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Mantega: 1. Mercado: 1. BACEN: 0,25.

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O mercado financeiro marca mais este ponto a favor dos banqueiros, contra o endividamento público e contra a normalidade econômica brasileira em relação ao mundo.

O Banco Central, que vinha resistindo bem à pressão altista de juros, cedeu e entregou mais 0,25% de juros, somando uma remuneração ao mercado de 12,25%. Com a previsão de que a inflação feche o ano a 6%, tratam-se de 6,25% de juros reais!!

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O Brasil é o paraíso dos juros fiscais mundiais e consolida-se à frente de todos!! O único país no mundo que paga mais juros do que o Brasil é a Venezuela!! Mas lá a inflação real já passa de 20% ao ano.

Mesmo com queda inflacionária evidente e consistente, com o IGP-DI a 0,01%, com IPCA de maio em 0,47%, muito inferior do que o mercado esperava e muito inferior ao anterior de 0,77%, ou seja com evidente demonstração de arrefecimento econômico, o Banco Central e Tombini cederam mais juros. Mesmo com o dólar em queda por excesso de atratividade econômica e financeira, o Banco Central cedeu e aumentou o juros básico. Mesmo com o indicador de que 61% das famílias brasileiras estão endividadas, mesmo com a queda de venda de carros de passeio à razão de 25% nos últimos dois meses, mesmo com o arrefecimento dos preços de imóveis, com aumento de safra, com indicadores de que a economia mundial arrefece… mesmo com todos esses indicadores, o Banco Central cedeu mais juros ao mercado.

Mesmo com a possibilidade de aumentar as medidas macroprudenciais, que não têm impacto no endividamento público, restringindo, como restringiu, eficazmente o crédito e controlando a inflação de demanda, o Banco Central cedeu mais juros ao mercado. Esse era o momento clássico em que o mercado financeiro entenderia o não aumento, para observação da economia, mas Tombini e o Copom desperdiçaram esse momento.

Fico estarrecido com esta postura do BACEN e não me contento com a idéia de que “aumentamos um pouco mais agora para não ter de aumentar muito mais depois”. O mercado já tinha ficado descoberto em suas apostas e pressões contra a inflação. Já tinha ficado evidente que as previsões altistas não tinham fundamento na economia nacional e na internacional, mas o Bacen e Tombini não resistiram ao mercado.

Muito triste. E agora, só me vem à cabeça a frase de Brizola: “os salões do poder são muito, muito sedutores”.

Parabéns Tombini! Está garantido o seu passaporte para o setor privado. Seu serviço ao Mercado Financeiro foi ótimo, às custa do País. Espero que possa dormir bem. É claro que dormirá! Mas antes o seu espaço também estava garantido, mas com dignidade e pela porta da frente, inclusive na condição de muralha da defesa dos interesses reais do País. Agora, é isso.

Nós, com uma das melhores, senão a melhor, economia do mundo atual, com juros somente inferiores à Venezuela!! Com atratividade por condições econômicas de longo prazo, ou seja, com garantia de fluxo cambial favorável para o Brasil, e aumentando o apetite mundial por envio de dólares ao Brasil por praticar as mais altas taxas de juros reais do mundo. Mais alto do que de todos os países africanos pobres e asiáticos pobres. Mais alto do que os juros reais pagos pela Bolívia, Honduras e Suriname. É ridículo.

Eu esperava algo diferente de um Presidente do BACEN que é funcionário de carreira, servidor público. Mas, é isso. Demoramos 16 anos para sair de 25% para chegar a 8%, e agora voltamos a 12,25%, sem motivo. No Brasil não é possível termos juros compatíveis com nossa economia. O lobby financeiro e sua infiltração na imprensa eficiente brasileira é grande demais para isso.

Mantega já tinha feito um ponto, quando demonstrou meses antes de a inflação ceder, que o rumo econômico e de tendência inflacionária estava correto e sob controle, apontando a desnecessidade de choque de juros. George Vidor concordou. Delfim Neto, idem. Medidas macroprudenciais seriam mais adequadas já que os juros brasileiros já eram altos, enquanto Europa, EUA e Japão praticam juros negativos. Tombini ia nessa direção,… mas agora talvez não seja mais assim.

Espero ansiosamente a próxima reunião do Copom, daqui a 45 dias. Vamos ver se nossos economistas do Copom, incluindo Tombini, conseguem mais reconhecimento do mercado eufórico e satisfeito, às custas do País, ou se retomarão a posição incômoda, porém necessária e nobre, de defesa dos interesses realmente brasileiros.

No aguardo.

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