram em Serra e 48% votaram em Dilma. Todos brasileiros, com convicções próprias e que não podem ter seus votos e escolhas diminuídos pela maioria do grupo que integra em uma avaliação estatística.

Meu pedido é esse, não deixem essa idéia sectária e dicotômica de que pobres votaram em Dilma e ricos votaram em Serra, ou que os Estados ricos (menos o Rio de Janeiro) votaram em Serra e os Estados pobres mais o Rio de Janeiro votaram em Dilma. Não há blocos no Brasil, há múltiplas convicções e escolhas autônomas que, no fim, elegeram o nosso atual Presidente da República para governar todo o País e os nossos futuros em conjunto, sempre fiscalizados por nós, através do Legislativo, do Judiciário e mesmo pessoalmente, se, quando e como for necessário. O País é de todos e de cada um de nós, brasileiros.

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