Pessoal, trago a dica de um artigo, oferecida pelo Blog do Theotônio dos Santos, que trata da visão unilateralista de FHC que amadureceu no Brasil de 1964 até 1985, culminando na junção de pobres e ricos a favor da democracia e liberdade, sob um prisma interno brasileiro chamado “teoria do autoritarismo”, esquecendo a perspectiva global do movimento capitalista enquadrando o Brasil em uma rede de trabalho e capital chamada “teoria da dependência”.
O artigo está disponível e é muito interessante. O artigo “História de um não-debate: a trajetória da teoria marxista da dependência no Brasil”, de Fernando Correa Prado, trata do “não-debate” ocorrido entre estas duas visões sociológicas sobre o período político vivido no Brasil e no mundo a partir de 1960/1970, quando os defensores da visão “dependentista” foram expulsos do País e a visão de FHC teve amplo campo para se consolidar, sem haver um questionamento sobre embate de classes e sem haver um questionamento sobre o movimento em bloco mundial do centro capitalista para organizar o capital e trabalho no mundo e concretizar a “dependência” necessária da periferia mundial em relação ao capital do centro, ao passo em que esta periferia ofereceria a matéria-prima necessária para a continuidade do desenvolvimento e enriquecimento do centro. E nós nessa periferia.
Não quero aqui fazer essa discussão. Quero dar margem à circulação de informação e possibilitar o debate. Talvez, por sorte, de certa maneira, o melhor para o Brasil tenha ocorrido com a difusão da “tese do autoritarismo” de FHC, pois uniu a população ao invés de criar um antagonismo baseado no embate de classes.
Para mim isso é bom, pois sou social-democrata e não socialista ou comunista. Quero capitalismo com segurança social. Quero Estado de Bem-Estar Social como o que existe na Europa. Pelo que vi e li, concluí que é o melhor para um país e seu povo, sem dúvida alguma (mas com certeza mais fácil de ser alcançado por países como o nosso: rico, unido, educado e organizado, mesmo que não como gostaríamos ou mereçamos).
Mas o debate sobre a teoria da dependência é importantíssimo (cujo autor/defensor brasileiro mais conhecido é Theotônio dos Santos)!! Porque nos dá uma dimensão de controle de movimentos em política internacioanl, que realmente afeta a nossa vida e de nosso país, que sem ela é impossível. Quem lê o livro “Trilateral – a Nova Fase do Capitalismo Mundial”, edição esgotada da Edtitora Vozes, tem um choque de lucidez que dificilmente terá sem ter acesso à teoria da dependência, totalmente presente no livro. E com provas, fatos e trasncrições de documentos oficiais da Comissão Trilateral Americana.
Selecionei um trecho do artigo e em seguida ofereço o endereço de acesso.
Transcrevo o trecho:
“Aqui, na verdade, houve um não-debate, e em seu lugar existiu uma leitura unilateral em relação às contribuições vinculadas ao marxismo e à luta revolucionária latino-americana. Tais contribuições, além de terem sido alvo da censura e da perseguição política, sofreram um sistemático trabalho de deturpação intelectual, no qual o ex-presidente e sociólogo Fernando Henrique Cardoso teve um papel central, contando também com a conivência de diversos intelectuais de peso e com uma tenaz inércia intelectual, que apenas recentemente tem sido rompida. No Brasil, foi se construindo uma espécie de “pensamento único” sobre o tema a dependência centrado em grande medida na perspectiva defendida por Cardoso, de tal modo que se firmou um relativo desconhecimento – e até mesmo deformação – das contribuições inscritas na tradição marxista, dentro da qual estariam as obras de Andre Gunder Frank,Theotônio dos Santos, Vânia Bambirra e, principalmente, Ruy Mauro Marini. Revelar em linhas gerais como isso foi produzido e reproduzido em diversas e influentes publicações é aprincipal intenção deste artigo.
Para tanto, na sequência será apresentado primeiramente o começo do que se pode chamar de verdadeiro “boicote” intelectual à teoria marxista da dependência, apontando algumas referências de textos em que Cardoso busca pautar sistematicamente o debate sobre o tema no Brasil. No terceiro ponto, o artigo passa a mostrar outras referências também reveladoras de como o bom debate nunca se deu entre vários importantes intelectuais brasileiros, assinalando que, na mais indulgente das hipóteses, existe uma “inércia intelectual” no sentido de levar adiante a repetição das interpretações oferecidas pela pluma nada balanceada de Cardoso. A quarta seção sobre a “inércia intelectual” e “as ressonâncias atuais” é aberta com um resumo das principais críticas cunhadas em torno à obra de Andre Gunder Frank, Theotônio dos Santos e Ruy Mauro Marini, críticas estas que, como se verá também nessa parte, seguem repetidas sempre que possível, isso quando não se criam novas críticas insustentáveis. Por fim, no que seria uma conclusão provisória – já que este tipo de trabalho de “limpar o terreno do debate” é coletivo e, claro, não termina aqui –, apontamos algumas consequências políticas do histórico não-debate teórico sobre a estrutura dependente e periférica do Brasil dentro do sistema mundial capitalista, deixando em aberto a necessidade de seguir e ampliar a recuperação crítica e prospectiva da teoria marxista da dependência, como uma da possíveis formas de se apropriar das ferramentas teóricas adequadas para a compreensão do papel da América Latina no atual sistema mundial capitalista.”
Acesse o artigo em http://theotoniodossantos.blogspot.com/2011/07/bom-artigo-sobre-teoria-marxista-da.html
Boa leitura.