Eu sei, eu sei.. demorei muito a responder a este artigo semi-mentiroso do Globo. Desculpem, mas é muita coisa que saiu de matéria importante e me criou problema para enfrentá-los a todos rapidamente. Mas vocês não acharam que ficaria sem a devida crítica tal artigo, não é mesmo? Bom, lá vai.
Primeiramente gostaria de dizer que este artigo foi o primeiro que eu me lembre que o Globo fez o que nunca havia feito e que este Blog sempre questionou e exigiu tal informação: apontou onde ele acha que há inchaço da máquina pública. Só de ter iniciado a fazer isso o BLOG PERSPECTIVA CRÍTICA aplaude. Isto é informar e não semear mentiras genéricas para que, repetidas, virem verdade, como Goebbels fazia na Alemanha Nazista. Assim, se o Globo continuar a fazer isso, acabaremos notando que a máquina pública não está inchada e que precisamos de mais servidores públicos para prestar atendimento de nível europeu ao cidadão brasileiro que não é em nada (a não ser em educação média, ainda) inferior a europeu e que merece o mesmo investimento público em prestação de serviço à sua população. E até maior, devido à atual carência de quase tudo à massa da população.
O artigo que ora critico possui inserto uma verdade absurda: R$58 bilhões somente gastos com os Ministérios em Brasília é o cúmulo do absurdo!!!! Principalmente em face da informação de que para manter mais de um milhão de servidores em todo país o custo foi de R$156,8 bilhões em 2012.
Veja o texto da chamada da manchete: “O Orçamento Geral da União de 2013 prevê R$58,4 bilhões só para manter a estrutura e os funcionários dos atuais 39 Ministérios. O funcionalismo federal já reúne quase um milhão de servidores ativos e inativos e eles custaram ao país, em 2012, R$156,8 bilhões.”
Veja, R$58,4 bilhões para manter estrutura e funcionários em 39 ministérios, em face da informação de que todo o funcionalismo federal que garante prestação de serviço a 200 milhões de brasileiros em todo o País custa somente R$156,8 bilhões, me parece realmente um absurdo. Como pode somente a estrutura de 39 ministérios (sabemos que alguns são secretarias com mero status de ministério, o presidente do Banco Central também tem status de ministro.. mas enfim) e seus funcionários exclusivamente trabalhando em Brasília custar 1/3 ou 33% do custo de todos os militares e servidores civis de todo o País?!?! Médicos, delegados, policiais federais, professores universitários de ensino médio e de ensino básico, auditores fiscais, juízes, diplomatas, analistas e técnicos para todos estes servidores públicos, em todos os respectivos órgãos, por todos os mais de 5.500 municípios e 27 Estados espalhados por todo o País custam somente três vezes mais do que a estrutura e funcionários que trabalham em 39 ministérios em Brasília?!?!?!? Brasília está parecendo cara, a princípio. Isso é uma verdade absurda: A máquina política do Executivo em Brasília está inchada e cara!!
Agora veja, quanto desses funcionários são de cargo efetivo, em Brasília, nos Ministérios? E quanto eles custam desses 58 bilhões? Acredito, senhores, piamente, que seja uma ninharia, sinceramente. Isto porque , todos sabem, os ocupantes de cargos nos Ministérios devem ser, à proporção de 80%, de cargos em comissão, preenchidos sem concurso público. Estes cargos, no Brasil, são em 28 mil enquanto na Inglaterra são 500. Sim 500 (quinhentos).. não errei nos zeros.. não são 5 mil cargos em comissão na Inglaterra, segundo notícia que li há muito tempo.
Então, a notícia do Globo é verdadeira quando aponta que isso é um absurdo.
Mas ela não diz exatamente isso. E aqui a notícia torna-se inverídica, indutiva e labuta a favor de um VERDADEIRO ABSURDO: O DE QUE A MÁQUINA PÚBLICA TODA É INCHADA. Ela generaliza dizendo inclusive que todos os funcionários públicos federais custam caro, pois custaram R$156,8 bilhões em 2012. E que são “quase um milhão de servidores ativos e inativos”. Como se fossem muitos e muito caro ao País. Mas eu te pergunto: são muitos em relação ao quê?! São caros em relação ao quê?!
A comparação que o artigo apresenta é de que tal custo é metade do previsto para o PAC, de 75 bilhões. Ou em relação ao Bolsa família, que custa 24 bilhões. Se comparar com o gasto dos Ministérios em Brasília, em R$58 bilhões, está certo: é caro o custo de Brasília isoladamente. Sem a menor dúvida.
Se a comparação é com todo o funcionalismo federal, o que está mais subliminar, é mentira e errado, pois a comparação correta deveria ser com o custo da máquina federal da Alemanha, da França, dos EUA, da Dinamarca, da Noruega. Países ricos com os quais devemos nos comparar, já que temos a 6ª economia do mundo. E não deve ser feita comparação de valores absolutos, mas de percentual do PIB destinado a esse gasto com funcionários federais.
Aí se verá, inclusive que o gasto com funcionários públicos federais no Brasil é pequeno e inclusive diminuiu da época do Fernando Henrique para cá. Com o Fernandinho, o gasto era de 5,4% do PIB com funcionários públicos federais. Com Lula chegou a 4,7%. E não duvido que com Dilma tenha até decrescido. Portanto, para voltarmos à época de Fernando Henrique, deveríamos aproveitar o crescimento do PIB e dar mais serviço público ao País, como já fizeram ingleses, franceses, alemães, suecos, noruegueses e dinamarqueses.
