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O prelúdio do fim da isenção da Grande Mídia: a “diversificação de investimentos”

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Se isenção na publicação de matérias as mais diversas por qualquer mídia já é difícil, imagina a isenção de um veículo de mídia em relação a tema que importa a um determinado setor econômico em que investe? Agora imagina a isenção deste mesmo veículo em relação aos concorrentes de sua empresa e sobre política pública na área em que “diversifica” seus investimentos?

Reproduzirei aqui parte do artigo anterior sobre a morte de Roberto Civita, a diversificação de investimentos que fez para o Grupo Abril, o enaltecimento com que esta diversificação está sendo tratada pela grande mídia e o risco do fim definitivo da isenção da grande mídia no exercício sagrado de seu mister em sociedade que é informar imparcialmente.

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Reprodução:

“E sobre Roberto Civita? Senhores, eu admiro empresários. Eles são pessoas diferentes na sociedade e muito importantes para todos nós e para a economia. O que seria de nós sem os Morais e a Votorantim, sem os Setúbal, sem os Marinho, se Eike Batista, sem Lehman, sem toda a imensa gama de executivos e empreendedores que coroam a nossa economia, juntamente com todas as empresas públicas que construíram a infraestrutura logística e de transporte e financeira e integral, na verdade, brasileira?

Não sei quem disse que há várias espécies de cidadãos em sociedade: os civis, os militares, os intelectuais, os religiosos, os políticos. Dentro dos civis, senhores devo citar que trabalhadores são diferentes também dos empresários. Ninguém é melhor do que ninguém, mas sem visionários e criadores de empresas a economia fica completamente prejudicada. Nesse sentido, então eu admiro Roberto Civita e junto-me à Veja e ao Globo na homenagem.

Mas o ramo de Roberto Civita era a comunicação. Isso é um ramo especial da economia que se confunde com um pilar da democracia. E isso, assim como servidores públicos têm limites em participar do comércio, gera limitações à atividade empreendedora da empresa de comunicação.

Por isso, acho um absurdo festejar-se a diversificação de investimentos procedida por ele em relação ao Grupo Abril, que, segundo artigo publicado na página 18B, do Jornal O Globo de 27/05/2013, informa que a criação da Abril Educação reúne as editoras Àtica Scipione, “líderes no mercado de ensino brasileiro; os sistemas de ensino Anglo, Ser, Maxi, pH e Geo; o Anglo vestibulares e o Curso e Colégio pH, o grupo ETB (Escolas Técnicas do Brasil), de São Paulo; Escola Satélite, a Livemocha, comunidade on line de ensino de inglês, a Red Balloon, rede de escolas de inglês para crianças e adolescentes; a Edumobi; o Ei Você e a Alfacon, preparatório para concursos.” E não só isso, o Grupo Abril investiu em TV segmentada, tendo canais de televisão, como a MTV.

Agora pergunto: que isenção pode ter um grupo de Mídia que investe em empresas de um setor em relação a informações divulgadas sobre outras empresas concorrentes deste setor em que atua comercialmente? Há um ano a Revista Veja atacou o Colégio de São Bento e o Colégio Santo Agostinho sobre “brigas” de alunos que ela abordou como “bullying” que seriam na modalidade conhecida por versões cinematográficas americanas e que nada têm a ver com nossa realidade no Brasil.

Eu que sou ex-aluno do São Bento, sei que o menino de 6 anos que se machucou brincando com meninos de 14 anos, pediu para brincar com os mias velhos e houve um acidente. O menino não ficou cheio de hematomas, o menino não ficou paraplégico, mas o caso foi explorado, mesmo tendo ocorrido mero arranhão e um galo, comum em qualquer caso de jogo de futebol, por exemplo.

Agora, posso pensar que a matéria queria espantar a clientela (como se fosse possível) do São Bento e do Santo Agostinho para atrair para o Colégio pH, concorrente na mesma faixa econômica e social dos dois primeiros colégios de elite.

