Se a economia é a ciência da organização da casa, então existe um problema econômico realmente sério: a miséria. Recupero a famosa fórmula do filósofo e escritor de língua francesa Albert Camus inclusive porque resolver problemas econômicos é uma tarefa de Sísifo, a figura mítica que teve como punição levar uma pedra montanha acima só para vê-la rolar montanha abaixo e ter que repetir a tarefa em seguida. O crescimento e o desenvolvimento não são exatamente problemas econômicos mas são referentes à natureza, parte ponderável, parte imponderável, das próprias coisas. Pode-se plantar a semente certa no local certo e rezar para que ela dê frutos. Se haverá frutos não é um problema econômico. É um problema quase teológico. Agora distribuir os frutos é um problema econômico e principalmente econômico, embora também social, político e cultural. E se a divisão mundial, nacional e regional está gerando miséria cabe aos estudos econômicos assumir a sua responsabilidade e o seu papel para impedi-la. Um problema econômico deve ter uma solução econômica. No entanto, onde estão os princípios, os gráficos, as ferramentas, as propostas?
Existe um problema econômico realmente sério…
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Ótimo texto e perspectiva ainda melhor!
Cada ciência estuda um recorte da realidade e isso é bom porque oferece a visão dos especialistas. Mas pode se tornar ruim quando o especialista se esquece de que recortar a realidade é apenas uma estratégia de estudo e que a realidade não se resume ao seu recorte.
É por isso que sempre haverá lugar para a filosofia.
Parabéns, Paulo Gravina!
Excelente comentário, André Tenório! Obrigado pelos elogios!
Prabens, Paulo!
Texto super importante nesse momento. Fomos até onde deu com nosso conceito de economia. E parece que -como sociedade- precisamos de um novo conceito.
Apesar dos pesares acho que há mais vontade de mudança agora. Mas ninguém sabe pra onde.
Onde estão os gráficos???
Abs.
Muito obrigado, Marcelo! Também acho que existe vontade de mudança para muita gente e, para saber para onde vamos, precisamos de mais estudos sobre o assunto. Como já disse Sêneca: se alguém não sabe para onde navega, nenhum vento lhe é favorável.
Obrigado pelo texto, Paulo – trouxe-me algumas reflexões:
1. No “estado de Natureza” o homem não é usualmente miserável. Tribos isoladas, esquimós, povos pastoris, ilhéus polinésios, etc. só parecem sofrer na miséria quando a natureza lhes traz alguma catástrofe.
2. Apesar de não serem habitualmente miseráveis, também têm vidas muito mais “sórdidas, brutais e curtas”, seja pela violência e pela guerra (ver Pinker), seja pela ausência da ciência médica.
3. A economia moderna parece ter transformado o fenômeno da miséria de algo epidêmico e dependente da natureza em algo endêmico e dependente do ser humano. Não sei qual é o pior dos dois.
4. Os ciclos de retorno entre a economia, lidando com a criação dos recursos, e a política, lidando com a sua distribuição, são infinitamente complexos, e entrelaçam-se em uma teia de incentivos, poder, abusos, mérito, corrupção, moralidade e umas dezenas de outros substantivos abstratos.
5. Os dados indicam uma diminuição brutal na proporção de miseráveis do planeta nas últimas décadas. Isto indica que estamos no caminho certo?
6. Os dados também indicam que há ainda centenas de milhões de pessoas em situação de miséria, apesar de já haver produção econômica suficiente no mundo para que ninguém esteja. Isto indica que estamos no caminho errado?
7. O que estamos dispostos a sacrificar para eliminar a miséria? A China passou um rolo compressor na miséria, custando muito de sua cultura, seu meio-ambiente, e da liberdade de sua população. Valeu a pena?
8. Quem deve responder todas essas perguntas pela sociedade como um todo? Quem tem mais votos? Quem é mais qualificado tecnicamente? Quem é filho da dinastia reinante?
Não tenho respostas definitivas para nenhuma delas, nem certeza nas observações. De qualquer forma, obrigado novamente – é um prazer ter notícias suas de tempos em tempos e saber que continua pensando nas perguntas fundamentais. Você sempre traz novas perspectivas.
Muito obrigado pelos comentário e pelas ponderações, LF Costamilan! Também não tenho resposta para os seus pontos 5-8 e talvez com o nosso atual instrumental científico e acadêmico nem seja possível respondê-los. A questão também é começarmos a lidar e a nos responsabilizar pelo sério problema da miséria, inclusive estudando, pensando e debatendo na sociedade como um todo para chegarmos a soluções práticas.