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Entrevista com Maria do Carmo de Figueiredo Cisne, estudiosa de Psicologia Social, Administração e de relações trabalhistas

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1. Qual(is) foi(ram) sua(s) inspiração(ões) para estudar Psicologia e se aprofundar em Psicologia Social?

Meu interesse foi porque li o livro “Quatro Gigantes da Alma” do autor Emilio Mira y López.  Ao realizar a leitura ficou claro que cada pessoa possui seus temores e medos, evidenciando o quanto somos frágeis e precisamos uns dos outros. Percebia na leitura que possuímos emoções que nos levam a cometer erros diante das nossas crenças e o quanto somos multáveis e dinâmicos.

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Durante nossa existência, ou seja, nossa vida, passamos por mudanças ou não mediante essas crenças que ficaram cristalizadas em nós (nossos pensamentos) pelo medo, a ira, o amor e o dever são os quatro gigantes da alma, segundo Mira y Lopes.

Neste livro evidenciei que a vida é orientada pelos nossos sentimentos, por aquilo que acredito realmente, mas não sei como explicar, e os sentimentos podem ser bons ou maus.

Por ter formação Católica, era orientada para não me comportar de modo indevido porque Deus castigava, punia, penalizava… E, passei a ligar nos meus pensamentos diários a várias situações cotidianas que inviabilizavam meus comportamentos e a realização dos meus desejos, pois os combatia e creio que muitas vezes fui covarde, tímida… Assim, os medos me levavam a outro sentimento por não realizar o que desejava: a ira.

Como sou uma pessoa afetuosa, gosto demonstrar carinho com familiares, amigos, colegas porque acredito nos diferentes “modos de amar” embora, algumas vezes por alguns mecanismos, fazia, e ainda faço, o inverso.

E quanto ao dever, eram os valores morais que havia recebido dos meus pais, da minha família, isto é, ser uma pessoa justa, dedicada, honesta, íntegra, digna, ética.

Lembro-me que devorei o livro porque era tudo muito claro e explícito do muito que pensava e pouco do que sabia que existiam explicações para tais comportamentos. Claro, que eu me colocava e percebia como os comportamentos das pessoas ao meu redor eram. E, queria saber mais e mais os porquês.

Cada disciplina que realizava na Universidade despertava meu interesse e desejava investigar os motivos que nos levam a termos comportamentos que muitas vezes não sabia explicar. Porém as teorias me interessavam porque explicavam cientificamente como esses processos se davam, ocorriam em nossas mentes, nossos pensamentos e, consequentemente, nossos comportamentos. Somos seres cognoscentes/pensantes.

O interessante é que eu tinha uma grande fascinação pela Psicanálise. O meu desejo, inicial, era fazer formação em Psicanálise, ser psicanalista. Mas, paralelamente, percebia também que o quanto do meu contexto social interferia nas minhas escolhas, no meu comportamento e nas minhas decisões. Após meu bacharelado em Psicologia fui abordada por uma professora para fazer parte de um grupo de pesquisa científica pelo CNPq, ela era professora do mestrado em Psicologia Social e perguntou-me por que não realizar a prova para o mestrado em Psicologia Social mesmo ainda em formação em Psicologia e assim o fiz. Realizei as provas para o mestrado, fui aprovada e pela nota fui Bolsista da CAPES.

Durante as aulas comecei identificar-me com a Psicologia Social, pois obtinha mais conhecimento e quando comecei a ter um aprofundamento na Filosofia, os textos sobre Platão e Aristóteles, ou seja, era de forma empírica, mas apontava a influência de outras pessoas no comportamento de cada ser, de cada pessoa e isso foi um grande incentivo porque reiterava os meus conceitos e as minhas opiniões sobre o assunto. E a visão dos filósofos contemporâneos, a visão de Nietzsche, era que os homens eles deviam ter a coragem e a coragem de lutar contra o rebanho representado pela cultura medíocre. O homem seria um indivíduo cheio de capacidades que, quando se desenvolve em grupo, começa a destruir seu potencial de criação de vida como indivíduo. O futuro do homem deveria ser sempre o produto de sua vontade, não da vontade do rebanho; portanto, a coragem é o elemento básico para enfrentar esse grupo de pessoas, porque coisas diferentes são vistas com olhos ruins.

