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Análise da Declaração de “mea culpa” da Presidente Dilma

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Mais uma vez o amigo Oswaldo Tolesani traz à baila bom tema para discussões. Perguntou, no Facebook, a minha opinião sobre a declaração de Dilma sobre o fato de que não havia percebido a gravidade da crise econômica. Reproduzo abaixo minha resposta e em seguida a complemento para o Blog Perspectiva Crítica.

Texto reproduzido:

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“Na minha maneira de ver, mais uma vez o marketing dela errou. Preferiram a clássica fórmula de tentar apagar o debate a partir da assunção de um erro. Houve erros? Sim. Mas a política anticíclica manteve emprego e crescimento até 2014, enquanto EUA e Europa amargaram queda de PIB, recessão e desemprego. Ela deveria falar a verdade, se é que ela sabe.. rsrsrs. Mas preferiu seguir a assessoria de comunicação e marketing eleitoral e partir para tentar apagar o debate sobre os problemas econômicos simplesmente assumindo – os como dizem.

A verdade é aquela que publiquei no Blog Perspectiva Crítica: crise internacional desde 2008 exigiu medidas anticíclicas, as quais atrasaram nossa queda econômica; esta se tornou inevitável por falta de retomada de crescimento econômico consistente nos EUA e Europa, incluindo China e Índia. Como medidas de incentivo ao consumo (dentro da política anticíclica) endividaram as famílias, hoje não se pode vender para dentro do Brasil ou para o exterior. Vender pra quem? Ninguém. Então as indústrias produzem menos, gerando a queda econômica.

Soma-se a isso, a questão elétrica e de controle do preço da gasolina, as quais não darão pra serem explicadas aqui, mas estão explicadas no blog. A verdade é essa. Mas a presidente, com sua infinita capacidade de não se comunicar, prefere entregar esses pontos ao invés de falar a verdade, demonstrando sua vacilação e talvez falta de noção sobre o que foi feito.”

O erro foi grande em adotar essa postura na minha opinião. Para mim passa recibo de que não sabia o que estava fazendo. Talvez não soubesse.. rsrsrs. Quem sabia com certeza era Mantega. A questão é clara como exposta em pouquíssimas linhas da transcrição acima. E agora? Quando as coisas voltarão ao normal? Senhores, mais uma vez a resposta parece simples: quando a economia mundial voltar a crescer, quando a China voltar a crescer, quando o endividamento das famílias retroceder, todos fatos que precisam de tempo.

Há o que se fazer para modificar mais rapidamente esse quadro? Sim. Não precisa simplesmente seguir a receita mais brutal ortodoxa que ceife o máximo de empregos e crescimento para melhorar a economia, como a entourage da grande mídia e do mercado financeiro querem. Mas a União tem sido lenta em tomar atitudes. Deslanchar licitações de aeroportos, ferrovias, rodovias é muito importante. Criar condições privilegiadas para investimento em desenvolvimento de novas tecnologias e novos negócios no mundo da tecnologia ajudaria muito. Pacotes de compensação tributária a partir do investimento. O investimento tem que ser incentivado. Não é dar subsídio para atividade que já existe, mas incentivar novas. Gerou receita? Tem compensação tributária.

Também não há estudo de onde seria necessário aumentar presença de servidores públicos para incentivar investimentos. Por exemplo: já houve notícia de que a contratação de 400 servidores públicos tornaria possível que o Porto de Santos trabalhasse 24 horas, gerando de 50% a 60% a mais de exportação daquele Porto que é responsável por 20% do total da exportação/importação brasileira, que hoje está em torno de 500 bilhões de dólares no total. Não vale a pena? Gastar com 400 servidores, à base de 12 mil reais cada, ou seja, 4,8 milhões de reais mensais ou em torno de 50 milhões de reais anuais, para obter em troca aumento de 50 bilhões de dólares anuais (10% do fluxo anual de importação/exportação do Brasil) em exportação/importação? Mas a abordagem do tema “contratação e pagamento de servidores” em nossa sociedade só existe pelo lado do “gasto público”.. é risível.

