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A Síndrome da Modernidade no Brasil – crítica e comentário à coluna da Miriam “Porta da Modernidade” sobre a PEC das Empregas Domésticas

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Fico impressionado com a pressa por modernidade sem lançar os fundamentos pra que se chegue ao que se chama de modernidade.

O que é modernidade, nos dizeres dos nossos jornalistas e analistas sociais de hoje? É copiar tudo o que há na Europa e EUA. É tudo o que existe em países ricos.

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Então, ônibus em que o motorista também é o “trocador” é moderno. Postos de gasolina sem frentistas que ponham o combustível para você, vejam a água, sugiram a compra de óleo, extintores e outros acessórios, é moderno. Cientistas que não tenham mesmas regras do que o trabalhador comum é moderno (vários países ricos não formalizaram em leis trabalhistas o emprego de cientista, como indicado pela cientista brasileira Huzel em entrevista recente no Roda Viva.. o Brasil também copia isso). E empregadas domésticas com regras de trabalho iguais aos de todos os brasileiros reduzirá esse serviço, tornando-o escasso como  ocorre nos países ricos, como Miriam acentuou… e isso também é “moderno”.. e garante que o Brasil sofra choques de modernidades e entre na “Porta da Modernidade” (ou seria a Porta da Esperança em Ser Moderno rsrsrs). Que lindo.

Agora que está feita a besteira, naturalmente, o Brasil tem, não a oportunidade (depende da visão de quem escreve), mas a obrigação de tentar ajustar várias coisas para que se diminua o prejuízo ocorrido neste mercado de trabalho. Mas isso, trabalhar para desfazer prejuízos por ter criado algo dissonante com a realidade social, não é oportunidade.. é empirismo e burrice.

Por que está errada essa forma de “entrar na modernidade”? Por que as razões pelas quais na Europa não há motorista e trocador em ônibus são diferentes das razões pelas quais aqui devem existir motorista e trocador. O mesmo em relação à frentista. E o mesmo em relação à desnecessidade e perniciosidade social da igualdade de enquadramento legal da relação de emprego das domésticas no Brasil de hoje. Perniciosidade não só para os consumidores de todos estes serviços mencionados, mas principalmente para os empregados desses tipos de trabalho.

O Brasil e seus gênios da modernidade social querem que adotemos rapidamente todas as formas idênticas dos países ricos. Assim, seus traumas como cidadãos de um país em situação social ainda diferente dos países ricos podem ser diminuídos. Eles querem ter orgulho do Brasil e querem que os estrangeiros reconheçam que somos iguais seja lá no que for e o quanto antes seja possível. Neste projeto sócio-político-cívico, querem nossa inflação igual a dos países ricos, problemas de serviços com domésticas iguais, postos de gasolina sem frentistas e ônibus sem trocador, pois assim não se contorcerão para explicar para os europeus e americanos porque eles existem e porque inflação superior a deles hoje não é ruim para nosso país que cresce e tem que crescer mais do que os deles.

É sempre a questão da simplificação para que sejamos facilmente compreendidos e, assim, nossos representantes de elite possam se sentir mais à vontade ao falar com seus pares estrangeiros que não entendem e não querem entender o que ocorre aqui e que sempre enfatizam que tudo de diferente que ocorre aqui é porque somos pobres. Assim nossos representantes sentem-se diminuídos, tadinhos, e anseiam por um mundo brasileiro simples e compreensível aos estrangeiros para que eles se sintam realmente integrantes do mundo.. cidadãos verdadeiramente cosmopolitas e integrantes do mundo rico… ao menos em tudo o que aparente exteriormente essa semelhança.

Só que para ficarem sem empregadas domésticas, sem frentistas, sem trocadores, os ricos, antes, ficaram ricos. Com educação pública de qualidade para seus cidadãos. Seu pib cresceu, sua renda per capita é cinco vezes a do Brasil e esses empregos sumiram porque os cidadãos tiveram outras oportunidades de emprego melhores e não porque “canetaram”. E alguns desses empregos podem nem ter exisitido lá, pois a homogeneidade educacional histórica é maior e a disponibilidade histórica de mão de obra, menor. Caixas de supermercados lá também não existem/são como aqui. E nem se imagina empacotadores de supermercados.

