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Sobre o aumento do juros para 11,75%: o enquadramento total do BC ao mercado

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Pessoal, o que significa esses aumentos de 11% para 11,25% e de 11,25% para 11,75% da Selic? Algumas coisas claro, mas a principal é que o Banco Central se adequou à pressão de mercado clássica e vai combater a inflação somente com juros básicos. Como já havia dito Tombini, as medidas macroprudenciais estão banidas da paleta de controle de inflação. Ponto. Isso tem prejuízos ao orçamento e aos setores da economia que vão bem, pois juros básicos altos prejudicam e resfriam toda a economia, sem um ataque específico e mais inteligente que as medidas macroprudenciais poderiam fazer, como, por exemplo, o aumento de depósito compulsório, conforme faz a China em seu controle inflacionário.

Então, nesta seara, neste momento de total enquadramento do Banco Central a seu cantinho delimitado pelo mercado, pela ala financeira e pela grande mídia, pouco podemos contribuir ao debate que não seja esclarecendo em miúdos o que já é escrito pela grande mídia e dizendo que havia outras formas de combater a inflação sem gerar gastos orçamentários e resfriamento geral da economia. O Banco Central combate a inflação e obterá êxito com a fórmula clássica; mas há eficiência nesse combate? Não.

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A eficiência do combate à inflação nós medimos pelo combate às causas da inflação e pelo nível de reflexos negativos na economia que a atuação causa. Medidas macroprudenciais como aumento de depósito compulsório esfriam a demanda, não esfriam a produção e não aumentam custo da dívida pública. Isso é bom e eficiente. Aumento de juros básicos esfria produção, esfria demanda e aumenta dívida pública. Isso também baixa a inflação, mas não é eficiente.

Então, voltamos a ser “o último peru de natal”, como foi ouvido entre investidores internacionais. Ok. É isso.

Dentro desse quadro, há motivos para se combater a inflação. O governo gasta (pressão inflacionária). Mas porque tenta manter crescimento e emprego. O dólar está subindo no mundo todo (pressão inflacionária). Isso mexe com a inflação e exige medidas de controle… mas não aumento de juros básicos, como dissemos.

Entretanto as famílias não gastam (pressão desinflacionária/deflacionária). O mercado internacional está fraco (pressão desinflacionária/deflacionária) e os juros brasilerios, mesmo a 11%, geravam e ainda geram os juros reais mais altos no mundo, mesmo sem risco de pagamento da dívida pública, que está estável em 35% líquida e 58% bruta (ver p.s. de 09/12/2014)… das menores do mundo rico e da OCDE. Esses juros e mercado interno e internacional fraco desestimula investimento produtivo e manda divisas da área privada para o mercado financeiro. Assim, a taxa de investimento, que poderia ajudar o Brasil a ter mais crescimento econômico não sobe.

Bem, a inflação mais uma vez fechará o ano dentro da meta inflacionária, apesar de desde janeiro de 2014 a grande mídia dizer que isso não ocorreria.. e isso em ano de eleição em que há, e houve, descontrole orçamentário. Precisava, então subir tanto o juros? Não. Mas antecipar o aumento pode, mais à frente, e assim esperamos, antecipar a queda da taxa para parâmetros interncionais compatíveis com a conjuntura de nossa economia.

Mas agências de rating estão nos ameaçando… Paul Krugman já explicou em artigos, e nós já até publicamos sobre isso, como que as agências de rating prejudicam análises de economias por preconceito ou por filosofia e ideologia.. assim o fizeram contra a França, porque na crise européia, se negava a atacar e diminuir os benefícios assistenciais e previdenciários e trabalhistas franceses para aumentar garantias ou pagamentos a banqueiros internacionais. Mas Krugman falou que tal assistência  social e direitos trabalhistas e previdenciários mantinham um sistema de valores circulando na economia francesa que a protegiam de piores reflexos da crise financeira internacional.

Então, senhores, é isso… ser autônomo, ter política autônoma, ser uma Nação soberana não é fácil no nosso mundo dominado pelos centros financeiros internacionais. A inflação chegou a ser de 0,03% em julho deste ano.. que descontrole inflacionário é este? Não há descontrole inflacionário. “Mas há diminuição de superávit fiscal”… sim.. grave… “e o governo quer relaxar a meta de superávit para esse ano!”… sim.. mas o Presidente americano Obama pediu por duas vezes durante a crise financeira mundial que o Congresso Americano aumentasse o limite de endividamento do seu País!!! Não foi pedido de aumento de superávit fiscal, que já não têm há mais de uma década!!! Foi pedido de aumento de limite de endividamento!!!

