Hoje, 06 de outubro de 2010,li na coluna da Miriam Leitão algo interessante: Márcio Garcia, professor da PUC do RJ teria dito que o custo de o BC manter 270 bilhões de dólares de reservas, ao custo de 20 bilhões ao ano, “deveria ser explicitado, para que a sociedade decidisse se quer mesmo continuar acumulando reservas”.
Como, por favor me expliquem, a sociedade teria condições de “decidir” sobre isso? Quantos economistas especialistas em mercado de câmbio e gestão de política monetária temos na sociedade? É uma grande brincadeira… e os que são, já não sabem disso que a Miriam publicou? Sim. Então?
No final, Miriam acaba dizendo que todo o problema é a gastança do governo federal (claro!) e que por isso os juros da dívida pública (Selic) não baixam e que isso atrai capital externo para obter alta remuneração a baixo risco no Brasil, além de estar havendo atração de investimento direto em empresas, o que não poderia ser controlado.
Aqui vai a minha crítica.
Lembro bem de que no início do ano com superavit fiscal diminuído pelos efeitos da crise financeira mundial, mas com superavit fiscal enquanto todas as outras economias afundavam em déficits fiscais de 5% a 10% nos últimos 12 meses, e mesmo durante 2009, Miriam apoiou o anacronismo do Banco Central em ficar aumentando juros da dívida pública (Selic), quando todo mundo via que que o Brasil foi o primeiro a ter saído da crise, estava com superavit fiscal e não tinha repique inflacionário. O Banco Central estava com ótimas reservas e tínhamos superavit nas contas externas também, mas ela e a maioria dos economistas viam algum motivo para, apesar de todas as economias baixarem desesperadamente seus juros para manter suas economias funcionando, continuarmos aumentando nosso juros interno (SELIC).
Dizia-se que o Brasil crescia além de sua capacidade e isso geraria inflação. O gasto das famílias crescia com crédito facilitado do governo, desconto em IPI e IOF para aquisição de geladeiras, carros e etc.
Mas analistas já diziam que o aumento de consumo era temporário. Que estava subindo endividamento das famílias (o que significava que o aumento de compra tinha limite) e todo mundo sabe que o estímulo às compras era importante para não entrarmos pelo mesmo caminho das nações desenvolvidas que estavam com economia decrescente e aumento de desemprego. As atitudes anti-cíclicas para manter a economia funcionando deram certo e o consumo manteve-se, mas isso seria temporário. Temporário o suficiente para que os bancos perdessem medo de emprestar e se normalizasse o mercado financeiro. Nesse período os bancos públicos emprestaram mais do que os privados e cresceram mais (também chegou a se falar de irresponsabilidade dos bancos federais, mas a estratégia se mostrou acertada, além de interessante para o País).
Mas o interesse de sempre seguir o que ocorre no estrangeiro é muito grande para a nossa mídia. É grande porque é fácil. O mundo fica fácil de ser percebido e entendido, porque é só seguir. Pouquíssimas vozes, inclusive a minha em comentários para a Miriam on line, atentaram para o fato de que não era preciso subir a Selic de 8,75% que já era alta para 10,75%. Era só manter o juros alto como estava em 8,75%. Mas não. E Miriam bateu palmas, infelizmente. Uma colunista econômica importante. Até parece que nao iria dar nisso!!! Com outras economias pagando 0% de juros por investimento em seus títulos de dívida e o Brasil pagando 10,75%, como é que não viria uma enxurrada de dólares e apreciaria o real?!?!? Não precisa ser gênio.
Agora, depois de se omitir quando o Banco Central exagerou na dose, bate na valorização do real como sendo culpa do governo federal. Não se quer ver o problema. É triste e irresponsável.
A reserva cambial de 270 bilhões é alta? A da China é de 2 a 3 trilhões! O nosso PIB é 2/5 do chinês, ou 40%, mas nossas reservas são 1/10 da que eles têm. Custo de 20 bilhões ao ano, manter 270 bilhões de dólares em reserva? O que é o custo? Se o dólar se valorizasse (que não é a tendência, admito) seria lucro, não? Mas se não tivermos dólares em reserva, ainda moeda mundial de comércio, colocamos em risco o sistema econômico de 2 trilhões de dólares, que é o nosso PIB. O custo está bom pra mim. Não existe economia segura sem reserva externas em moeda internacional alta.
