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Crítica ao artigo “Privatizando na bacia das almas”, de Sardenberg

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É incrível.. e foi escrito. Sardenberg afirmou que a Petrobrás está sendo privatizada, mas que “chamam a operação de ‘vender ativos’ ou ‘desinvestimento’, mas o nome é privatização na forma mais clássica: alienar patrimônio para pagar dívidas e fazer caixa.” Isto está escrito neste artigo ora criticado, no segundo parágrafo, publicado na página 18 da edição do Jornal O Globo de 02/04/2015. E ainda conclui que como efetua essas vendas num período desfavorável par a empresa, em momentos de baixa do petróleo necessidade de fazer caixa, “privatizam na bacia das almas”.

Quanto  essa afirmação não vamos nos delongar. Vender ativos é igual a privatizar?!?! Poucas atecnicidades foram escritas sem qualquer cerimônia. Privatizar não é vender ativo nem nunca foi. Privatizar é transferir para a área privada a operação, direção e gestão de, no caso, uma empresa estatal para a área privada. Essa transferência, no caso da Petrobrás ou outra estatal com ações em Bolsa de Valores, se daria através de transferência de controle acionário, normalmente através de venda em bloco de grupo de ações que desse esse poder de controle societário ao comprador do bloco de ações através de leilão.

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Então, senhores e senhora.. como isso pode ser comparado à venda de ativos da Petrobrás que está sendo feita para gerar caixa para a empresa que passa por dificuldades por causa da débâcle do preço internacional do petróleo?  Não tem como.

A informação está errada de toda forma que se veja, a não ser para incentivar a privatização da Petrobrás, informando erroneamente que se tivesse sido feita antes, em momento de alta das ações, o retorno ao Estado teria sido maior. Mas isso parte de premissas e raciocínios totalmente errados e desinformativos e sofistas. Muito triste.

Primeiro: venda de ativos não é privatização, como já vimos.

Segundo: essa necessidade de venda que é real não pode ser tomada como privatização “no pior momento”. O pior momento deriva de uma desorganização atual nos preços internacionais do petróleo por um embate geo-político-econômico que inclui Arábia Saudita, EUA, Venezuela, Rússia, Irã e o pré-sal no Brasil. Já está se escrevendo assumindo que o momento é ruim por conta de mera má-gestão da Petrobrás, quando a realidade não é essa.

Em suma, as vendas não ocorrem somente porque a estatal está mal por conta de má-gestão petista exclusivamente. As vendas ocorrem porque a Petrobrás teve de alavancar investimentos e, portanto, sua dívida, e num momento em que estourou a Operação lava-jato juntamente com uma guerra de preço de petróleo criada pela Arábia Saudita e EUA. A empresa continua lucrando mais de 20 bilhões de reais por ano, mas a necessidade de financiamento para investimentos gigantes por conta do pré-sal e sua obrigação de participar em 30% de todos os blocos, criaram uma situação de fragilidade financeira, que se tornou em problema concreto com a queda artificial do preço internacional do petróleo.

Assim, a solução para este momento foi vender ativos para fazer caixa. Não havia a opção anterior que o Sardenberg comentou. Sofisma puro e fraquíssimo. Não há privatização e nem ocorre em momento mal escolhido. É incrível como a matéria foi publicada. O apoio aos movimentos de privatização da Petrobrás que estrangeiros e a área privada nacional pretende não pode ser capaz de legitimar que inverdades sejam escritas com tanta impropriedade. Para quem acompanha o que ocorre no setor petrolífero o artigo é risível.

Fica aqui nossa crítica a este trágico artigo que não se sustenta de forma alguma que se vejam os fatos sobre os quais discorre.

E o embate que fez entre desenvolvimentistas e ortodoxos? A única incongruência que existe entre o feito antes e o que agora se faz está no discurso que se faz dele.

A ortodoxia não tem fim em si mesma. O desenvolvimentismo não tem fim em si mesmo. A diferença real é que o desenvolvimentismo está sempre insatisfeito com o avanço da economia abaixo de seu potencial. Para financistas ortodoxos a visão é mais conservadora: o crescimento econômico deve vir como uma consequência da normalidade de mercado, ou seja, controla-se a inflação e condições macroeconômicas e o crescimento deriva do equilíbrio desses elementos.

As duas visões na verdade são complementares. Mas ninguém vê assim. Cegam-se com as principiologias de uma e outra visão, executivos e técnicos são incumbidos de representar uma ou outra visão, consoante o interesse de seus grupos de interesse e relacionamento. Em seguida, partidos políticos e polítiocs encampam uma ou outra filosofia e ambos acham que degladiam pela verdade. Uma palhaçada.

A análise das duas abordagens dá mostra de que o desenvolvimentismo é melhor em economias não maduras, que precisam avançar mais rapidamente no aumento de renda per capita, produtividade, produção, pra diminuir desigualdade social a atingir bem econômico que outras economias maduras já alcançaram. A ortodoxia, os economicistas, monetaristas e financistas fazem mais sentido em economias maduras como as da Europa e EUA, em que o status quo econômico é bom e deve ser mais mantido do que avançado.

Ser desenvolvimentista não significa que se deva ser complacente com inflação, mas muitas vezes ela fica mais pressionada porque se privilegia medidas que impulsionam a economia. Mas ser ortodoxo não quer dizer que seja defensor de medidas recessivas, apesar de que normalmente como defendem antes de tudo a inflação, há uma tendência do ortodoxo em não pressionar a produção e deixar que ela se realize no ritmo do mercado que “funcionará bem enquanto os fundamentos econômicos forem mantidos bem”.

Dessa forma, a política desenvolvimentista do governo continua. Mas se antes pôde pressionar a economia para não perder crescimento e aumento de renda, em algum momento os reflexos negativos da política desenvolvimentista devem ser corrigidos para depois se voltar à expansão do PIB. Não há´contradição. Só Sardenberg e outros cegos voluntários (e bem pagos) de mercado para sustentar isso.

Dizer que há contradição aí, que é apoiar uma lógica e retórica eleitoral contra o governo ao invés de informar a população sobre fatos econômicos, é o mesmo que dizer que a Europa liberar 1,1 trilhão de euros para puxar a economia vacilante é contraditório porque ela estava adotando medidas ortodoxas de austeridade. Ou que os EUA está sendo incongruente em parar de injetar bilhões de dólares na economia (quantitative easing) que fez durante toda a crise financeira desde 2008 e pensando em aumentar juros porque estava procedendo de uma forma e não pode proceder de outra quando as condições econômicas alteraram.

Culpar a adminstração da noss apolítica econômica de agora ter déficit fiscal e aumento de relação dívida/pib depois de injetar bilhões de reais para girar a economia é o mesmo que dizer que o risco de inflação nos EUA, depois das injeções de dinheiro público na economia, é ruim e foi uma evidência da desorganização da economia com as medidas econômicas anteriores.

Os países adotaram determinadas medidas para defender suas economias. Essas medidas têm reflexos. Quando os reflexos das medidas não são mais tão positivas em relação ao custo, há que se alterar as medidas. Isso não é mentira. Isso não é incongruente. Isso é ser responsável e manter-se a rédea e a condução da economia.

Mas os jornais vivem dos sustos, das surpresas, do melodrama econômico.. vendem suas novelas econômicas e partidárias, ao custo da desinformação do seu leitor. Triste.

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