Chamo a atenção de vocês para a coluna da Míriam Leitão de hoje, 23/11/2010, com informações interessantíssimas sobre a crise da Irlanda.
Informa que ela iniciou como a dos EUA e a da Europa, com base em anterior alta valorização imobiliária, dando a impressão de riqueza à população, e, depois, ao estourar a bolha imobiliária, e tendo em vista o alto endividamento da população com base nesta impressão de crescimento patrimonial vertiginoso, gerou prejuízos aos bancos, que tiveram de ser socorridos pelo Estado Irlandês, o qual, por sua vez acabou triplicando a relação dívida/pib e hoje precisando de empréstimos da Europa para se manter na Zona do Euro.
Gente, a Miriam informa que a valorização imobiliária tinha sido de 315%, antes do estouro da bolha. Após isso a queda dos imóveis em média foi de mero 36%, gerando todo o prejuízo. Quero que vocês vejam essas informações para pensarmos sobre o Brasil.
O país chamado tigre celta, pelo milagre econômico, que chegou depois de vinte anos de esforço fiscal a ter relação dívida/pib de 25%, em 2007, está agora, depois de tentar resgatar seus bancos com 50 bilhões de euros, precisando de mais 90 bilhões de euros, metade de seu atual PIB, com relação dívida/pib de 93% (projeção até o fim do ano) e com déficit fiscal de 32% do PIB!!
Vejam estes trechos da Miriam:
“Esse é mais um dos inusitados desse mistério irlandês. O melhor aluno da classe está em recuperação. Por vinte anos, a Irlanda foi exemplo de disciplina fiscal: reduziu a dívida pública de 108% do PIB, em 1986, para 25%, em 2007. O PIB cresceu em média 7,4% ao ano de 1995 a 2007. Falava-se de milagre irlandÊs. O País era apontado como exemplo e havia mil explicações para o seu sucesso.
O problema é que parte do crescimento é resulado de uma bolha imobiliária. O preço dos imóveis subiu 315% de 1996 a 2007. De lá para cá, caiu 36%, tirando renda das famílias e causando prejuizos bancários.”
Primeiro, quero dizer que a situação de lá é diferente daqui, como falei, porque o sistema bancário é muito mais rígido. Segundo, tudo indica que a Irlanda negociou os sub-prime, na área privada, ou seja, mais uma vez a falta de regulamentação de mercado creditício e financeiro criou a possibilidade de bancos procurarem lucros com operações arriscadas de crédito, a qual, ao falhar na ponta de pagamento (tomadores endividados não pagaram), fez ruir bilhões em créditos que dependiam desses pagamentos em cadeia.
Aqui, portanto, a situação é diferente. Ninguém compra carro com empréstimo lastreado hipoteca sobre lucro hipotético de imóvel já financiado, nem há negócios realizados em massa no Brasil com esse tipo de título.
É isso, ninguém vê quando chega bolha. Mas dá pra desconfiar quando há valorização muito acima da média de mercado. Os imóveis nas grandes capitais brasileiras cresceram entre 100 e 200% em dois anos… isso é normal? Está de acordo com o crescimento da renda do brasileiro neste mesmo período? Se a resposta é negativa, então é uma bolha, senhores. o aumento não foi em uma região em que houve obras fantásticas, foi de repente, a partir de 2008, logo após a crise financeira mundial. Coincidência? Não. Valores fugiram para cá e com a normalização européia e americana, senhores, voltarão. Não estão na Bolsa. Esse ano a Bollsa, dois anos depois, ainda não recuperou os 74 mil pontos atingidos antes da crise. Foram muito para imóveis, junto com valores de brasileiros por empréstimo consignado facilitado pelo governo na época de crise, acertadamente, para manter o nível de atividade econômica e empregos.
Mas duas coisas são importantes.
Primeiro: a irresponsabilidade do cidadão em se deixar levar pela impressão de valores do mercado é fatal. Aqui está ocorrendo isso. Estão pagando o preço que pedem pelos imóveis. Isso é grave, pois se você não valoriza o seu dinheiro, quem vai valorizar. Eu tive a oportunidade de comprar dois imóveis em área que me interessava, mas achei caro e preferi ficar pagando aluguel e esperar melhor momento de compra. Estão à venda ainda e aumentando a cada mês. Ridículo. É um risco para mim, e é opção de cada um, mas por favor, por você e por toda a economia, valorize o seu dinheiro ou sua capacidade de endividamento.
Segundo: O grande erro da Irlanda foi liberar esse dinheiro (50 bilhões de euros) aos bancos sem maiores contrapartidas. O correto seria (e trato disso em minha tese de Pós-graduação: “Limites Possíveis aos Atos privados – O Estado Conformacional”) forçar realização de Assembléia Extraordinária de cada banco que autorizasse aumento de capital, devendo, à falta de valores privados, a união entrar com o capital e se tornar sócia, majoritária ou não, mas com controle, para pôr ordem, na qualidade de gestor (sim, estatização temporária) e depois de organizado e regular, tendo garantido normalização das operações bancárias, vender sua participação de novo ao mercado, talvez até lucrando, quem sabe? Teriam sido respeitados os direitos de acionista, leis societárias, garantido que os 50 bilhões tivessem o destino de irrigar o mercado ao invés de ficarem presos nos bancos amedrontados para emprestar e talvez não tivesse chegado a este ponto. Esta sugestão que achei ótima partiu da Associação dos Direitos dos Acionistas alemã (DSW), no artigo “Alemanha aprova nacionalização de bancos”, publicado em 18/12/2009 no Jornal O Globo on line. O citibank foi estatizado assim como a AIG e outras instituições americanas e agora voltam aos poucos aos privados.
O importante aqui é: atenção senhores e mente aberta. Atenção e inteligência são necessários aos cidadãos e ao Estado para que ninguém sofra desnecessariamente.