Excelente iniciativa de Míriam Leitão. E sua conduta durante a entrevista foi ótima. Parabéns à Míriam e parabéns à Globo News. Um embate, mesmo que superficial e em 20 minutos entre os dois bispos econômicos das principais candidaturas à presidente antes do pleito de segundo turno foi relevante trabalho em prol da democracia brasileira.
Comentários à entrevista de 09/10/2014 na Globo News
Ambos foram muito bem. São dois gênios econômicos brasileiros e seria difícil esperar o contrário. Além disso, ambos são conceituados economistas e, portanto, não podem apelar a charlatanismos e comparações leigas de apelo comum mas de baixo nível técnico. A Míriam também é boa jornalista econômica e poderia ressaltar desvios demagógicos. Então, ficam presos às discussões econômicas mesmo e nós, que vimos a entrevista e ainda podemos rever pela internet, fomos brindados com algo de qualidade na seara econômica, a qual traz um cerne importante da conduta de futuros governos petistas e psdbistas na condução do Estado e da economia.
Assista ao vídeo você mesmo acessando o link: http://globotv.globo.com/globo-news/globo-news-economia/v/guido-mantega-e-arminio-fraga-debatem-no-globonews-miriam-leitao-parte-1/3686782/
Após assistir esse filme aparece a opção de ver a segunda parte.
A verdade é que Armínio Fraga não conseguiu desconstituir a política econômica em vigor (no que tange à macroeconomia – superávit fiscal, dívida pública, emprego, crescimento do pib, aumento de renda do brasileiro etc..), a não ser dizer que a política atual não está surtindo efeito de crescimento econômico, nem de confiança do mercado, nem de aumento de taxa de investimento. Disse também que a crise econômica internacional acabou em 2009 (um disparate). Sugeriu que para deslanchar o investimento a troca de governo já surtiria em boa dose esse efeito de entusiasmar o mercado (e nisso, somente o movimento das bolsas com perspectiva de vitória do Aécio já demonstrou, aparentemente). Disse que o governo foi lerdo em licitar as concessões de petróleo, de rodovias, de portos e ferrovias e que o novo governo teria possibilidades de desenhar licitações que aumentassem o apetite da área privada a participar dessas licitações. E que com mais eficiência nessas licitações aliada à maior confiança dos empresários, geraria aumento da taxa de investimento e crescimento de até 4% ao ano.
Nas sugestões de medidas futuras para crescer a economia Armínio falou coisas irrepreensíveis. Mas foi interessante vê-lo sofrer com as comparações entre os feitos econômicos dos governos do PT, inclusive avaliando isoladamente o governo Dilma, e os feitos dos oito anos do Fernando Henrique.
Nesse particular é importante informarmos aos nossos leitores que essas comparações de épocas distintas são más e não são verdadeiras, mas foram adotadas pela grande mídia especialmente nas eleições de 2002 e 2006, sendo feitas comparações diretas, ignorando as vicissitudes de cada momento. Então, hoje, essa forma de embate superficial e que é mais compreensível pela população, além de caber em curtos espaços de tempo em programas de televisão, estão em voga e nesse particular, sob essa lógica, os feitos dos governos petistas são simplesmente imbatíveis (deu pra ver na entrevista) e daí a dificuldade de Armínio para desconstituir a política econômica na frente e na cara de Mantega e da televisão, em programa que foi gravado, mas exibido sem cortes. Sem cortes não é possível fazer o que foi feito com Lula e Collor em 1989.
