Sim, o índice de março de 2014 foi bem ruim: 0,92%. E vem em uma sequência de altas desde janeiro de 2014 (0,55%), passando por fevereiro (0,69%). Isso é ruim e precisa de medidas. (veja esses índices em http://br.advfn.com/indicadores/ipca/2014)
Mas antes de se tomar as medidas é preciso saber as causas do aumento da inflação. Pouco estão comentando sobre as causas, percebam. Somente é descrito que a inflação sobe e que isso é “consequência da incompetência do governo”.. é claro que a grande mídia não publica isso isso superficial dessa maneira por causa da proximidade das eleições.. (rsrsrs)
A verdade, senhores é que aliado ao natural pique inflacionário que ocorre todo início de ano, está havendo um problema na oferta de alimentos e, como sempre, problema de alimentos bate forte na inflação. Carne e leite subiram demais. batata e tomate subiram mais de 35% cada. Tarifas de ônibus também aumentaram em alguns casos quase 10%. E agora a liberação de correção de energia elétrica, que em alguns casos passará de 15%! Justo.
Ninguém informou ainda os números exatos, mas já foi admitido que o impacto da inflação dos alimentos é grande. E a questão da estiagem pelo país é evidente até da análise do nível dos reservatórios de hidrelétricas. Em São Paulo o sistema Cantareira está com 13% de seu nível!!
Então, vejam… problemas de inflação por seca, falta de chuva, clima não dá pra controlar por juros básicos!!! O dólar estar baixando é uma evidência de que há atração de dólar para o País, seja em investimento direto, seja para ações e processos de fusões porque as empresas ficaram baratas, seja para investimento em títulos da dívida brasileria que estão astronomicamente altos. Então, o juros está alto.
O que pode influenciar mais imediatamente então sobre a inflação? A importação de alimentos, sem prejudicar o equilíbrio financeiro de nossos produtores. No ano retrasado em que houve um grande pique inflacionário por conta de problemas de safra no Brasil, EUA e outros países produtores e veriificou-se que enquanto o tomate aqui subiu mais de 60% (quando houve o movimento para não comprar tomate), a Argentina possuía tomates por um terço do preço e não importamos. Por quê? Prejudicaria o produtor brasileiro… mas, não importando tomate, prejudica o consumidor e a inflação… então tem que haver um mecanismo de regulação de estoques agrícolas para tentar aliviar esse impacto, pois problemas climáticos são incontroláveis.
Deve haver eficiente sistema de controle de choques de (falta de) oferta. Isso poderia aliviar a pressão para que o BACEN aumente juros básicos a cada seca e entressafra.
A médio prazo, até o fim do ano, o aumento da produção de petróleo em um milhõa de barris diários pode melhorar a balança comercial e trazer mais dólares ao país, mantendo o valor do dólar medianamente mais baixo do que iniciou no ano, tendo impacto positivo para a baixa de inflação. Mas a estiagem prejudica duplamente a inflação: obriga a continuidade de uso de termelétricas para compensar a energia elétrica mais barata que poderia estar sendo gerada pelas hidrelétricas, o que surtirá efeito inflacionário, e ainda prejudica safra agrícola, bem como a produção de leite e carne, gerando aumento desses produtos.
O pior é que para este tipo de problema que pode vir a ocorrer mais vezes ante o aquecimento global, parece não haver uma política definida, e nem exigida pela sociedade ou pela grande mídia, o que nos deixa, neste quesito, à mercê do tempo. Talvez a falta de cobrança de política nesta área derive do fato de que esse descontrole é um bom negócio para muitos envolvidos: com estiagem, os preços dos agrícolas vão às alturas, valoriza sacas e sacas de produtos ao menos para quem não perdeu sua produção, o que é o caso dos produtores mais ricos que podem investir na manutenção de sua lavoura e outras criações; para o mercado financeiro gera a especulação com o preço das commodities, o que movimenta centenas de bilhões de dólares, e, consequentemente, em comissões no mercado financeiro; e o impacto sobre o índice da inflação gera ótimas manchetes… só quem se prejudica é o governo e o povo… mas mais certamente o povo, porque o governo, a cada problema, pode vender a idéia de adoção de medidas pontuais, que serão publicadas em jornais, fazendo propagando de que algo faz ou de que é diligente… quem sabe? Mas o papel que faz é de omisso e desorganizado.
Finalizando, apesar de previsões de (quase) ultrapassagem da meta inflacionaria (acima de 6,5%), não parece vir a ser esse o caso. O fim do ano está longe. Chuvas (espera-se) e petróleo ocorrerão. Petróleo em quantidade e juros altos mais investimentos estrangeiros, ainda mais no ano da Copa, também atraem dólares que, mantido baixo, pode controlar a inflação. A própria Copa gera gastos que geram inflação. Mas a Copa passará e o segundo semestre é clássico em apresentar arrefecimento inflacionário.
Vamos aguardar. De fora também não há grandes pressões inflacionárias à vista com Europa estagnada, baixo crescimento dos EUA e arrefecimento do crescimento da China. O percentual de do IPCA de abril será importante, mas ainda será pressionado por todos esses elementos já comentados. Situação complicada, mas que exige medidas contra choque de oferta (abrir importação, aumentar investimento) e não de demanda (aumentar juros básicos já altos).
p.s.: Observe que o Presidente do Banco Central explica o problema da alta da inflação como fato do problema da inflação de alimentos e espera a baixa da inflação… acesse: http://oglobo.globo.com/economia/tombini-diz-que-alta-de-alimentos-nao-surpreendeu-inflacao-vai-recuar-garante-12153487
p.s. de 11/04/2014 – É muito importante notar a informação de Tombini a respeito da inflação de março: 70% do índice de 0,92% se deveu ao aumento de alimentos (incontrolável) e passagens de aviões (pressão da Copa – aumento de 26% em março). Veja suas palavras no artigo “BC pode continuar a elevar os juros, indica ata do Copom”, pg. 26, do Jornal O Globo de 11/04/2014: “O IPCA de março veio alto, dois itens, alimentos e passagens aéreas, compuseram mais de 70% do número, neste aspecto não surpreendeu.”
Ele deu outro dado importantíssimo que esse Blog ainda não detinha neste grau de especificidade: o grupo alimentos compõe 25% do índice do IPCA, mas esta participação pode chegar a 40% “se computados todos os itens indiretamente relacionados à alimentação”, segundo o mesmo artigo.
Então, como nós dissemos ontem a vocês, a sucessão de índices altos é grave, pois foram três meses e ascendentes, mas o perfil da evolução da inflação não parece ser esta pra frente, apesar de já se cogitar de que maio também virá ruim. Muito dólar entrará em investimento direto, petróleo, concessões…e o dólar já está a 2,20, tendo passado de 2,50 no início do ano. Safra recorde também chegará às mesas por agora. Então, não há que se aumentar juros nenhum!!!