Ontem 26/02/2012, domingo, o Jornal O Globo (papel) publicou artigo sobre a dívida privada européia. Dado relevantíssimo para demonstrar a capacidade de essas economias se recuperarem via consumo. O arigo intitula-se “Excesso de dívida privada ameaça a Europa”, acessível em http://oglobo.globo.com/economia/excesso-de-divida-privada-ameaca-europa-4069629
Reproduzo abaixo uma lista sintética para comparação das relações dívida privada/pib em 2010 desses países e o Brasil:
Irlanda – 341,3%
Brasil – 33%
Portugal – 248,5%
Holanda – 223,4%
França- 159,8%
Itália – 126,4%
Alemanha – 128,2%
Reino Unido – 212,2%
Áustria – 165,7%
Bélgica – 232,8%
Finlândia – 177,7%
Espanha – 227,3%
Grécia – 124,1%
Suécia – 236,9%
Dinamarca – 244,2%
(fonte: Jornal O Globo de 26/02/2012, pg. 33)
Enquanto no Brasil a média de endividamento das famílias está em 33% do PIB brasileiro (com juros altos, bom que se diga), EUA, Japão e Europa estão com não menos do que 120% e com média européia de 165% o valor do PIB de cada País!!! Bem, isso mostra mais um dado positivo da situação econômica brasileira, possibilidade de crescer a mais de 4% ao ano e demonstra que, a não ser que se decrete calote nesses países, o crescimento econômico de Japão, EUA e Europa e a diminuição da relação Dívida/PIB evoluirá lentamente por ao menos 10 a 15 anos, no mínimo, para voltar a uma situação normal. Neste quesito o Brasil também está muito bem obrigado.
É bem verdade que um dos motivos de nossa dívida privada/pib ser tão baixa é o fato de os juros bancários no Brasil serem muito maiores do que juros cobrados pela máfia italiana. Mas a questão fática é que o endividamenteo privado europeu, americano e japonês atingiu níveis irresponsáveis para o sistema. E isso mostra que tentar incentivar o consumo será difícil, em tese, nessas economias, portanto, a recuperação de todos esses países será lenta mesmo, pois hoje em dia grande parte dessas economias depende justamente do consumo, que chega a ter peso de 66% a 75% em vários países, incluindo EUA, Japão e Alemanha.
E nós não. Nós temos folga para que, com juros ao consumidor compatível com o resto do mundo civilizado, possamos manter crescimento de 5% ao ano facilmente e sem pressão inflacionária, adotando medidas macroprudenciais mais do que aumjento de juros. E por que a mídia diz que crescimento nesse nível é impossível? Por que dizem que gerará inflação? Porque repetem, como sempre repetiram, as soluções estrangeiras aqui, a sugestão de soluções estrangeiras para o Brasil, porque querem ser reconheciods por suas opiniões no exterior e naõ no Brasil e porque têm uma simbiose com as instituições bancárias que cooptaram intelectualmente as grandes empresas de mídia há décadas e para instituição financeira crescimento do País á base de baixa de juros bancários, a curto prazo não faz sentido, pois a baixa de juros bancários levará à imediata baixa de lucratividade que justifica a manutenção das presidências e diretorias das instituições financeiras, ano a ano.
Bom, senhores, outra informação interessantes é a de que o crédito total no Brasil em proporção ao PIB está ainda em 45 a 48% do PIB, enquanto nos EUA, EUROPA e Japão está entre 100% e 200% do PIB desses países, às vezes mais. É lógico que muito disso refere-se ao fato de os juros serem baixos e de ter havido crescimento irresponsável do qual agora os mercados americanos, japoneses e europeus se ressentem.
Isto mostra que Europeus, japoneses e americanos viveram acima de suas possibilidades. Portanto, não temos de chegar aos números não saudáveis eurpeus, americanos e japoneses, neste particular sobre relação dívida privada/PIB e relação crédito/PIB, mas é bom que entendamos que nossas possibilidades econômicas em gerar riqueza e proporcionar conforto ao brasileiro são melhores do que já foram e são totalmente possíveis. Devemos realizar esse potencial.
É importante eu mencionar um dado que realmente me surpreendeu quando li o artigo que comento. Lá estava dito que o nível de relação dívida pública/PIB considerado razoável seria de 85%. O trecho do artigo reproduzo abaixo:
“Artigo publicado pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), no fim do ano passado, mostra que, no caso das dívidas privadas, o limite entre o bom o e mau é cerca de 90% do PIB. Para as dívidas públicas, esse limite está em 85% do PIB.”
(acessível em http://oglobo.globo.com/economia/excesso-de-divida-privada-ameaca-europa-4069629)
Por quê? Porque a Alemanha que é a economia avançada que está com melhores contas econômicas está neste patamar. EUA está acima (mais de 100%), Japão está com mais de 200% e muitas economias européias estão acima deste patamar. Agora saiba, que quando a dívida desses países era de 25% a 45% a relação Dìvida Pública/PIB, o Brasil chegou a 55% e esta dívida era tida como impagável pelos mercados internacionais se atingisse 56%!!! Esse número fatídico foi informado à época (1995/1998) pelo Delfim Neto.
Por que agora o número é 85%? Porque interessa à Europa, EUA e Japão. Quando publicou a menção a este númeor, em seu artigo, o Jornal o Globo não mencionou que no passado recente com o Brasil se aproximando de 56% de relação dívida pública/PIB a dívida era considerada virtualmente impagável.
Quero que você veja como aqui há reprodução de concepções do centro do capitalismo e do sistema financeiro mundial. Infelizmente só quem acompanha e compara informações de cinco a dez anos para trás acaba tendo condições de ver isto. Mas eu compartilho aqui com você, para que ao menos você e eu saibamos.. porque só são precisos poucos que conheçam para apontar a verdade para o resto que tem sonegada informação de qualidade com a qual possa entender os fatos sociais, econômicos e políticos que o circundam e regem suas vidas e a de suas famílias.
O Brasil está bem, mas pode ficar ainda melhor, mas não repetindo o estrangeiro aqui e muito menos repetindo as concepções estrangeiras aqui. Temos de ter visão e concepções brasileiras, autônomas, para desenvolver nossa realidade em nosso inteiro benefício, para crescimento do Brasil, para melhoria de qualidade de vida de nós, brasileiros.
p.s. 27/02/2012 – revisto e ampliado
p.s. de 13/01-2014 – Hoje e dia, após a política de governo de tentar manter crescimento econômico e empregos através de estímulo ao consumo (política anti-cíclica que foi corretamente aplicada, segundo entendemos, mas cujos efeitos positivos esgotaram-se em meados de 2013), o índice de endividamento da família brasileira subiu para pouco mais de 45%. A Europa começou a ter problemas quando esse índice atingiu 75%, pelo que vi. Mas isto é uma questão para ser melhor analisada. Os índices de endividamento americanos e europeus parecem ser historicamente maiores que os nossos por eles usarem muito o crédito hipotecário, até mesmo para consumo. O excesso dessa prática é que gerou os títulos subprime e o íníico da crise financeira mundial que agora parece estar com reflexos negativos mais amenos.