Mantega afirmou que a crise internacional permanece e que recente relatório do FMI (do dia 07/10/2014), afirma que a recuperação da economia mundial é decepcionante. Que não é possível crescer muito em um ambiente internacional ruim, dessa forma, com Europa, Ásia e EUA em queda econômica. Mas disse que as medidas econômicas dos governos em que esteve possibilitou continuar a gerar empregos aos brasileiros, diminuir a dívida pública, e obter algum crescimento econômico. Mantega disse que somente no governo Dilma foram criados 5,5 milhões de empregos, mais do que os 5 milhões criados em oito anos do governo FHC. Comparou o crescimento da renda do brasileiro que cresceu muito mais durante os governos petistas (30%) do que os oito anos de FHC (6% em média). Comparou o crescimento econômico entre os governos petista e psdbista e demonstrou que a média de crescimento do pib nos últimos doze anos (acho que em torno de 3,3%) foi bem maior do que a média obtida pelo FHC (em torno de 1%). Demonstrou que os bancos públicos e as reservas internacionais estavam fracos em 2002 (15 bilhões de dólares de reservas) e que ficaram muitíssimo fortes em 2012 (380 bilhões de dólares em reservas internacionais). E tudo isso obtido durante a maior crise financeira internacional depois de 1929. Que os bancos públicos foram usados para emprestar a juros subsidiados aos produtores brasileiros (400 bilhões de reais através do BNDES) para manter crescimento econômico, geração de emprego e inflação controlada. E afirmou que os bancos privados não queriam emprestar então o governo teve de providenciar esses empréstimos. Que os bancos públicos também foram os responsáveis por baixar os juros ao consumidor de 80% em 2002 para 40% agora. A inflação momentânea, Mantega comentou que fechará mais uma vez dentro da meta no fim do ano, que é devido à queda na produção agrícola no Brasil e na Índia, EUA e Austrália, tudo por causa do clima. também informou que a alteração das tarifas de energia elétrica aumentaram a inflação imediata e que haverá correção de petróleo que também impacta.
Quase tudo o que Mantega falou você já tinha ciência através de nossas análises econômicas. Somente quem acompanha a economia exclusivamente pela grande mídia, em especial o Globo, é que imaginava que a economia estava um caos, o que é uma absoluta mentira. Espantou-nos o fato de o Armínio ter de dizer que a crise financeira internacional acabou em 2009. Isso é mentira. E para dizer isso, entendemos que não conseguiu dizer algo verdadeiro que chocasse. Foi a única declaração atécnica de toda a entrevista.
A crise continua aí, resultando em desemprego na Europa e EUA, dívidas públicas européías e americanas que não serão limpas antes de mais 15 anos para se chegar aos níveis que estavam antes de 2008. E com desemprego em alta, em especial na Europa, e com crescimentos pífios do PIB, tendo Índia e China apresentado decréscimo de 9% e 11% para 7,5% e 6%. Nesse cenário o Brasil teve crescimento econômico todos os anos, foi o país que mais gerou empregos, dentre os que mais receberam investimentos estrangeiros, com inflação dentro da meta (apesar de muitas vezes no limite), aumentando a renda do brasileiro todos os anos. Então ficou difícil para o Armínio por aí.
Mas uma coisa que mais chamou minha atenção foi que à acusação de Mantega de que Armínio enfrentaria a situação atual com mais juros, arrocho e recessão, Armínio tergiversou. Não disse que não faria arrocho, aumento de juros e recessão. Disse sempre que a inflação deve ser combatida (isso pode ser mais juros que o mercado pede), que a inflação prejudica mais os pobres e que ao catapultar os investimentos ele conseguiria uma maior oferta na economia que controlaria inflação e aumentaria o PIB. Mas não se comprometeu em não aumentar juros, efetuar arrocho e em impedir recessão. Armínio também disse que acabará com a dicotomia em o Banco Central aumentar juros e o governo aumentar gasto, pois isso gera inflação.
Neste momento fiquei preocupado. Se o combate á inflação de Armínio for através de aumento de investimento e de oferta de bens e serviços, ótimo. Isso baixa a inflação mesmo. Mas vejam, se o governo de Aécio quiser baixar inflação mais rápido, somente diminuindo gastos do governo, inclusive remessas de valores ao BNDES, parar com correções de salários anuais pelos índices da inflação, e aumentado juros. O resultado imediato disso é aumento de superávit, mas menos investimento econômico, arrocho salarial e menos crescimento em um primeiro momento. Isso, ainda mais com o crescimento econômico baixo atual, tem potencial recessivo sim. Mas aumenta superávit primário e baixa inflação.