O governo federal tem que economizar?!?! Está fazendo uma “gastança”?!?! Qual a evolução da dívida pública sobre o PIB, Miriam, dá pra contar? Eu conto então. Está em decréscimo. Fechará o ano em 40% do PIB, enquanto seus amados paradigmas no exterior estão com 80%, 90%, 110% e 200% de relação dívida/PIB, números de França, EUA, Inglaterra e Japão. Agora, quem ganha mais (e nós crescemos nossa economia e a arrecadação, que cresce durante o ano de 2010 a 10% ao mês!!!) pode gastar mais para prestar mais serviço público e fornecer mais bens públicos (medicamentos, obras, etc..). Ainda mais para quem precisa, o que, lógico, não é o caso da classe média alta ou de ricos, incluindo profissionais muito bem pagos em nosso mercado. Mas esse grupo, no qual me incluo, deve pensar em quem não ganha bem e precisa mais do que nós de bons serviços públicos. E isso, só com investimento público.
E qual o crescimento da dívida pública nominal brasileira, Miriam? Foi de 10% de 2009 para 2010, mais ou menos. De 1,25 trilhões, foi para 1,4 trilhão. Foi um crescicmento alto, mas a dos EUA dobrou? Vamos comparar com os países desenvolvidos. Eles podem acabar com a suas relações dívida/PIB, podem salvar instituições trilhonárias do caos em que se meteram. Isto é visto como normal, como natural, como inafastável e como boa gestão de política monetária e fiscal. Para eles foi, mas não se vê que nossa situação é outra e não se exige de nós outra coisa adequada à nossa realidade. Nós, por exemplo, não precisamos salvar empresa nenhuma, como eles, mas a crise piorou o acesso ao crédito a nossas empresas no exterior, inicialmente, e por isso o BNDES teve de emprestar mais. Emprestou o que pôde e o governo teve de aumentar esses valores para não faltar dinheiro ao setor produtivo brasileiro. O Governo pôs 100 bilhões de reais no BNDES e ao invés de ser aplaudido também como os estrangeiros, o governo mais uma vez foi escurraçado como gastador e irresponsável com ao aumento da dívida… brincadeira.
O que foi feito até agora pelo governo gerou pequeno aumento da dívida pública nominal. Manteve a tendência decrescente da relação dívida PIB, gerou crescimento econômico só comparável à China e à Índia, gerou recorde de emprego no Brasil e agora, está se cobrando do governo que resolva um problema que é resultado de um probblema mundial (taxa de juros perto de zero na Europa, EUA e JApão), problema de sucesso de atração de investimentos diretos produtivos para o Brasil (que gera empresas, emprego, renda e tributos ao País), e problema criado pelo Banco Central, que mantém desnecessariamente juros altos em relação ao mundo. É uma grande palhaçada.
Gostaria de ter te visto um pouco mais ativa Miriam, quando o Banco Central se excedeu. Ma acho que você, a quem admiro e é reconhecidamente uma excelente colunista econômica, resolveu seguir a maré. Deveria ter combatido o excesso do Banco Central antes.
Vamos parar de ficar querendo que o governo faça tudo e vamos fazer nossa parte. Da mesma maneira, não se pode esperar que o governo pare todos os gastos em obras e em reestruturação do serviço público que precisa ser adequado à necessidade de 200 milhões de brasileiros no litoral e no interior e não resgatar uma dívida com a infra-estrutura brasileira e de déficit na prestação de serviços públicos de toda natureza. E mais: sem esses investimentos, que gostam de chamar de despesas, o crescimento da economia não seria de 7% ao ano e não geraria tanto emprego… talvez, o real motivo seja esse, não é mesmo? Assim ficaria mais fácil bater no governo.
Faço um pedido. Parem de pensar e somente bater no governo e pensem no País, por favor. Quem fala a verdade coloca os prós e contra de tudo. Só vi escrito o contra. Isso não é informativo.
P.S.: Na mesma página da coluna da Miriam em 06/10, pg. 26, tem uma outra reportagem intitulada “FMI alerta países emergentes para o excesso de capital estrangeiro”. Pergunto: Economia do governo mudaria isso?!? Claro que não. E mais: sem flexibilizar a remuneração da poupança, como o Governo Federal quis e o PSDB populistamente disse que era “mexer na poupança”, dá para baixar a Selic a menos de 8% ao ano, sem que os investidores saiam dos títulos da dívida federal e vão para a poupança? Não. Então, não adiantaria somente o governo economizar em seus investimentos, não é mesmo? Isso por si só não abaixaria a Selic e ainda deixaríamos de alimentar o crescimento do País. Nâo há vantagem na economia apregoada que o governo deveria fazer.
Voltaremos ao tema.