A educação lá, portanto, foi a causa da modernidade. Não imposições e salvações através de canetadas tresloucadas e apartadas da realidade social, se auto-intitulando última medida de salvação da escravidão (ridículo..). Escravidão depende do abuso de empregadores, da ignorância dos empregados e falta de fiscalizção do Estado, como em fazendas do Norte e Nordeste e algumas empresas terceirizadas que fornecem têxteis para lojas de renome em São Paulo. Escravidão acabou em 1888 e empregada doméstica não é nem de longe escrava.. pelo amor de Deus. Se elas são, todos os empregados somos… aliás há quem diga que isso é verdade e por um lado…

Mas falando do mundo nomal (e não o teratológico da mente política e da mídia), o correto seria entrar para a modernidade através da educação, com professores bem pagos, o que naturalmente iria minguar esses empregos desqualificados naturalmente. Aí sim, entraríamos materialmente pela “Porta da Modernidade”. E não meramente formalmente como estão querendo que entremos.

Há prejuízo social com essa ânsia de modernidade fajuta, pois o que ocorre é que tiramos oportunidade de empregos de pessoas que não têm educação e ficam limitadas na busca de empregos. Desempregamos essas pessoas, lançamo-nas ao ostracismo e à mendicância, privando ainda quem as podem pagar para que trabalhem e vivam dignamente, em nome de uma “busca imbecil por uma modernidade formal”.

Isso não é ser conservador (até parece que sou.. me considero até revolucionário em certa medida). Isso é ser realista e preocupado com a real modernidade a ser alcançada que será através de professores concursados remunerados a 4 mil reais em início de carreira, em qualquer nível educacional, e chegando a 17 mil para professor universitário, ou melhor, em qualquer nível educacional, inclusive creche. Eu soube que na Finlândia o professor que ganha mais é o de creche que cuida dos bebês, “porque os bebês são o futuro da Nação”!!

Não querer admitir nossas características sociais atuais é um descompromisso com aqueles que já foram abandonados pelo Estado e não têm muitas opções para se defender. Veja o caso das domésticas. Antes elas tinham o emprego de domésticas e podiam ser diaristas ou se candidatar em empresas que terceirizam esse trabalho. Essa legislação nova limitou suas opções, porque os empregadores desses serviços que não sejam ricos não quererão correr os riscos trabalhistas e preferirão diaristas e terceirizadas. As domésticas serão demitidas e serão recontratadas como diaristas e terceirizadas, neste último caso ganhando salário mínimo. Foi bom? Não sei. Acho que não.

Agora, com educação, a extinção do emprego ou sua semi-extinção ia ocorrer naturalmente, pois as crianças pobres estão sendo melhor educadas e isso já está fazendo pequenos negócios não conseguirem contratar caixas, empregados simples. Sumiram os empacotadores de supermercado.. os frentistas e trocadores também iriam sumir.

Esses trabalhos teriam de sumir porque seus ocupantes teriam ido embora, porque melhoraram de vida e não porque o Congresso extinguiu contra a realidade social. Agora tá tendo que se virar para criar e regulamentar direitos que serão adaptados para tentar conter o pandemônio que criaram. Por quê? Pela pressa da “modernidade”, pelo apelo fácil política, pela bandeira do politicamente correto incentivado pela mídia que quer vender notícia e não discutir realidade social.

Não há trocador na Europa porque não há gente para ocupar esses espaços. Agora até há com esse desemprego. Sabe o que europeus e americanos deveriam fazer? Hoje, endividados, deveriam abrir essas vagas que estamos querendo extinguir e tratar de ocupar seus desempregados!! Claro, teriam engenheiros como frentistas (nós temos ou já tivemos taxistas engenheiros), mas antes isso do que desempregados. Ao equacionar o problema econômico, eles voltariam a suas devidas funções, talvez, se já não estiverem aposentados. E quando adotarem isso, esses empregos não serão mais mal vistos aqui, pois nossos representantes de elite aceitam tudo o que vem de fora, desde que possam se sentir no mesmo barco.

Eu só acho engraçado que não queiram copiar outros símbolos de modernidade, as coisas que enriquecem os cidadãos lá, como mais serviço público, mais servidores públicos por habitante (na Suíça 39% dos trabalhadores são servidores públicos, no Brasil são 11%), mais salário mínimo (na Alemanha parece que são 1.500 euros ou perto de 4 mil reais), salário de servidores, educação pública de qualidade e saúde pública de qualidade, com salários altos para médicos e professores. Não.. isso nossa mídia não quer copiar… só o que favorece empresas.

Demitir frentista aumenta lucro de postos. Demitir trocador aumenta lucro de empresas de ônibus. Equiparar empregadas domésticas a trabalhadores de indústrias expulsam as empregadas domésticas de casa de classe média e as lança no mercado de trabalho, seja como diaristas, seja como terceirizadas, seja como trabalhadoras da indústria ou em supermercados… empregados que estão em falta no mercado hoje… talvez voltemos a ter empacotadoras de supermercados.. quem sabe?

As empresas sempre se dão bem nas adoções de formalidades que nos direcionam para a “modernidade”.. Fantástico.

p.s. de 19/04/2013 – texto revisto.

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