Então, a mídia não ajuda, mas a Presidente também é semi-inerte.

Quanto à questão da energia elétrica, já explicamos aqui. Houve uma argumentação legítima para a alteração contratual que gerou baixa de tarifa. Ela poderia ter ficado explicando corretamente isso. Mas isso não ocorreu. Falhou a comunicação presidencial. Era simples de entender e já explicamos isso em outros artigos. Mas houve a pior seca de nossa história nos últimos 89 anos. A receita das hidrelétricas minguou e tornou inviável a atividade com a nova tarifa. Necessário reverter isso e essa reversão elevou a tarifa em mais de 50% este ano de 2015.

A questão do petróleo também foi péssima. O controle do preço da gasolina da forma como ocorreu foi um erro. Sempre chamamos atenção para isso. Prejudicava muito a Petrobrás. Mas o pior foi (economicamente falando), a Operação Lava-jato, criando grande problema interno com reflexos nos investimentos da Petrobrás, ao mesmo tempo em que houve a manipulação do preço do petróleo internacional pela Arábia Saudita (com ou contra os EUA, depende da tese que você adota). Isso criou grande problema para uma empresa que mexe com dezenas de fornecedores de todas as espécies e ajudou a derrubar o emprego e a atividade econômica nacional. As correções do preço do diesel e da gasolina e do gás também geraram problema econômico nesse ano de 2015 (pressão inflacionária).

Por fim, controlar a inflação, sob pressão dessas correções de energia elétrica, combustíveis e preços administrados (segurados desde 2013 por causa das também das movimentações cidadãs de rua desde junho de 2013), somente com aumento de juros, sem usar outros meios, como aumento de depósito compulsório, também ajuda a derrubar a economia de forma geral, piorando as contas públicas e pressionando mais negativamente o perfil da dívida do País com reflexos negativos para a confiança dos empresários em retomar os investimentos. E esse quadro gera o que vivemos hoje: inflação alta, quadro semi-recessivo econômico e aumento de desemprego com perda de renda média.

Mas se o quadro fosse o fim mesmo, ninguém preveria baixa de inflação para o ano que vem com retomada de crescimento a partir de junho de 2016. Então, a Dilma foi imbecil em adotar a postura de que o quadro escapou à sua percepção. Ou ao menos a comunicação presidencial errou, a nosso ver.

Deveria ter feito mea culpa sim, mas sobre as questões corretas, como diminuição de Ministérios, diminuição dos 118 mil cargos em comissão (na Alemanha são 600 e na Inglaterra são 500). 118 mil é mais do que todos os cargos efetivos e comissionados de todo o Poder Judiciário da União, para se ter noção!!! Mea culpa sim, para prover a República de cargos públicos na quantidade, qualidade e onde se precisa em todo o País, para tornar o ambiente burocrático e de negócios mais eficiente, como ocorre na Alemanha e em todos os países desenvolvidos. Mea culpa sim, por não ter sido ágil par criar e incentivar ambiente de investimentos, por ter errado na política de combustíveis, ainda mais prejudicando a indústria brasileira de álcool combustível. Agora, dizer que não viu que a crise era como se apresenta pura e simplesmente? No mundo inteiro não se podia saber que a China, por exemplo iria ter queda de pib da forma como se apresenta (a China crescerá abaixo de 7% esse ano), nem que o petróleo iria a menos de 40 dólares, ou que haveria a pior seca de 89 anos, ou que Europa e os EUA demorariam tanto a se recuperar.

Mas é isso.. declaração pífia, demonstra a envergadura do político. A verdade é que parece que ela está perdida mesmo.. e nessa medida, a declaração não poderia ser mais própria.

p.s. de 1º/09/2015 – Texto revisto.

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