Uma amiga ponderou que o artigo o qual critiquei, datado de 18/07/2010, do Jornal O Globo tinha como enfoque principal a repercussão eleitoral do fato de que um grande contingente de pessoas receberiam dinheiro do governo, dentre elas servidores públicos e beneficiados de pensões, seguro-desemprego, assistência social (LOAS). E teminou perguntando como eu via essa repercussão.
Primeiro, devo realmente fazer um mea culpa. Eu deveria ter dito isso, apresentado um pouco melhor o artigo a ser criticado para somente depois focar no ponto que me desagradou e que acho que causava desinformação.
O que acontece é que existem dois tipos de leitores: o de manchetes e o de artigos. Os jornais sabem disso. A manchete é lida por muito mais pessoas do que o artigo. Sim, o jornal se aproveita para atingir a massa através de manchetes com informações parciais e mais ousadas, dentro de seu objetivo empresarial-ideológico, e muitas vezes dá a informação um pouco melhor no conteúdo do artigo.
Nesta segunda parte o jornal ainda pode privilegiar a sua visão sobre o assunto com mais espaço do que aquele destinado à outra visão crítica sobre aquela perspectiva que ele apresenta. Quanto maior for o equilíbrio entre a informação da manchete e o conteúdo do artigo, mais leal é a informação a todos os leitores. E quanto mais equilibrado for o espaço destinado a ambas as visões sobre o fato apresentado, tanto maior é, mais uma vez, a lealdade da matéria para com o leitor, que terá acesso às duas posições e poderá formar a sua opinião.
No quesito lealdade entre a manchete e o conteúdo, o artigo foi ruim, ao meu ver, pois a menção à repercussão eleitoral do fato de muitos brasileiros receberem de algum modo verbas do governo ficou num espaço pequeníssimo no texto informativo-introdutório da manchete. A informação mais enfatizada pela manchete e no texto de introdução foi o fato de que praticamente metade da população vive às custas da viúva. Portanto, como isto é um descalabro de ser dito desta forma, escrevi contra essa informação principal da manchete. Daí o artigo anterior.
Mas, e agora sim, indo ao conteúdo do artigo referente à manchete já criticada, devo dizer que para o que se propôs, ou seja, avaliar a repercussão eleitoral do fato de haver muitas pessoas que recebem verbas do governo a qualquer título, não foi ruim. Foi até muito boa, na medida em que deu abertura a opiniões de duas matizes e enfocou de forma construtiva e expositiva e não indutiva de raciocínio.
Devo somente dizer, enfatizando o referido artigo e complementando-o, que já houve um artigo que creio te lido no Globo que informou que na re-eleição de Lula dos 11 milhões de beneficiados pelo Bolsa Família, somente 3 milhões teriam votado em Lula. Como ele foi eleito por 61 milhões de eleitores em 100 milhões, mesmo sem o voto dos beneficiados pelo Bolsa Família ainda teria sido eleito.
Isto para enfatizar a informação, inclusive do artigo ora objeto de discussão, de que esta transferência automática de votos em função de programas de governo é limitada. Isto também já foi verificado com vereadores que davam telhas no RJ.. o cidadão pobre diz que vai votar em quem lhe dá o benefício, mas ele só vota mesmo quando está ciente da justiça do ato. Ele não aceita a compra do seu voto. Ele identifica a movimentação ilegítima da oferta e aceita, porque precisa, mas não cumpre com sua parte, como forma de se manter íntegro moralmente para si e para os cidadãos que convivem diretamente com ele.
É o que no fundo o artigo em comento acaba informando, até porque os programas de assistência social, seguro-desemprego e bolsa família não são do governo, são do Estado. Neste ponto, o artigo foi bom.