Bem, finalmente… era disso que sempre falamos.. só queremos debates honestos. O artigo “Os vilões de sempre – Técnicos do Governo estudam tirar alimentos do cálculo da inflação; Focus prevê estouro da meta” está muito bom. Isso é um exemplo de, mesmo com uma leve tendência de crítica à mudança de método de cálculo do IPCA, um artigo informativo.
O título não está incongruente com o teor do artigo. Está muito bom e congruente. Indica para o leitor o que ele terá pela frente. E o conteúdo foi quase neutro, como todos devem ser. Houve uma explanação do problema de forma fria, dando os argumentos prós e contra de se retirar os alimentos do cálculo da inflação. Inclusive disse, o que não costuma fazer (mas esperamos que passe a fazer sempre) o que um outro país de economia organizada (no caso foi o EUA, mas poderia ter sido a Alemanha ou França) faz, que é justamente tirar os alimentos do cálculo de sua inflação.
O argumento pró foi claro: há alimentos substituíveis, como tomate e chuchu, o que, portanto, não impactam efetivamente no bolso do consumidor, pois ele pode não comprar e substitui-los, além de que a questão clima, errática e incontrolável, afeta muito tais preços e prejudicam a divulgação de real índice inflacionário que deva ser controlado pelas políticas de juros básicos.
Nós já dizemos isso há anos. Em alguns cálculos de alguns países, petróleo também é retirado do cálculo do IPCA, pois é um elemento também muito instável e incapaz de ser gerenciado por políticas econômicas. Assim, o Blog Perspectiva Crítica defende o debate sobre a modernização e retirada de elementos voláteis e substituíveis do Cálculo da inflação oficial, para que o resultado fique mais real e mais compatível com os índices divulgados em outras partes do mundo capitalista e organizado.
Ora, se os EUA não contam alimentos em sua inflação, mas nós no Brasil contamos, não fica irreal a comparação direta entre nossos índices de 5,9% e o deles de 2,3 %?!?!? Claro!!! Mas isso acaba sendo utilizado para dizer que o governança econômica no Brasil está péssima. Sim, mas essa comparação imediata está errada, não é mesmo? Parece, posso estar enganado, que o petróleo também não entra no cálculo da inflação oficial do americano (ver p.s. de 24/04/2014 abaixo)… aí, fico um pouco na dúvida… sou a favor de retirar o petróleo do cálculo por sua instabilidade independente de produção, mas dependente de fatores políticos internacionais e inclusive guerra.. mas os técnicos a favor da mudança dizem que gasolina, petróleo são insubstituíveis e são comprados invariavelmente, o que os torna obrigados a estar nos cálculos brasileiros.. mas o brasileiro não pode usar os transportes públicos? Não pode consumir álcool anidro ao invés de gasolina? Bem.. sabemos que os meios de transportes públicos são risíveis e a política para álcool está, hoje, falida, mas o argumento de que petróleo deve permanecer no cálculo porque é insubstituível.. ainda mais com países excluindo essa variante de seus cálculos.. é algo a se pensar.
Mas observe, os argumento contra foram claros também: alterações no cálculo do IPCA agora arranharia mais ainda a credibilidade do governo, que já estaria arranhada com a contabilidade criativa e tal… mas senhores, com bom embasamento técnico e transparência, não vejo problema de mudar o cálculo a qualquer hora, desde que após debate social e técnico e comparando com o que países da OCDE fazem com seus próprios índices.
Agora vejam… nós pudemos debater a questão e nos posicionarmos, porque a publicação do Globo foi finalmente honesta. Não houve, como sempre houve, um tratamento indutivo do entendimento do cidadão sobre a matéria!!! Ótimo!!! É isso que queremos!
Então, nesse feliz dia, parabenizamos o Jornal O Globo. Assim, se continuar a fazer publicações desse nível, talvez consiga equivaler-se à Folha de São Paulo em qualidade de informação ao seu leitor e nós, deste Blog, poderemos ir além da matéria ao invés de ficarmos nos degladiando com a incongruência informativa publicada para explicar a nossos leitores porque a informação publicada pela Grande Mídia está errada, indutiva ou até mentirosa.
Também aproveitamos para reafirmar nossa posição de que excluir itens do cálculo da inflação que têm oscilação de preços incontrolável, como petróleo e alimentos, nos parece correto, principalmente se for praticado por outros países que devam ter seus índices comparados aos nossos, por óbvio!!
Leia, então, à vontade o artigo “Os vilões de sempre”, publicado hoje, 23/04/2014, na página 19 do Jornal O Globo! E tirem suas próprias conclusões. Dessa vez é possível!! Finalmente.
p.s.: E mais uma coisa, a “manipulação” da inflação na ditadura feita pelo Delfim, aumentando a oferta de produtos alimentícios em locais de repercussão inflacionária maior para o índice oficial da época, como tomates para RJ e SP, não é, ao ver do Blog, manipulação inflacionária.. é tratamento honesto e legítimo de causas e consequências da inflação para controlá-la… se o choque é de oferta (falta tomate) o governo tem mesmo que providenciar a porcaria do tomate para com mais oferta baixar a inflação. Parabéns para Delfim Neto, gênio e ídolo econômico do Blog Perspectiva Crítica. Manipulação inflacionária é mudar cálculo sem embasamento, decretar tabelamento de preços ou mudar inflação por decreto.
p.s. de 24/04/2014 – Texto revisado e ampliado. Confirmado que o índice de inflação dos EUA (ao menos o “núcleo do índice”) exclui alimentos e combustível. Veja o trecho publicado no Jornal O Globo de hoje, 24/04/2014, um dia após escrevermos o artigo de que ora se faz este post script, que confirma a informação que já passamos há anos a nossos leitores. O trecho está no artigo intitulado “Mantega diz que inflação do ano não superará os 6,5% – Ministro da Fazenda garante que não vai mudar forma de cálculo do indicador”, na página 19: “(…) E (Mantega) garantiu que não haverá mudança nos critérios de avaliação da inflação, como fazem os EUA, cujo núcleo do índice exclui alimentos e combustível.” Pois é, gente, nossa informação a vocês é sempre de alta qualidade.