Lembro-me, também, que na graduação um professor de Psicologia Social I em sala de aula citou: “Se o homem não for visto como produto e produtor, não só de sua história pessoal, mas da história de sua sociedade, a psicologia estará apenas reproduzindo as condições necessárias para impedir a emergência das contradições e a transformação social” (LANE, 1984). Essa citação foi muito marcante.

Pensei e refleti que se eu estou inserida em um contexto social, logo sou um produto porque tenho que seguir as normas e regras do grupo, e como estou inserida, realizo ações e tenho atitudes também. Logo, faço história porque interfiro no comportamento do outro.

Um dos temas que me despertou foi ler sobre como ocorria o amor (algo importante para mim, como citei ser uma pessoa afetiva) diante das relações da intimidade interpessoal, ou seja, como se dava paralelamente percebia que outras variáveis também estavam começando a ser estudadas pelos poetas, filósofos, pelos juristas, que sustentavam suas ideias segundo a Psicologia Social. E a fundamentação teórica da Psicologia Social fez-me entender e compreender que é no dia a dia, na interação social humana, que ocorre algo que é essencial as relações interpessoais porque não conseguimos viver isoladamente, precisamos do outro e/ou outros, tanto quanto os outros precisam de nós. Veio a questão: de quantas pessoas precisamos para podermos sobreviver? Somos os animais que precisamos do outro desde o nosso nascimento, se ninguém nos amamentar, realizar higiene, cuidar, morremos de fome ou de sede ou por falta de higiene, que afetaria nossa imunidade.

Isso é tão evidente que agora na pandemia podemos identificar a importância e a relevância do sentir e manter relações interpessoais, o isolamento e a ausência das pessoas desengatilharam tantos danos à saúde mental da população em todo o mundo.

Somos seres biológicos temos a nossa parte genética, hereditária, porém o contexto social é essencial para o nosso desenvolvimento. Para finalizar quero apontar que a influência é recíproca entre as pessoas: essa interação social e os processos cognitivos gerados por essa interação se dão, ocorre o pensamento social e temos vários exemplos a serem citados tais como: religião, partidos políticos, neste momento crenças em acreditar ou não acreditar na sempre veracidade das vacinas entre tantas outras coisas.

Percebo também o quanto o Marketing utiliza-se da Psicologia Social para desenvolver suas propagandas, seu público-alvo para influenciar aos leitores as pessoas a comprarem e utilizarem-se dos seus produtos e serviços. E, a partir do momento que você possui aquele produto ou utiliza daquele serviço, você começa a pertencer e a fazer parte de um determinado grupo social. Logo, é avaliado, é julgado, é visto como uma pessoa de tal grupo. A relevância da Sociologia está no sentido do grupo a que você pertence. Então, a Psicologia Social junto à Sociologia vão apresentando e respondendo tantas questões.

2. Como a atual pandemia de covid-19 tem afetado o mercado de trabalho no Brasil e no mundo?

Infelizmente a pandemia está marcando, ou seja, deixando o seu marco para a história na história não só no Brasil, mas no mundo, pelo quão impactante foi e ainda está sendo, no mercado de trabalho muitas pessoas tinham os seus trabalhos como certos mesmo sabendo que vivemos num mundo em que é necessário estar aberto às mudanças. A tecnologia já há algum tempo nos aponta isso, porém muitos não acreditavam, pois estavam na sua famosa zona de conforto e com a pandemia veio a constatação da importância da influência da tecnologia e do quanto precisamos estar abertos para aprender e para nos adaptarmos às mudanças.

