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A Standardização da Análise Econômica a partir da ilusória justificativa da movimentação das Bolsas de Valores no Brasil e no Mundo

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Acompanho o mercado econômico e bursátil há pelo menos 20 anos. Sou formado em Ciências Sociais e Jurídicas pela UFRJ, currículo dentre cujas matérias está a de Economia (Macro e Micro), e cursei cinco cursos na antiga BVRJ (Bolsa de Valores do Rio de Janeiro: Introdução ao Mercado de Capitais – O que é Mercado de Ações; Introdução à Análise de Investimentos; Análise Fundamentalista e Seleção de Carteira, Introdução à Análise Gráfica e Matemática Financeira Aplicada ao Mercado de Capitais); além de seminários e palestras sobre o tema que muito me interessa e que me obrigou a ler alguns livros sobre o tema.

Vocês sabem qual é o maior engôdo da grande mídia na área de Economia, na minha opinião? É explicar a macroeconomia a partir da movimentação da Bolsa de Valores no Brasil e/ou no exterior. É brincadeira quando há queda substancial da Bolsa de Valores e os jornais elencam um grande evento econômico que justifica isso. O mesmo acontece para uma grande alta. É óbvio que eventos importantes econômicos podem ter efeito sobre a Bolsa de Valores e têm, mas o argumento fácil, a fácil percepção do leitor leigo sobre o assunto através de uma análise superficial dessa tem apelo. Tem apelo porque dá a falsa sensação ao leitor de que está entendendo algo que de outra forma não entenderia. Passa a sensação de credibilidade do jornalista que escreve, pois está apresentando algo lógico e de fácil compreensão. E assim segue a situação comunicativa: os jornalistas fingem que informam e os leitores acham que estão informados.

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Mas isso gera uma situação muito diferenciada: o leitor acha que está informado e compra o jornal no objetivo de se informar, de boa-fé. E o jornal vende notícia simples e pouco informativa, naturalmente sabendo dessa falha informativa e ainda cria a expectativa de passar boa informação a qual pode ficar sendo manipulada cotidianamente para vender o próximo jornal.

Veja um exemplo: A queda da nota da dívida soberana norte-americana de “AAA” para “AAA-“, pela Standard & Poors (S&P). Naturalmente isso tem impacto na perspectiva de mercados e do mercado bursátil em todo o mundo. Naturalmente houve uma queda daas Bolsas em todo o mundo, até por uma imediata paralisação de negócios no sentido de rever estratégias de investimento. Mas a mídia passou a vender que toda a economia mundial estava pessimista e tendente ao quase colapso a partir desta informação.

Passou-se, nesse dia, a considerar todos os problemas negativos que afetam a economia criando uma imagem totalmente distorcida da realidade, somente para apresentar um mundo compreensível e com informações que se justificam até mesmo pela simples constatação de que as Bolsas de Valores caíram.

Esse movimento de se padronizar avaliações macroeconômicas a partir das oscilações das Bolsas de Valores é um absurdo, gera desinformação, é mentiroso, mas gera pânico e necessidade de informação que pretensamente será vendida pelos jornais naquele dia e nos dias seguintes. Esse é um clássico padrão desinformativo utilizado pela Mídia para enganar os leitores e induzi-los à compra de notícia tanto quanto para enaltecer informações que sejam interessantes para a edição do jornal e para seus maiores clientes, o que no caso de nossa grande mídia no Brasil significa instituições financeiras e o PSDB.

Quem lê o Jornal O Globo e lê o Jornal do Commercio, como eu, nesta semana tem a impressão de estar lendo sobre dois países diferentes, com administração pública diferente e com situação fiscal e macroeconômica diferentes.

Não é possível explicar a economia por movimentação em Bolsas de Valores porque as movimentações em Bolsas de Valores oscilam diante de milhões de decisões de negócios que consideram interesses pessoais dos investidores, situações específicas de cada setor econômico em que cada empresa com ações em Bolsas se encontra, situações específicas de cada empresa, seja a partir de análise fundamentalista ou gráfica (métodos totalmente distintos), além de, aí sim, também em função da macroeconomia nacional, estrangeira e global.

Portanto, o fato de os EUA terem perdido perspectiva positiva de sua dívida não lança por si só trevas sobre a economia mundial. Nada mudou. A alteração, inclusive, veio com atraso de uns dez anos, período em que a dívida interna americana só subiu e o déficit gêmeo (fiscal e de balanço de pagamentos) só piorou.

A situação econômica mundial está melhor do que no ano passado. Ponto. E está melhorando. A inflação mundial se dá porque os bancos Centrais dos Países Ricos estão praticando juros negativos e injetaram trilhões de dólares em suas economias. Houve problemas climáticos que prejudicaram a safra mundial no ano de 2010 e houve prejuízo na expectativa de fornecimento do petróleo com os problemas no Oriente Médio.

Só que hoje as piores previsões estão sendo afastadas, pois os EUA e a Europa debelaram o grosso da crise econômica de 2008/2010, os motores dessas economias estão com crescimento do PIB, inflação dentro de controle, voltaram a gerar empregos e, inclusive, todos já se preparam para subir juros básicos da economia. A Arábia Saudita aumentou fornecimento de petróleo e agora já sugere que baixará produção pois a demanda e fornecimento estão regularizados.

No Brasil, a previsão de safra de soja é recorde, outros plantios também estão bem, as famílias estão endividadas (61% das famílias brasileiras) e petróleo não nos falta (apesar de pelo aumento do álcool combustível estarmos importando gasolina). O Banco Central está tomando medidas para conter inflação e o governo cortou previsão de gastos no valor de 50 bilhões de reais. É claro que os banco brasileiros captaram 25 bilhões de dólares a juros baixos no exterior para emprestar a juros altos aqui, o que anula o esforço do governo, mas isso não é publicado suficientemente.

Chamo a atenção para como a mídia brinca com a informação e com a sua expectativa. Mas tudo isso tem um motivo: além de vender jornal, cultivando o pânico e o pessimismo em você, também serve para atacar os “gastos excessivos do governo” e para “aumentar juros”, mesmo que aumente a dívida interna brasileira, desempregue brasileiros, faça cair mais ainda o dólar, gerando desindustrialização brasileira, porque isso interessa aos bancos e à visão de Estado Mínimo, independente de se isso é correto, justo ou informativo.

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