É por isso que a mistura do empreendedorismo entre a área de mídia e outras é esquisito e pode gerar corrupção da atividade de mídia que é sagrada e de informar o mais imparcial possível a sociedade. Então, critico neste particular as palmas da Veja e do Globo para essa “diversificação” dos investimentos de empresas de mídia e fico preocupado com o enaltecimento disto que pode vir a ser o fim da isenção de mídia na sociedade, que pode vir a investir em outras áreas e, por trás de artigos informativos e isentos à sociedade, passar a conduzir seus negócios e interesses empresariais contra a boa concorrência, contra os concorrentes, e contra os interesses da sociedade e do País.

Observe outros problemas da “diversificação de investimentos” do Grupo Abril. Se ele investe em Escolas Técnicas, será que será isento ao publicar sobre investimento público em Escolas Técnicas que fazem e farão concorrência com suas próprias Escolas Técnicas Privadas? Será que avaliará e publicará em suas mais impressas com isenção sobre aumento de salários de professores, na área pública ou privada? E sobre contratação de professores públicos para as Escolas Técnicas Públicas?! Isso não prejudica seu interesse na gestão da Escola Técnica Privada? Sim.

Portanto, cada “diversificação de investimentos” de um grupo de mídia em outros setores econômicos exclui a isenção necessária para que o grupo de mídia exerça seu mister de informar a população sobre o setor em que resolveu investir. E nesta proporção o grupo de mídia se tornou menos útil e menos isento para informar a sociedade.

É sabido que grupos de mídia no estrangeiro também investem em setor de educação. Não vejo problema se o grupo de mídia investisse em editoras de livros não didáticos. Mas quando investe em livros didáticos é muito complicado pois com seu poder em sociedade obtém licitações públicas para vender esses livros ao Estado, como parece que ocorre com apostilas do pH. E se vende para um governo, qual a isenção em criticar tal governo?!?!

Saibam que o FMI, que já patrocinou a privatização e venda de empresas estatais por todo o mundo, garantindo para o capital internacional a participação em empresas estatais criadas pelos países em todos as áreas econômicas (bancos, elétricas, petrolíferas, águas e esgoto, etc..), atualmente está incentivando o avanço da área privada sobre o setor de educação e saúde estatal. Por isso a profusão de ONGs e Organizações Sociais nessas áreas, muitas das quais criadas por grandes empresas privadas e, pasmem, segundo soube, aqui no Brasil, isto também está ocorrendo e com participação de empresas de mídia em criação de ONGs ou OSs para prestar serviço público de educação e saúde remunerado pelo Estado.

É muito grave isto. E ninguém falará e nem publicará, pois as próprias empresas de mídia estão entrando nessas outras áreas empresariais com interesses empresariais e privados e inclusive com interesse em expandir negócios avançando sobre a estrutura pública de ensino e educação.

Se isso não for denunciado, investigado e publicado, onde acabará a isenção das publicações da grande mídia para criticar governos, políticas de educação, políticas de saúde pública, avanços de organizações sociais e ONGs sobre serviços públicos de educação e saúde etc, etc, etc? No lixo, senhores. Será aos poucos extinta a isenção da mídia que “diversifica investimentos”, ao meu ver.

“Diversificando investimentos” as empresas de mídia garantem mais receitas para suas atividades, mas vão pouco a pouco perdendo isenção e utilidade para informar a população. Triste.”

Fica aí a contribuição do BLOG PERSPECTIVA CRÍTICA para a defesa da sagrada atividade de informar a população através de jornalismo investigativo, crítico, livre e neutro (tanto quanto possível), que está em risco definitivo quanto mais avançar a liberdade das empresas de mídia em “diversificarem” e investirem em outros setores da iniciativa privada. Queremos que isso não ocorra e que a grande mídia invista somente na atividade jornalística e de informação social a bem do exercício sagrado de seu mister, a bem do bom jornalismo, a bem da informação social e a bem da sociedade brasileira e da democracia.

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