No caso daqueles trabalhos que eram realizados de forma braçal e ficaram como indispensáveis, a pandemia afetou muitos deles e paralelamente as empresas e as organizações precisaram se adaptar ao isolamento e, consequentemente, foram se adaptando para realizar o trabalho de forma remota ou através do teletrabalho e muitos por falta de conhecimento e por resistência à mudança ― não sabiam e não desejavam ―, assim, perderam os seus empregos, pois muitas empresas foram afetadas devido ao baixo consumo no período. Logo como está sendo de grande duração a primeira coisa a fazer é reduzir a mão de obra, ou seja, as pessoas, que são o fator mais importante dentro das organizações (todo esse capital intelectual). Porém, sem poder assumir os custos desse colaborador, a empresa precisava desligá-lo para que pudesse também sobreviver ou então fecharia, como tantas outras acabaram fechando, além disso, os problemas emocionais que ocorreram foram impactantes: as grandes perdas de familiares ou até mesmo dos colaboradores. Logo isso denota como estamos ou não estamos preparados para enfrentar algo do qual não temos controle, como foi o caso da pandemia. Não tínhamos como controlar nada, o isolamento era o melhor remédio entre aspas para que não houvesse uma grande mortalidade em massa e isso afetando emocionalmente tantas pessoas, pois desencadeou medo, pavor, pânico e tantos transtornos mentais nos quais muitos ficaram inviabilizados de realizar suas atividades devido aos seus temores, às suas crenças e às suas atitudes e às atitudes dos demais familiares, tanto quanto de seus governantes, já que muitos ainda iam trabalhar porque precisavam, pela sua necessidade de sustentar seus dependentes, mas sabendo que estavam colocando em risco a sua vida e isso gerou inúmeros problemas de natureza psíquica.

Vejo pessoas que estão atuando em outras áreas para poder ter um sustento, para atender às suas necessidades, pois durante muito tempo ficaram sem seu trabalho então o velho modelo de empresas contratarem para ter 13º, férias, entre tantas outras coisas está se esvaindo. Para as empresas sim isso já vinha como tendência porque há menos custos e menos gastos envolvidos. É como organizar por projetos: realiza o projeto, entrega e acaba; sem vínculos empregatícios, não tendo esse custo na folha de pagamento da empresa, então é mais uma prestação de serviços focada nos projetos em vez de os funcionários serem efetivamente contratados.

 3. Sua análise da organização mercado de trabalho considera diversos aspectos, que vão desde a estabilidade até as transformações organizacionais do trabalho, considerando a formação e a inserção do trabalhador desde a infância até a aposentadoria, nas áreas pública e privada. Em um trecho da sua Tese de Doutorado, você afirma que: “A busca por estabilidade, portanto, pode não só ter a ver com conquistar o cargo público. As pessoas que sabem necessidade de se estar empregado estão cientes sobre o quanto é difícil se planejar a médio prazo ante a uma realidade que impõe um mundo descartável. Por isso tornar-se praticamente indemissível parece por demais sedutor. Por outro lado, não é de todo verdade que só esse fator é atrativo para quem quer um emprego público. Há atividades nesse meio que seduzem profissões genuínas que tenham como horizonte uma carreira, como a de professor universitário, a de promotor público entre outros.  Isso não impede o debate lídimo sobre os vícios do serviço público. Um deles inclusive assevera que a atividade privada regulada por um mercado competitivo qualifica a mão de obra. Um trabalhador nesse contexto precisa se atualizar para manter sua empregabilidade. Para muitos analistas a empregabilidade é maneira de manter a estabilidade. Significa que as pessoas capazes de se qualificar dificilmente ficarão desempregadas […]”.  Qual é o cenário ideal de estabilidade do trabalho para a empresa ou instituição e para o funcionário ou servidor?

De fato faço essa escrita na minha Tese de Doutorado, pois isso era algo que significava um poder e um status, uma vez que se acreditava que, como servidor público, o funcionário não teria nenhum tipo de situação no qual pudesse ficar sem emprego, enquanto nas empresas privadas a competição é muito grande, ou seja, podendo ter esse resultado se o colaborador não alcançar o resultado esperado. Então ele é descartado e substituído por outro, muitas vezes até trazendo uma rotatividade muito alta de colaboradores, pois as organizações ― muitas delas, não podemos generalizar ― mas, infelizmente na sua grande maioria, querem saber dos resultados e não se preocupam atentamente com as pessoas que executam as tarefas para alcançar os resultados que as empresas desejam alcançar.