Então senhores… a coisa no Brasil não está nada feia se comparado com o mundo.. as agências de rating se apresentam como instrumentos validadores de pressão política e econômica internacional sobre o Brasil e países que não seguem o Consenso de Washington (Estado Mínimo, menos direitos trabalhistas, previdenciários e assistência social com liberada de total de mercado e fluxo de capitais internacionais, traduzindo). A inflação terminará de novo na meta. Nosso crescimento para 2014 é pífio, em 0,3%, mas é realizado em cima de crescimentos anuais durante toda a crise econômica (* ver p.s. de 08/12/2014). E em mais um ano aumentou a renda do brasileiro e foram gerados mais de um milhão de empregos novos.

O aumento da Selic para 11,75% foi um erro, desestimula o investimento e a produção, desestimula o crescimento econômico e a geração de emprego, aumenta custo da dívida pública e faz a alegria dos centros financeiros internacionais. Mas o mundo é este. Nem com um governo trabalhista é possível se flexibilizar a política monetária… e não se pode recriminar nem o governo e nem, de todo, o Banco Central. Realmente, ser cordeirinho do mercado garante reconhecimento mais rápido de credibilidade pelo mercado e amansa as agências de rating.

A questão é em que medida e quantas vezes é necessário fazer-se concessões ao mercado sem abrir mão de uma autonomia de projeto de nação e de gestão da economia. Esse limite é que é o Santo Graal… o mercado internacional é um fato e não dá pra substitui-lo… para flexibilizar satisfação a suas exigências, somente com uma economia forte… então, é hora, como disse George Vidor, de se preparar para conviver com um câmbio mais elevado, alavancar exportações, desonerar a produção (sem afetar a arrecadação da previdência pública, bom que se diga), fazer projetos  e executar muitas concessões de serviços e obras públicas, mas investindo no serviço público, salário mínimo, para termos mercado interno, investimentos e crescimento econômico, pois só assim é possível obter crescimento econômico e autonomia para a política monetária como já tivemos uns dois ou três anos nos últimos doze.

p.s. de 08/12/2014 – Texto revisto. Errata: onde se lia “nosso crescimento para 2014 já se aproxima da esperada para a Alemanha (0,8%) e em mais um ano aumentou a renda do brasileiro”, se lê “nosso crescimento para 2014 é pífio, em 0,3% (mas é realizado em cima de crescimentos anuais durante toda a crise econômica – * ver p.s. de 08/12/2014) e em mais um ano aumentou a renda do brasileiro”. Houve equívoco em confundir, no texto, o crescimento previsto para o Brasil de 0,8% em 2015 com o previsto para o ano de 2014 de 0,3%. A Alemanha deve crescer 0,8% em 2014.. mas sobre pibs crescimentos de pib anuais menores do que o Brasil durante a crise econômica. E é relevante acrescentar que há recente informação de que até o superávit fiscal pode ser atingido em 2014, mesmo sem alteração de LDO e relaxamento de meta fiscal/superávit primário, graças, mais uma vez a receitas extraordinárias… apesar de a grande mídia caçoar do uso de receitas extraordinárias para fechar superávit fiscal, senhores… receita é receita.. e se ocorrer deverá ser admitido que a meta foi atingida.

p.s. de 09/12/2014 – A grande mídia ora publica 58% e ora 62%… Delfim Neto uma vez explicou a diferença de valores para a dívida bruta brasileira imputada pelo governo (58%) e pelo FMI ?(65%) seriam 7% da dívida que estariam estocados no Banco Central. Segundo ele, como estão no Banco Central, na posse do Banco Central que também investe nestes títulos, não deveriam ser contados como dívida, pois como integra a Adminstração Direta, o banco Central não executará dívida referente a esses títulos contra a União. Daí, estar certo não contar isto como dívida bruta, pois dívida é o que pode ser cobrado. Em ordem de grandeza, mesmo que eventualmente as publicações da grande mídia não explicitem a que número de dívida bruta se referem, como o valor de díferença está em torno de 7 ponto s percentuais da dívida ou pouco mais de 10% da dívida integral bruta, não há grandes problemas para entendimento dos comentários e efetividade dos raciocínios expostos.

p.s. de 10/12/2014 – Texto revisto integralmente, inclusive com aperfeiçoamento de redação.

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