Aconselho a leitura do artigo do Blog da Miriam Leitão intitulado “As impressões de uma grega sobre seu país”, publicado hoje, 1º de março de 2012. Nele você temm informações de uma professora grega de relações internacionais da FGV/RJ sobre o que ocorre em seu país, sob sua perspectiva de grega. Temos aí uma oportunidade interessante para ver o que não se pode deixar acontecer.
Selecionaei o seguinte trecho:
“De acordo com os números fornecidos pela professora, o setor público sustenta o Estado (40% a 50% do PIB), sendo seguido pelos setores de turismo (17% do PIB) e pela agricultura (menos de 10%).
Além de estar em recessão há quatro anos, a Grécia sofre com o elevado desemprego – a taxa geral está em 19,9%, mas entre os jovens chega a 48,1%. Também importa mais do que o dobro do que exporta, o que provoca desequilíbrio na balança comercial.
Como o país não pode mexer na sua moeda, por fazer parte da zona do euro, seus produtos vendidos no exterior, principalmente azeite de oliva, frutas, produtos derivados do leite, tecidos, mármore e vinhos, são caros. E os produtos importados, principalmente chineses, chegam ao país com preços mais competitivos.
– O consumo de importados é muito grande. Nos últimos anos, o país se desindustrializou. A ideia é que o setor de turismo cresça até 2020 para que seja responsável por 20% do PIB – diz Elena.”
(acesse o integral em http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2012/03/01/as-impressoes-de-uma-grega-sobre-seu-pais-434175.asp)
Observe, gente, é claro que não é possível comparar diretamente a Grécia conosco, principalmente a partir destas informações trazidas pela professora grega, pois a economia grega, em comparação com a nossa praticamente inexiste. Mas dá para se entender algumas coisas a que podemos, de uma diferente forma, estar alertas para que não ocorra conosco.
O enredo para o qual chamo atenção é o seguinte: após entrar para a zona do euro, a grécia passou a possuir uma moeda forte, dando condições de consumo imediato à sua população (principalmente de produtos importados), bem como acesso a juros mais baixos para financiamento de consumo e investimentos. Mas o país não teve política industrial e os políticos utilizaram o serviço público de forma clientelista, não havendo contratação por mérito. Resultado: o aumento de renda e o acesso a juros baixos foram usados para consumo e não para investimentos produtivos ou modernização da economia e pauta de produção e/ou exportação de produtos industrializados gregos. O serviço público também não foi utilizado como indutor de crescimento e virou cabide de emprego, sendo ineficiente e transformlou-se em custo e não em mola propulsora de desenvolvimento ou base de apoio para o cresciemtno e desenvolvimneto econômico. Sem política industrial, hoje a economia vive de serviço público (50% do PIB), da agricultura e do turismo, ou seja, é um país falido.
Gente, é importante vermos que existência de política industrial é pressuposto de desenvolvimento sustentável de uma economia. É importante perceber que moeda forte deve ser motivo de pagamento de dívidas das empresas e do governo, enquanto a moeda está forte, e incentivo para modernização de máquinas para as empresas nacionais ganharem eficiência e produtividade. E também é importante exigirmos um serviço público que premie a competência e o mérito, seja para o ingresso no serviço público, seja por conta do atingimento de metas no serviço público. Serviço público custoso é o que é ineficiente, incompetente e desmotivado.
Assim, concurso público e não cargos em comissão (hoje 22 mil no governo) é que são necessários. Boa remuneração para atrair pessoas competentes, e carreira pública definida para manter e incentivar o servidor público a permanecer no serviço público e atingir metas.
Nós não estamos na condição da Grécia, mas combater uma valorização excessiva de nossa moeda é bom, como Mantega está fazendo. Impedir a desindustrialização com política industrial é essencial e nisto ainda não estamos obtendo êxito, pois a produção industrial brasileira para o mercado interno do País vem caindo ano a ano, justamente por causa da desvalorização do dólar. Isso mina nossa geração de empregos com origem em empresas e indústrias brasileiras. Temos de ver isso. Nossas indústrias já produziram 35% do consumo interno e hoje produz 16% do que é consumido internamente!!! Isso é grave!
E temos de ter o melhor serviço público do mundo. temos de investir no serviço público e exigir profissionalismo. Temos de exigir resultados como existem vindos da Petrobrás, da Receita Federal, do BNDES, da Embrapa, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal. Temos de exigir remuneração compatível com a complexidade dos cargos, ingresso por concurso público e não por indicação política em cargos em comissão onde não seja necessário. Cargo em comissão deve ser exceção e somente para staff estratégico, de confiança, com atuação direta junto a autoridades, pois essa é a razão de ser de cargo em comissão.
Assim podemos continuar a criar um ambiente perene e saudável para o crescimento de uma economia brasileira para brasileiros. Geração de riqueza no País com participação dos brasileiros nessa riqueza.
Temos de estar atentos ao exemplo grego no que ele pode nos indicar caminhos errados que não devem ser seguidos e que devam ser identificados o quanto antes para correção de rumos o quanto antes.
Política Industrial. Serviço público profissional. Defesa de valor adequado do câmbio (defesa de câmbio é diferente de controle ou manipulação artificial de câmbio, ok?). Esse é o caminho da criação de ambiente econômico saudável e da criação e proteção de riqueza nacional.
Só um detalhe. Li um artigo e vi uma reportagem que evidenciou que os gregos foram admitidos na zona do euro para agregar mercado consumidor para os produtos alemães e franceses. Neste sentido, a moeda forte impedia um desenvolvimento industrial com a Alemanha e França de uma incipiente indústria grega. A elite local ficava satisfeita em poder vender artigos primários, base de sua riqueza, o povo grego feliz em comprar produtos franceses e alemães a que não tinha acesso e assim seguiu o acordo tácito. Não satisfeitos com estas condições não indicadoras de um bom futuro á Grécia, a cada empréstimo grego tomado junto ao BCE, e/ou a cada indicação de interesse de investimentos alemães e franceses no país, a Grécia era obrigada a comprar produtos franceses e alemães inclusive de que não precisava, como por exemplo seis fragatas francesas e um submartino alemão!! Assim, a manutenção na Zona do Euro era ao custo também de endividamento grego à base de obrigações de compra de produtos franceses e alemães. Alemanha e França exploravam o parceiro e não ajudavam no desenvolviemnto de políticas industriais e econômicas promissoras à Grécia.
É lógico que a culpa também é da Grécia de nada fazer para reverter essa situação e deixar-se afundar em dívidas com vistas no enriquecimento imediato das elites políticas e econômicas locais e na felicidade imedita das massas através de consumo de importados. França e Alemanha não foram boazinhas para a Grécia, mas a Grécia foi incompetente e inocente, sendo a principal responsável por seu próprio desastre.
Resta-nos torcer para que a Grécia saia desse buraco, o que é difícil sem previsão de crescimento econômico, e aprender com o que eles fizeram de errado.
p.s. de 02/03/2012: revisto e ampliado