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Corte de 10 bilhões pelo Governo: necessário ou não?

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Pessoal, tendo em vista os recentes artigos da Miriam em relação ao corte de 10 bilhões, dizendo que está certo, dizendo que apesar de certo o corte é artificial pois não é nos gastos, mas derivado do aumento de receita (só impostos atrasados com a Vale em discussão judicial terminada teria gerado pagamento extra de 6 bilhões), devo tecer as seguintes considerações.

Primeiro, é verdade.. poupar é bom. Poupar ganhos excedentes também é bom. Mas o Governo fez mais do que isso: aumentou o superávit primário. Portanto, se comprometeu a manter essa poupança até o fim do ano e declarar oficialmente um novo patamar de superávit primário. É claro que pode ser mudado no ano que vem, mas a atitude demonstra compromisso. Então, acho equivocado dizer que o aumento é artificial, já que é real e formal.

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Segundo, a ação do Governo vem satisfazer uma exigência básica matemática: se a sociedade não baixa o consumo (o que é contestável – há baixa do consumo sim e os índices de inflação e atividade econômica identificam isso), o Governo tem que baixar para impedir pressão inflacionária de demanda. Portanto, era para os analistas financistas, como a Miriam, ficarem satisfeitos, pois o Governo está utilizando parâmetros frios de controle ortodoxo de fluxo de capitais para desaquecer a economia, ao mesmo passo em que aumenta nossa já gigantesca poupança (reservas cambiais e depósitos compulsórios) para momentos de agruras, em caso de piora da crise européia, japonesa e americana.

Agora, também é verdade que a divulgação dessa meta de aumento de superávit brasileiro próximo da reunião do COPOM tem o objetivo (até declarado por Dilma) de diminuir os juros Selic. Isto não é ruim. Isto é bom.

A Selic atual é o cúmulo do absurdo de alta. É o maior juros reais no mundo, pago por um País que é organizado política, institucional e economicamente!!

Quero que vocês vejam que para os financistas, pelo que vejo Miriam está com eles, pressões inflacionárias se combate com recessão. Recessão significam menos atividade econômica e menos emprego para brasileiros. Dilma não quer combater pressão inflacionária com recessão.

Portanto, haverá sempre esse embate, enquanto a mídia não for mais analítica quanto às causas da inflação e quanto às medidas econômicas que devem ser tomadas para controlar inflação e manter produção de empregos e bem-estar social.

Ben Bernanke, presidente do FED, afirmou em recente reunião nos EUA, publicado em artigo de capa do Jornal Monitor Mercantil que li ontem 29/08/2011 em banca de jornal no Centro, que “o FED não tomará medidas de controle inflacionário que não considerem a criação de empregos e o bem-estar social” (citação livre). Por que nós temos de ser mais realistas que o rei?

Parem de repetir o Consenso de Washington por aqui! O País que seguiu à risca este tipo de determinação quebrou (coitada da Argentina) e está tentando se encontrar até hoje!!

Foi por isso que quando Paul Krugman defendeu aumento de investimento público, mesmo com déficit nas alturas dos EUA eu não o questionei. Vi a Miriam defender que os EUA deveriam cortar gastos. Adorei ela aplicar as regras do Consenso aos americanos, já que exige sua aplicação no Brasil, mas defendi Krugman porque sem aumento de dívida pública americana, o remédio é recessão agudíssma e Keynes não sugere isso, mas o investimento público para salvar uma economia das trevas, como Roosevelt fez em 1929.

Nós não precisamos aumentar nossa dívida pública. Nossa situação é distinta e muitíssimo melhor. Por isso digo: a solução não pode ser só economizar. Não pode ser déficit nominal zero ou 0,87% como quer Aécio. Nós temos de aproveitar que o mundo precisa de nosso crescimento para crescermos, gerarmos emprego, melhorarmos a renda percapita brasileira, gerarmos aumento de arrecadação e aumento de investimento em servidores e no serviço público para termos o mesmo nível de Bem-Estar Social que existe na Europa.

A receita que a Miriam aplica é paralizante. A receita que a Míriam sugere, ao meu ver, é aplicação de regras ortodoxas compatíveis com o Consenso de Washington e não compatíveis com a monitoração de índices de melhoria em Bem-Estar Social. Estes parâmetros sacrificam a qualidade de vida presente para garantir uma futura, e sempre futura, melhoria de vida que vem a conta-gotas para o cidadão, mas que vem à cavalo para bancos, sempre, sempre concentrando renda.

Então, a minha opinião quanto ao aumento de economia de 10 bilhões é a seguinte: está certo, desde que a relação dívida/PIB continue declinante e que os investimentos em serviço público e atividade econômica continuem de forma sustentável e com foco na melhoria de vida do cidadão. Não é só o controle inflacionário a qualquer custo que importa. As pressões inflacionárias que se apresentam são mais externas do que internas, ante o endividamento das famílias. E isso, aumento de juros Selic não resolve.

Analistas econômicos se agarram ao simples argumento de aumento de juros para controle inflacionário assim como os políticos populistas defendem que reforma tributária é criar o imposto único!! Os dois estão errados.

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