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Brasil e o Acordo de Livre Comércio EUA-União Européia

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Interessante o programa da Miriam Leitão hoje de manhã, na GloboNews. Não tinha ninguém do Itamaraty para explicar a política de alianças comerciais brasileiras, mas mesmo os representantes da área privada presentes, ávidos de que o Brasil participasse de alguma forma do Acordo EUA-União Européia admitiram algumas coisas interessantes: (a) acordos com a Europa não saem também por intransigência deles em não abrir mercados principalmente de agrícolas e commodities para o Brasil, no que somos fortes; (b) um grande problema de competitividade do Brasil para aproveitar eventual acordo com EUA e Europa para venda de manufaturados só seria possível com mais ferrovias, portos, aeroportos e reforma tributária, para dar mais competitividade a nossos produtos; (c) o Brasil se acostumou a vender para o mercado interno, e o País cria barreiras para uma abertura incentivando isso ao mesmo passo em que as indústrias nacionais não investem em inovação, perdendo competitividade frente a semi-faturados e manufaturados europeus e americanos; (d) o pacto do Nafta admite que os países façam acordos bilaterias independentemente e o do Mercosul não; e (e) estamos vendo “o barco passar”, perdendo mercado para a China na Argentina, em risco de vender agrícolas para Europa caso o acordo EUA-Europa saia e nós não participemos de alguma forma e que o Itamaraty não está dando atenção urgente e “afobada” ao caso como deveria ser.

Senhores, o caso é importante, mas primeiro eu diria que a atuação do Itamaraty nos últimos dez anos, fazendo acordos Sul-Sul, mantendo o Mercosul, estreitando laços com o Oriente, China, Índia e Rússia, duplicou ou mais do que isso o nosso comércio, desde a época de FHC. A meta de FHC era chegar a R$100 bilhões de dólares de transações em seus oito anos o que foi alcançado, fechando 2002 em 107 bilhões de dólares nosso intercâmbio (exportações mais importações – veja http://www.brasilglobalnet.gov.br/ARQUIVOS/IndicadoresEconomicos/ComExtBrasileiroABR2012.pdf), mas hoje nosso volume no ano de 2011 já estava em 422 bilhões de dólares. Houve crescimento em participação no mercado mundial e houve crescimento mesmo nos anos de crise internacional. Portanto, primeiro acho que se deveria respeitar o trabalho do Itamaraty.

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Isto posto, devo mencionar que a preocupação em nos posicionarmos em relação a este acordo EUA-UE é importante, mas não adianta querermos simplesmente participar de acordo comercial entre EUA-UE, porque é um acordo entre eles e não nós. Não adianta querer entrar na conversa do vizinho. E não adianta ficar triste porque não te chamaram.

EUA, Europa e Japão desde o fim da segunda guerra constituem a institucionalizada Trilateral. Têm interesses em comum, têm interesse em se aproximarem, têm interesse em aprofundarem laços comerciais, políticos e econômicos e a OTAN é o mais visível exemplo disso, além de triolhões de dólares de suas economias que circulam exclusivamente neste cinturão de riqueza!!

É patético observar a mídia apoiando que o Brasil “entre” ou “se mexa” por conta do fato de que União Européia e EUA estejam querendo fazer acordo. Ridículo porque não considera que que o que eles têm entre si não é comparável em relação ao que temos com eles. A mídia também diz que Chile e Peru estão entrando neste acordo, mas esses países não têm as indústrias que temos e nem os serviços bancários e de toda natureza que temos. É fácil para eles admitirem por exemplo abrir completamente serviços bancários, participação em licitações públicas e em tudo o mais, porque não há essa indústria que proveja esses serviços a contento e em quantidade no Peru e Chile. No Brasil isso é diferente.

Nós temos muito a perder abrindo nossa economia, ainda mais sem que eles abram a deles em troca do que abriremos a eles. Eles não abrem o setor agrícola americano e europeu ao Brasil porque senão nós invadiremos e ganharemos o mercado lá, pois somos mais competitivos do que eles nesse setor. Neste e de minério de ferro e outras commodities. Mas eles querem que abramos os setores de manufaturados, licitações públicas de obras e serviços, e semi-manufaturados e de serviços financeiros dentre outros, ou seja, naquilo em que eles são mais fortes do que nós e em que ganharão mercado aqui, falindo empresas brasileiras que dão empregos a brasileiros, arrecadação no Brasil.. é justo? É interessante?

Os debatedores informaram que não somos muito competitivos em amplos setores da área privada, exceto commodities e agrícolas, e que essa competitividade depende de mais ferrovias, portos, rodovias, hidrovias e reforma tributária… pergunto, se não temos nada disso e se isso vai demorar para termos, çquanbdo só então seremos competitivos, para quê abrir mercado brasileiro em setores que não poderão competir com os estrangeiros e quebrarão se nem ao menos teremos a contrapartida de fazer o mesmo com eles nas áreas em que somos fortes e eles fracos? Não vejo sentido nessa urgência em participar de algo a que não nos chamam e do que só podemos participar se aceitarmos entrar em condições desvantajosas.

Vejo que a resposta do Brasil deve ser melhorar o Mercosul, não sei se dando a liberdade de negociação de acordo bilateral (o que me parece que ruiria com um importante interesse da constituição do próprio bloco), e realizar mais acordos Sul-Sul, eis que projeções econômicas indicam que em 2050 os emergentes podem ter metade do PIB mundial!! Ou seja, realizando acordos com estes países, em condições mais igualitárias, estaremos nos posicionando previamente em relação a um grande percentual do PIB mundial e mais concentrado do que existe hoje no Eixo trilateral EUA-EUROPA-JAPÃO.

Depois, ou quando estivermos fortes, com ferrovias, hodrovias, reforma tributária (não feita por FHC também), e formos competitivos nos setores que EUA e Europa querem que abramos, aí sim poderemos abri-los à competição, pois somnete aí haverá competição. Antes disso, abrir mercados a estrangeiros para participar de grupinhos não me parece vantajoso, mas me parece um risco ao emprego e à arrecadação braileiros.

Para quem é a favor de mero e puro livre mercado eu entendo… mas se EUA e Europa são realmente a favor de livre mercado, por que não abrem os deles a nossos produtos agrícolas e nossas commodities?

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