Então, a colocação do Mantega sobre a principal diferença entre a proposta do governo atual e do PSDB para o futuro próximo pareceu ser verdadeiro: o enfoque do PT é claro e declarado por Mantega como manutenção de empregos, aumento de renda do brasileiro e papel do Estado em incentivar a economia, inclusive com juros subsidiados. também disse que as reformas tributárias do governo são por partes e por tributos e que medidas já foram implementadas e outras ainda serão. Por outro lado, Armínio deixou claro que vê menos papel para o Estado, quer menos inflação, quer menos gastos do Estado e que não vê mais necessidade para atuação anticíclica porque a crise acabou desde 2009. Não afastou a hipótese de arrocho, mesmo já tendo sido acusado de dizer que o salário mínimo brasileiro está alto, E as medidas que falou, para nós, flerta com as máximas que estão sendo aplicadas na Europa e EUA, que geram altos índices de desemprego, perda de renda do cidadão e recessão sim.
Nós do Blog Perspectiva Crítica somos contra controle da inflação ao custo de empregos e renda do trabalhador de forma direta. A condução correta da economia, como recentemente o próprio presidente dos EUA defendeu, deve compactuar controle de inflação com crescimento econômico e geração de emprego. Nisso o PT foi bem e Mantega foi melhor na entrevista.
Há muitos outros detalhes que não cabem ser abordados aqui, em artigo de um Blog. Mas se tivéssemos de votar em uma candidatura por conta da política econômica, a entrevista nos aponta que a candidatura, como sabíamos, seria a do PT, com Dilma Roussef, apesar de Mantega vir a se afastar. Mantega se afastar, na verdade é motivo para não votar no PT, porque a economia foi levada brilhantemente por ele. Mas enfim. Manteremos o voto em Aécio, como já declarado pelo Blog, por conta de não pactuarmos com o uso eleitoral dos Correios, o excesso de presença de não técnicos em cargos de gerência nos Correios e na Petrobrás, e principalmente, pelo inchaço de Brasilia e atos anti-democráticos executados por Dilma, como desrespeito à autonomia da gestão do Orçamento do Judiciário, ter querido limitar pagamento de precatórios a empresas e cidadãos, defesa do PT da Lei da Mordaça e o famigerado Decreto 8.243/2014 que flerta com um autoritarismo/bolivarianismo, nos termos já expressos por este Blog.
Ficamos tristes em não poder apoiar a candidatura do PT, mais à esquerda, mas foi Dilma e o PT que criaram essa situação. Esperamos que, mesmo que ganhem, vejam que a forma como estão conduzindo as coisas tem que mudar porque o brasileiro não tolera desrespeito democrático, nem corrupção e nem falta de ética.
Por outro lado a alternância de poder, no caso de Aécio ganhar, colocará o mercado de novo mandando no país. Como ficou longe doze anos, cremos que esse castigo reiterado já deu mostras do que o brasileiro quer: crescimento econômico, inflação controlada, geração de emprego e aumento de renda. Nem Aécio e nem Armínio ousaram falar contra qualquer programa social ou de transferência de renda e nem dos investimentos em educação que triplicaram no governo petista em relação ao do PSDB de FHC. E cremos que se entrarem implantarão um governo mais empresarial, sem dúvida, mas esperamos que não sacrifique muito o emprego e a renda do trabalhador, porque, caso contrário, perderá a reeleição de 2018.. rsrsrs
Para nós, portanto, a entrevista foi boa. Mantega venceu. Mas Armínio foi honesto e bem em suas contidas colocações. Só mentiu quando disse que a crise financeira internacional acabou em 2009, o que foi chocante e demonstra que estava sem muitas cartas, mas cremos que ele aposta mais mesmo no fato de que com o PSDB no poder os empresários e o mercado nacional se ativará por aumento de confiança. Torcemos para que não arroche salário, salário mínimo e nem de servidores, que não coloque o centro da meta de inflação acima da geração de emprego e do crescimento econômico e tente influenciar o Banco Central a baixar juros, pois somente assim o dinheiro de empresários e empresas sairá da criranda financeira e virará taxa de investimento.
Vamos aguardar os fatos.