Pessoal, temos aqui tema complexo e sensível. Difícil não criar polêmica.. a não ser no caso de repetirmos manchetes de jornais de grande circulação, claro..
A liberdade de expressão é princípio caro da sociedade ocidental e da comunidade internacional. Também é algo sagrado a todos nós. Faz-me lembrar aquele chinês na frente do tanque de guerra que tentava completar seu trajeto. O chinês expressava seu desejo pela liberdade. É um herói internacional. Há muitos casos como esse a serem contados: Julian Assange, a menina do Afeganistão que ganhou o Nobel da Paz, Edward Snowden. São casos emblemáticos e lindos sobre a liberdade de expressão e defesa da liberdade de expressão. Mas isso se compara às charges desrespeitosas ao Islã de Charlie Hebdo?
A nosso ver, senhores, a cobertura dada pela grande mídia nacional está muito boa, no caso. Se posicionaram contra o assassínio ocorrido (quem foi a favor?) mas houve uma certa neutralidade na passagem da informação, dando acesso às publicações das charges. Agora, nosso debate e posição.
Somos contra o assassinato de todos os jornalistas do jornaleco de quinta categoria francês Charlie Hebdo. Os responsáveis, já mortos pela Polícia Francesa, estavam errados. As ofensas ao Islã procedidas pelo jornaleco já eram alvo de processos nas Cortes francesas por Associações Muçulmanas Francesas. O caminho legal ao abuso de imprensa é o meio civilizado para puni-lo em qualquer caso e, inclusive, campanhas para o fechamento do jornaleco, campanhas contra a compra do jornal Charlie Hebdo. Então, enfim, foram criminosos e devem pagar. Isso significa que a liberdade de culto tem limites e não justifica todo ato.
Posso imaginar outra hipótese em que a liberdade de culto sofreria restrição: cultos de seitas religiosas, que existem, em que se utilizam de vítimas humanas e sacrifício humano. Tem um episódio do filme “Faces da Morte” em que a Polícia Fderal Americana desbarateia uma seita dessa nos EUA. Vejam; o direito de culto não é admitido como superior ao direito à vida e a liberdade de culta não justifica o assassínio de outro ser humano em nossa civilização… nos dias de hoje, claro… cultos pagãos anteriores ao catolicismo e a inquisição são provas de que o contrário já existiu na Europa.
E a liberdade de imprensa e de expressão? É absoluta? Cremos que não. Achamos um desrespeito grande contra o Islã e os muçulmanos os desenhos de Charlie Hebdo, bem como suas charges sobre Maomé. A crença deles inclui a proibição de personificar a figura de Maomé, por conta do preceito muçulmano contrário à idolatria. E pior ainda caracterizá-lo em situação ridícula, blásfema e desrespeitosa à sua figura de maior profeta do Islã. Houve uma ótima reportagem do Globo que mostrava que um filme sobre Maomé do ano de 1970 nunca apresentou a figura de Maomé, mas somente registrava a reação dos presentes, em reuniões, a seus movimentos.. sequer a voz do Moamé foi reproduzida ou interpretada.. o texto de Maomé, não dito, era compreensível pelas ponderações de seus interlocutores no filme. Totalmente respeitoso!!! Por que não se pode fazer algo assim? Inclusive nas charges de Charlie Hebdo?
Posso imaginar muitas charges desrespeitosas no Brasil contrra a figura de Cristo.. a pedofilia ocorrente nas igrejas católicas permite que Charlie Hebdo faça uma charge do Cristo Redentor de batina suspensa defenestrando um garoto de 6 anos? Posso imaginar que o chargista brasileiro poderia encontrar repulsa social no Brasil e, dependendo de onde andar, possa sofrer agressões, mas aqui não seria assassinado… mas até quando ele poderia impunemente fazer estas charges?
Quando a charge é provocativa e quando é desrespeitosa? Eu coloco as charges de Charlie Hebdo como desrespeitosas. Isso não dá direito de ninguém, que se sentiu ofendido de matar. Mas se queremos respeito, inclusive à nossa integridade física, devemos respeitar os outros e suas crenças… Se estupram sua filha, você pode agredir o estuprador? Não, mas se agredir, houve uma participação da vítima na cadeia sucessória dos fatos que levaram à agressão que sofreu? A vitimologia entende que a culpa do ofensor diminui…
Agredir por honra à família, honra a seu nome, honra à pátria (houve um brasilerio que morreu ao comemorar em um bar argentino a virtória do Brasil sobre a Argentina em uma Copa do Mundo…) , por motivos religiosos ou políticos não exime de responsabilidade o agressor/defendor desses símbolos humanos caros de responsabilidade.. mas não há quem não entenda a razão da agressão. Quem resolveu agredir o símbolo familiar, religioso, de pátria, ou de futebol (há mortes por jogos de futebol…) sabe que está criando risco a si. Perguntamos: isso é necessário?
Não seria mais inteligentre que houvesse uma forma de fazer charges que não agridam a religião muçulmana do que insistir que a agressão a símbolos muçulmanos deva ser tolerada pelos praticantes dessa religião?
Convém punir os culpados pela morte dos jornalistas da Charlie Hebdo. Isso é de rigor. Mas convém pensarmos mais nos limites do direito de expressão como uma expressão da democracia em que o nosso direito tem limites onde inicia o direito do outro… isso também se aplica ao direito de liberdade de expressão.
Nossa opinião. Errou Charlie Hebdo e, naturalmente, erraram os criminosos que executaram os jornalistas responsáveis pela charge.
O direito de expressão se encontra em nossa sociedade ocidental em fase infantil, em que tudo gira em torno de si, sem que o outro tenha qualquer importância ao jornalista que escreve qualquer coisa que deva, segundo a interpretação social vigente, engolir tudo e completamente tudo o que um jornalista quiser escrever. O jornalista pode agredir, segundo essa perspectiva, e não pode ser agredido. Agride com a escrita, mas a agressão através de voz também pode gerar a qualquer um em sociedade a resposta através de agressão física, dependenddo de como se ofenda a vítima da agressão verbal. Convém pensarmos em exercício de liberdade de expressão com menos agressão aos princípios e símbolos caros alheios.
p.s. de 06/02/2015 – Atualizado, ampliado e corrigido. A menina heroína nacional a que nos referimos ão era paquistanesa, mas afegã.