Vejam porque eu elogio Antônio Machado do Jornal do Commercio. Vejam porque eu acho que vale a pena a assinatura do Jornal do Commercio. A abordagem sobre cenário externo, inclusive com perspectiva histórica, e o cenário interno, ponderando o encadeamento dos fatos econômicos para explicar a situação de hoje e apontando a direção do que nos falta alcançar.. essa é a atuação do Antônio Machado. e Tudo de forma objetiva e fundamentada, ou seja, completamente passível de que o sigamos como que por uma trilha.
Reproduzo abaixo a coluna de hoje só para que você tenha isto como exemplo de artigo sobre a realidade econômica internacional e nacional, com foco na explicação da situação nacional e indicação das necessidades prospectivas de nossa economia. Esse cara é uma grande influência para mim.
“Antônio Machado:Amargo e delicioso
Com quase duas décadas da reforma monetária que domou a inflação e outra mais para minorar a miséria endêmica, começar um novo ano com o ritmo do crescimento econômico com estabilidade ainda indefinido é um tanto desanimador.
O quadro econômico complicado, visto pela ótica do baixo nível de investimento e da inflação renitente, preocupa o governo. Mas não é compreensível à maioria, se o desemprego está em níveis recordes de baixa (atingindo 4,9% da população ativa em novembro), o rendimento médio real (R$ 1.809) é o maior na pesquisa do IBGE desde 2002 e a massa de salários cresce à base de 8% acima da inflação.
Por 30 anos também foi assim nas economias avançadas, como nos EUA e na Europa, até que ruiu a chamada “era da grande moderação” – a prosperidade falseada pelo deficit público girado a juros baixos e pelo endividamento rosca sem fim da sociedade. O crescimento não era sustentado, pois era movido pelo efeito riqueza criado pelas bolhas de especulação financeira. O sonho neoliberal da bonança construída pela suposta superioridade dos mercados sem supervisão regulatória foi atropelado por três choques simultâneos.
O primeiro foi o último a ser constatado: a infiltração da máquina industrial da China nas costas da globalização, outro dos marcos do neoliberalismo. Quando se acordou, a China, impelida por salários vis, crédito subsidiado e moeda fraca, havia tomado os mercados.
O segundo choque despertou a atenção da China para a barbada das economias abertas e desreguladas: a baixa competitividade do mundo rico, puída pelas políticas de bem-estar fomentadas pela crença de que os ciclos econômicos seriam moderados pelos mercados racionais. Poderia até ser sem a China, um fenômeno que talvez não chegasse a tanto se os governos do Ocidente tivessem sido mais pragmáticos.
Falácia da bicicleta
O terceiro e último choque veio com o que alguns poucos advertiam, sem serem ouvidos: a fragilidade da banca operando como correia de transmissão da cadeia de deficits fiscais e externos bancados por dívida emitida a juros extremamente baixos, graças ao laxismo dos bancos centrais, sobretudo o Federal Reserve, acionados a cada pio do modelo “permagrowth”, de crescimento permanente. Ou bicicleta.
Os juros baixos não tiraram o capital do rentismo, pois ele foi compensado pela banca com ativos exóticos. A indústria terceirizou a produção para a Ásia e, em vez de enfrentar os chineses, parou de aumentar os salários, vieram a crise e o desemprego, e o investimento colapsou.
Como mula empacada
Estamos longe desse pesadelo, mas os americanos e os europeus também pareciam estar no paraíso, quando a China era vista como a solução para a demanda não atendida pelas empresas nacionais. E hoje tem a Índia, o Vietnã, a Malásia, o México. Deveríamos estar nessa lista.
O país recebeu a crise das economias desenvolvidas com um sistema bancário sólido, com a redução sistemática do endividamento público como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) e sem vulnerabilidade externa devido à inexistência de reservas ou a deficits em contas correntes insuperáveis sem um choque recessivo.
Além disso, a redução da desigualdade social, com inflação domada e crédito em expansão, criou um grande mercado doméstico. Éramos a mais preparada entre as economias emergentes para crescer no vácuo dos EUA e da Europa. Mas estamos como mula empacada.
O que fala mais alto
Os últimos cinco governos tiveram sucesso em restaurar a solvência nacional com maior redistribuição da renda e com menor desigualdade social. Isso veio num processo. Ao atual governo, cabe iniciar outro ciclo, marcado pela expansão da riqueza fornida por investimentos.
A falta de resultados foi a grande questão de 2012 e será a de 2013, aumentando o desconforto do empresariado e de aliados do governo. É ao que se refere o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, quando disse que “os 90 dias iniciais de 2013 serão decisivos para 2014”.
Ou não. O pessimista dirá que a economia não cresce com desemprego tão baixo, reflete o economista Fernando Montero. O otimista, que a economia não consegue parar com renda tão alta. E o realista, que nada disso interessa com o desemprego tão baixo e a renda tão alta.
O mico já está pago
Com emprego e dinheiro no bolso, o eleitor não esquenta a cabeça e se sente seguro, função, hoje, da recuperação do investimento. Para alçá-lo, o governo põe ficha no que controla – a infraestrutura – e espera o grosso do investimento privado vindo do que também pilota: as concessões de transportes. Somando aos estados e às estatais, o investimento público chegou a 4,4% do PIB em 2012.
Para atingir 20% em 2013, tido como mínimo para a economia crescer entre 4% e 4,5% sem gerar desequilíbrios, o setor privado deve investir o resto, 16% do PIB, a média do que tem feito nos últimos anos. Com o Tesouro bancando boa parte do risco privado nas concessões, crédito a juro real negativo cobrindo até 85% dos gastos, com cinco anos de carência, estranho será o governo pagar mico. Já está pago.
Parada técnica
É tempo de uma pausa. Saio de férias, desejando que 2013 seja outro ano de sucesso e felicidade para todos nós. A coluna voltará a ser publicada em 20 de janeiro. Até a volta!”
Transcrição integral da coluna Brasil S/A, assinada por Antônio Machado, publicada no JOrnal do Commercio do dia 21/01/2013.
Essa transcrição tem efeito primordialmente didático (mas também informativo, claro), para todos os leitores do BLOG PERSPECTIVA CRÍTICA, sobre como se apresenta um artigo econômico perfeito sob o ponto de vista do BLOG para artigos econômicos informativos do cidadão brasileiro sobre a realidade econômica no mundo e no Brasil sob a perspectiva de um gabaritado técnico realmente brasileiro: Antônio Machado.
Temos de festejar nossos homens sérios da mídia, assim como o são Mauro Santayana, Allon Feuwerker, George Vidor, Delfim Neto, pois é lendo e ouvindo esses senhores que são profissionias e comprometidos com o desenvolvimento da economia real brasileira é que podemos avançar mais rapidademente para atingirmos o nível autônomo de desenvolvimento que nós, brasileiros, merecemos.
Acessem o original do artigo transcrito em http://www.jcom.com.br/colunas/143353/Zona_de_conforto