A estabilidade como se entende é aquela famosa zona de conforto, sabendo que não será dispensado e que poderia realizar seus planejamentos pessoais de compra de carros, troca de apartamentos, viagens, coisas assim, pois existe a certeza de ter o seu salário depositado ao fim de cada mês. Dependendo da cultura dessa organização que se opõem mais uma vez as organizações privadas, que possuem avaliação de desempenho no qual medem através de seus indicadores também para verificar se os resultados esperados por aquele colaborador foram alcançados ou não e, em caso negativo, eles podem ser dispensados.

Quando cito que pessoas qualificadas tenderão a não ficar desempregadas, quero dizer que não é pelas titulações, mas sim qualificadas pelas suas buscas, das quais as organizações precisam, e que estão em constante mudança, ou seja, essa qualificação será constante e a pessoa deverá estar sempre em busca da novidade: dos novos modelos, das novas práticas, das novas tecnologias, das novas aplicações de instrumentos e de ferramentas para atender ao que está sendo exigido neste mundo tão líquido, nesta sociedade tão líquida, em que podemos saber que os planejamentos são realizados, porém, em qualquer instante, por qualquer motivo, seja de natureza de mudança da cultura organizacional, de gestores ou até mesmo de uma crise econômica (não só no nosso país, mas em qualquer outro que impacta diretamente ou indiretamente nesta organização); deverá ser buscada uma solução para atender a essas demandas e essas novas qualificações são muito rápidas ― as mudanças são muito rápidas ― não sendo tão sólidas como anteriormente se acreditava, que uma determinada direção era a certa. Verificamos que, com as tecnologias, as mudanças vêm muito rápidas: quando hoje nós falamos em inteligência artificial, big data, people analytics, elas serão muito utilizadas, algumas já estão sendo utilizadas para atender as organizações, mas o que vale ressaltar é que haverá sempre pessoas para poder dar os comandos e poder avaliar os cenários e saber quais são as mudanças necessárias para aquela organização.

Logo qualificação é você enquanto colaborador ou empreendedor estar atento ao mundo externo, não só olhando para dentro da sua organização e para o seu negócio. É estar com um olhar para o mundo: quais são as mudanças que estão ocorrendo no mundo que impactam direta ou indiretamente nas organizações ou na organização na qual eu pertenço? Coloca-se a necessidade de ser uma pessoa atenta e aberta às mudanças e de não ficar presa à síndrome da Gabriela: eu nasci assim, eu vou morrer assim… Desse jeito não somos seres cognoscentes que temos a capacidade de nos adaptarmos e mudarmos conforme o que nos é apresentado.

 4.  Você já apresentou a seguinte ponderação como um dos principais fundamentos de seus estudos: “Quais são as competências que são exigidas ao trabalhador Brasileiro no século XXI?”. Como você responderia a isso levando em conta as novas tecnologias e as diversas reformas trabalhistas que ocorreram nos últimos anos e meses? Ainda é possível hoje falar em carreiras? E qual é a formação ideal do trabalhador do futuro, considerando o ritmo acelerado das mudanças, as projeções paternas e maternas para a carreira dos filhos e o nascimento e esgotamento de muitas possibilidades de emprego?

Ao realizar o meu estudo verifiquei que 27 categorias foram apresentadas como respostas para essas competências: seriam agilidade, aprendizado com tino, capacidade de trabalhar em equipe, comprometimento, conhecimento técnico e tecnológico, criatividade, determinação, eficiência, empreendedorismo, flexibilidade, habilidades sociais, produtividade, resiliência, multifuncionalidade, entre outras e de fato exige-se que com essas novas tecnologias você precisa ter essas competências.

Comprometimento, por exemplo, é você pegar um projeto e saber, e ter a certeza que entregará na data marcada, ou seja, saber realizar um bom planejamento ao assumir a realização do trabalho para o qual foi solicitado. A tecnologia poderá ajudá-lo se você souber ter a tecnologia a seu favor no sentido de até mesmo poder otimizar trocas de mensagens, as informações dentro de uma própria equipe e como isso pode ajudar os softwares que hoje existem para serem utilizados.

