A obra que trago para dividir com vocês é a Sky ladder (Escada para o céu) do chinês Cai Guo-Qiang. Quando fui à exposição de Cai Guo-Qiang no CCBB, no Rio de Janeiro, tive a sorte de ter sido no mesmo ano em que viajei para a China. Creio que a visita à exposição não teria sido a mesma sem a prévia experiência de ter vivenciado 15 dias de férias em terras chinesas. A exposição ampliou o meu interesse pelas obras contemporâneas desse artista, mas foi o documentário “Sky Ladder: The Art of Cai Guo-Qiang” do Netflix, que me apresentou a obra que realmente me faz pensar e relembrar em vários momentos da minha vida.
A obra basicamente consiste em uma escada incandescente que liga a terra ao céu. O material é simples, pólvora (o habitual utilizado pelo Cai Guo-Qiang) e fios conectivos que são dispostos a formar uma escada para o infinito, quando acesos. A escada possui 500 metros e é suspensa por um balão de gás hélio. A ação da escada acesa teve uma duração de dois minutos e meio. O que mais me chamou a atenção dessa obra foi a persistência e as inúmeras tentativas e erros do artista para conseguir finalmente concluir a obra como imaginava. Demorou cerca de 21 anos para planejar tudo e contou com três tentativas oficiais que fracassaram e foram realizadas fora da sua cidade natal, uma delas até mesmo fora da China. Somente na quarta e última tentativa é que finalmente resultou. Esta foi construída na ilha de Huiyu Island Harbour, em Quanzhou, na China. E por ser a sua cidade natal, os espectadores foram a família e os amigos. Esta obra de fato aborda muitas questões pessoais do artista, inclusive mencionadas por ele mesmo. Porém, a exploro com uma visão mais ampliada e aponto para a transcendentalidade presente nessa escada para o céu. Entre o céu e a terra há um abismo milenar que instiga a humanidade. Com esta obra de arte de Cai Guo-Qiang temos traçada no céu, de uma maneira particularmente iluminada, mágica e diria até fantástica, uma ponte de acesso e comunicação direta entre estes dois universos ― o céu e a terra.
(por Luci Vilanova ― 02/02/2021)
Luci Vilanova se formou pela Escola de Belas Artes da UFRJ e é Mestre em Criação Artística Contemporânea (UA ― Portugal). Desde a infância, o desenho é sua língua favorita e o meio como adora registrar suas descobertas, além de dar forma à sua imaginação. Foi professora de Desenho Artístico e Criação da Forma (EBA-UFRJ) e de História da Arte e Consciência Estética nos cursos de Pós-Graduação e de Formação em Arteterapia (POMAR-RJ). Autora do livro Rabiscos Terapêuticos – Como os doodles podem auxiliar na Arteterapia (2016). Ministrou oficinas criativas na Pomar (RJ), no Espaço Interior (Niterói), em Universidades (UNIRIO, U.A. e U.Lisboa), e em Escolas Municipais do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Atualmente, ilustra livros do catálogo da Editora Cândido. Vive em Portugal e é responsável pelo Ateliê Rabiscos Terapêuticos (Porto).
Que legal! Não conhecia essa obra nem essa concepção de arte, com pólvora, para ser bem sincera. Obrigada por compartilhar!
Adriana, acho que o agradecimento é para a Luci Vilanova. Também gostei bastante da indicação!