A adoção de todas as precauções ecológicas possíveis talvez não seja suficiente para evitar o aquecimento global. Com certeza há uma dinâmica geo-físico-química-metereológica do planeta Terra que induz a existência de alterações climáticas profundas de tempos em tempos e que é impossível de reverter.
O debate atual está um pouco maniqueísta entre verdes e céticos. Os verdes entendem que a proteção de toda a ecologia impediria o aquecimento global ou diminuiria a influência humana sobre o aquecimento global. Os céticos ecológicos, nos EUA representados em grande parte por Republicanos e fanáticos religiosos cristãos, entendem que Deus é quem determina o que ocorre em sede de clima e o que não ocorre, não cabendo ao homem uma importância tão grande na alteração do clima, não havendo, portanto, porque parar com a produção econômica suja que existe já que não é possível alterar os destinos da Terra segundo desígnios divinos. Essa forma de pensar se coaduna com os empresários e industriais que querem os métodos de produção como estão, mesmo que sujos, pois isso garante melhores lucros, claro.
Então, senhores, não estou dizendo que adotar padrões de produção ecologicamente correto não seja desejável. É imprescindível para que façamos o que está em nosso alcance para manter as relações bio-físico-químicas, os biomas e a vida em todo o globo. Defender a ecologia é defender um comportamento responsável e ético com o patrimônio da vida na Terra. Isso já está se tornando algo inquestionável.
Sabendo nós que nossa atitude pessoal afeta o clima e a qualidade de vida na Terra, nada mais ético e justo do que alterarmos nosso comportamento de forma a diminuir ao máximo o impacto negativo de nossa presença no mundo. E isso vai além de questão meramente de alteração de forma de produção. Isso influencia (ou deveria influenciar) a forma de consumo, a forma como você trata seu lixo doméstico, evolução de formas de tratamento de esgotos residenciais, hospitalares e industriais, desenvolvimento de tecnologias de segurança na produção de energia nuclear, mais investimento para descobertas e desenvolvimento de energias limpas, apoios mundiais e governamentais para a substituição de combustíveis sujos, como petróleo e carvão etc..
Isso tudo é importante e muito tem sido feito nesses sentidos (menos do que se deveria e do que somos capazes). Só que as calotas polares estão derretendo e talvez isso seja inevitável e devêssemos tratar sobre o que fazer quando elas derreterem ainda mais. Por quê? Porque em 900 DC os Vikings colonizaram a Groenlândia.
Observem, há pouco mais de mil anos atrás a Groenlândia foi colonizada por Vikings e, segundo Jared Diamond, no livro “O Colapso”, criavam gado de pequena estatura. Havia vegetação rasteira e não se tratava de uma rica folhagem, mas foi o suficiente para a ocupação Viking grande o suficiente e por tempo suficiente para que fosse estratificada em plebeus e nobres.
Foi descoberto, ainda, que as famílias nobres conseguiam ter gado e alimentar-se de carne bovina, de melhor qualidade gastronômica do que a de foca, por exemplo, que compunha a alimentação proteíca básica das famílias plebéias, juntamente com peixe. Durante o verão era possível obter-se leite do gado e fazer-se manteiga e iogurte para continuar o consumo de proteína derivada do leite durante o inverno, quando o gado não conseguia se alimentar tão bem e, portanto, não produzia leite.
O esgotamento das matérias-primas na Groenlândia, a pouca capacidade de regeneração do raso e pouco fértil solo e, por consequência, da vegetação, a dificuldade de obtenção de ferro e madeira no local e a dificuldade de importação, acabou gerando a extinção da colônia,
Mas veja o que importa para o nosso texto: a Groenlândia não era como é hoje. A temperatura média da Terra era naturalmente mais quente do que a que temos hoje para que a Groenlândia fosse como Jared Diamond comenta e não existia sequer uma indústria para emitir gás carbônico, ou sequer um automóvel para emitir monóxido de carbono ou qualquer outra coisa que exista hoje para afetar a camada de ozônio da Terra. E mesmo assim, a Terra esfriou neste meio tempo. E a Groenlândia ficou inabitável nos mesmo termos em que o fizeram os Vikings.
Antes disso ainda fala-se sabidamente sobre duas eras do gelo, uma mais extensa e uma menos extensa há milhares de anos. A primeira inclusive é tratada como causa da extinção de dinossauros e início da era dos grandes mamíferos, como o mamute e o tigre dente-de-sabre. Muitas alterações na vida na Terra ocorreram em função de modificações climáticas sem causa ou com causa humana alguma.
Então veja, se houve Eras de Gelo, é porque houve eras mais quentes. Como funciona esse mecanismo natural da Terra de alteração de clima de forma brusca em certos períodos? É isso o que está acontecendo agora? Em que medida toda a produção fóssil do mundo afeta esta dinâmica natural?
Eu acho que o verdadeiro questionamento sobre as alterações climáticas no mundo não estão sendo estudadas, pelo que tenho acesso através de publicações nacionais e internacionais, e quando se começa esse questionamento, como não há interesse econômico ou “político-ecológico” nesta discussão, ele é rapidamente silenciado.
Eu vejo que devemos adotar todas as medidas ecológicas possíveis, como resultado de nossa consciência e criar um mundo melhor e contribuir para a conservação da vida na Terra, mas eu gostaria que fosse feita a pesquisa correta e o debate sincero das razões das alterações climáticas mundiais. Isto não está sendo feito.
Hoje, pelo que vejo, há meramente exploração ideológica verde (para adoções de formas de vida humana mais ecológica) ou exploração ideológica produtivista-predatória (para manutenção de meios de produção e consumo irresponsáveis, mais baratos e lucrativos). Um debate sério sobre a questão enfrentaria o desafio de se desvelar a dinâmica bio-físico-quimico-meteorológica (quem sabe astrológica, ainda) do planeta para explicar todas as alterações climáticas mundiais e criar a tese desta evolução climática de forma perene ou menos caótica ou imediata como está sendo tratada atualmente.
Ainda não vi o enfrentamento sério do debate sobre causas da alteração do clima mundial. E não sei se veremos algum dia.
p.s. de 02/10/2012 – texto revisto.