Quero deixar claro que como o povo não tem referência em bilhões de reais, já que grande parte não ganha muito mais do que R$1.500,00, a verdade, para quem procurar, não é a de que o gasto de R$158 bilhões com funcionários públicos federais é muito em relação ao PAC de 75 bilhões ou ao Bolsa Família de 24 bilhões, mas justo o contrário!! Porque, pergunto, como pode todo o funcionalismo do País de dimensão continental como o Brasil, de 8 milhões de quilômetros quadrados, 200 milhões de habitantes, riqueza mineral, hidrográfica e petrolífera incalculável, militares, médicos, professores, policiais, fiscais, tudo isso custar somente duas vezes um único programa de investimento público em infraestrutura?!?! Ou ser meramente seis vezes o custo de um único programa social?!?!?!
Gente, isso é ridículo. E a prova absoluta de que isso, além desta ponderação que vos faço, é a evidência do DESINCHAÇO DA MÁQUINA PÚBLICA BRASILEIRA, está no fato de que recentemente o Ministério da Saúde mencionou que para chegarmos ao mesmo nível de médicos por habitante da Inglaterra teríamos de contratar imediatamente 168 mil médicos. Isso quer dizer que estamos inchados ou desmilinguidos no serviço público de saúde?!?! E veja que é necessário de três a dez enfermeiros e técnicos de enfermagem para cada médico!! Daí, teríamos a necessidade de até 1.300.000 servidores da área de saúde (a não ser que em nossa administração esteja suficiente o número de enfermeiros e técnicos de saúde e insuficiente somente o número de médicos)!!! Isso não é brincadeira.. isso é irresponsabilidade de todos os envolvidos na continuidade de desatenção com a saúde pública!! Isso é desinchaço e carência.
Ou policiais rodoviários federais. Nos postos de fronteiras foi divulgado, através de greve responsável desses servidores, que tais postos têm dois policiais, enquanto deveriam ter oito!! Multiplique essa carência por todos os postos de fronteira que temos com onze países!! Fora os necessários em rodovias federais,,, Isso é inchaço? Não. Isso é desinchaço e irresponsável, pois facilita entrada de armas ilegais e drogas no País.
Ou fiscais. Fiquemos com os fiscais para portos. Portos que movimentam, segundo a CNI, em recente pesquisa para desenvolvimento do Brasil e avanço da indústria brasileira no mundo (com o objetivo de sermos 2,2% do comércio mundial em 2022), 95% da produção brasileira que é exportada (em torno de 210 bilhões de dólares) e também de produtos e equipamentos que são importados (outros 210 bilhões de dólares). Para que os portos trabalhem 24 horas, o Globo publicou artigo que informava que só no Porto de Santos seriam necessários mais 400 servidores públicos, o que pode dobrar nossa capacidade de receber/importar e exportar produtos. Então só nos cinco maiores portos do País a necessidade deve ser de uns 2.000 servidores. Isso é inchaço ou desinchaço? E o custo desses servidores garantirá investimentos de mais de 50 bilhões, fora o possível crescimento de comércio em bilhões de dólares anuais!!! Ao custo de o quê? 24 milhões de reais anuais com dois mil servidores ganhando média de R$10 mil reais? Não tá bom?
Então, senhores, para quem lê e busca o entendimento da realidade, é claro que o viés do artigo é contra o Estado Social-Democrata e o crescimento do investimento em serviço público à população. O artigo desinforma em relação ao que seja gasto percentual com servidores em relação ao PIB do Brasil, e não traz a comparação com Alemanha, França, Inglaterra, Itália, Noruega e nem com os amados globais EUA.
Portanto, é um VERDADEIRO ABSURDO, diante das óbiva carênciade servidor público por todo o país, dizer que a máquina federal é genericamente cara e inchada, me parecendo verdadeiro dizer que Brasília, e o custo dos 39 ministérios está absurdamente caro e provavelmente inchado.. mas não de servidores de cargo efetivo, mas de pessoas nomeadas politicamente para cargos em comissão, sem concurso público.
Agora o artigo publicado sobre “Màquina Inchada – Recorde de Ministérios custa R$58 bi ao País” está colocado corretamente. Mas gostei do fato de que a parte do título Máquina Inchada ficou não em evidência principal e de que o título da manchete em evidência principal imputa o gasto aos Ministérios e não aos servidores públicos. Infelizmente o conteúdo do artigo peca, como criticado aqui.
E senhores… essa comparação de que o gasto de servidores do nosso País custa o PIB do Peru… o que é o Peru??! Pelo amor de Deus. Não dá pra comparar o Peru conosco. Lá não tem Previdência Social, lá não tem nada, não tem a nossa população e não tem a nossa dimensão.
A comparação do Globo será sempre essa, com países que não têm previdência social, com países pobres da América do Sul, com países que não têm indústria nacioanl como temos e que podem abrir seu mercado financeiro, industrial, de serviços e de compras em licitações públicas, porque a grande mídia quer a ALCA, quer livre mercado não importando quantos brasileiros perderão indústrias, bancos, empresas, negócios e emprego. Porque a grande mídia acredita piamente no neoliberalismo. Só que a Argentina também acreditou e vejam só… faliu.
O liberalismo econômico e Estado ´Mínimo é bom para quem está ganhando o jogo.. não para quem virar o jogo. E é bom para impor aos outros que perdem na competição contigo. Agora, o mais engraçado é que os ricos competem conosco já com serviços e assistências de alto nível, prestado por muitos mais servidores por habitante do que nós disponibilizamos a nossos cidadãos… e não posso entender porque a grande mídia, sendo feita por brasileiros, se opõe a que tenhamos isso aqui no Brasil. Isso é antipatriótico, eu acho.
p.s.: texto revisto e ampliado.
p.s.2: Veja também http://www.perspectivacritica.com.br/2013/05/prova-de-desinchaco-da-maquina-ppublica.html