É claro que as reformas trabalhistas cada vez mais estão tirando a responsabilidade das organizações e dando mais para os colaboradores a ponto de o trabalhador estar dentro de uma organização durante anos, mas ser uma PJ (pessoa jurídica) e não ter todos os benefícios que um outro colaborador sem ser PJ possuía, como horários estabelecidos. Todas essas mudanças, elas impactam e vão exigir cada vez mais da qualificação desse colaborador: como ele vai gerir o seu tempo como ele vai gerenciar suas atividades, as mulheres principalmente, no sentido dos afazeres domésticos e profissionais com tantas atribuições.

A questão é como nós iremos fazer essas adequações para atender a família e atender a organização, tendo tempo também de nos cuidarmos para não termos mais tarde transtornos psíquicos, não termos a síndrome de burnout, pois ficar conectado 24 horas e não dar atenção aos seus familiares não é ter uma qualidade de vida. Então talvez seja pensar antes de assumir a responsabilidade de pegar um projeto, de pegar um trabalho. Saber o tempo que levará, o quanto custará, e fazer uma relação de investimento na relação desse custo que terá para realizar o investimento; o retorno que ela terá de volta. Ou seja, se valerá ou não valerá a pena. Talvez seja pensar que talvez com menos consiga viver melhor, seguindo uma tendência mais minimalista, não tão consumista, um consumo consciente.

Consumir de forma consciente tanto os seus produtos quantos seus serviços de maneira que nas relações interpessoais com os seus pares haja divisão de tarefas para que todos possam ser beneficiados, possibilitando uma qualidade de vida até mesmo para que se tenha tempo para a própria pessoa não ficar só voltada para o trabalho.

Quanto ao questionamento relacionado aos filhos, de fato vivemos neste mundo tão acelerado e isso demandará para esses pais pensarem se o que de fato querem e desejam para os seus filhos é uma projeção de status e de poder ou de saúde mental e de qualidade de vida, pois como consta no questionamento muitas profissões irão acabar como tantas outras irão surgir repetindo então o ciclo no sentido de que novas mudanças exigirão novas competências, novos conhecimentos. E logo esses pais não poderão ter, ou melhor, não deverão ter essas exigências, ou até mesmo idealizações e projeções porque não conseguiram e querem que seu filho consiga alcançar, pois as mudanças são rápidas e cada vez mais essa geração millennials não sabe o que precisa, o que quer, o que necessita, o que deseja, o que espera… Acredito que vai ser o inverso: os pais é que vão e que deverão se adaptar às escolhas dos filhos e, claro, respeitá-las, não impor como durante muitos anos isso foi uma prática porque o pai era um jurista e o filho tinha que ser um jurista, porque eu o pai era médico e filho tinha que ser médico.

A mudança já está instaurada. Hoje você não consegue mais ter esse controle sobre aquela criança, sobre aquele adolescente, que até mesmo poderá não se apegar neste país, neste nosso mundo, ou seja, eles são do mundo global, já vêm com essa visão de serem cosmopolitas, então não adianta ficar buscando aqui. Sabemos que durante muito tempo ainda temos aquela máxima ainda de síndrome do Peter Pan, que assim principalmente a gente chamava os millennials nos anos 90, sua maior parte da vida era ficar só dentro de casa não querendo sair, não querendo ir para a vida e você vê que isso é muito cultural quando você percebe que na Europa e na América do Norte os adolescentes são colocados para irem estudar em universidades em outros estados e não para ficarem como aqui no Brasil ― uma coisa Latina. Houve um censo no IBGE em 2017 comprovando que 60,2% dos homens da geração Canguru eram jovens de 25 a 34 anos que viviam com a família porque alegavam que os custos de vida eram altos e não podiam arcar com eles. Consequentemente os fatores emocionais e econômicos estão ligados, logo é necessário que esses pais tenham a consciência do seu trabalho, do tempo, da dedicação a eles, aos seus filhos, à sua família e a si próprios.

Quando eu falei da síndrome do Peter Pan, quis falar da resistência em crescer. As pessoas não querem crescer. Não estamos falando com isso que a gente deva acelerar o crescimento, ou seja, adultizar a criança, mas que ela seja responsável sim, sabendo o quanto é importante para que ela possa ter responsabilidade. Então estimular a autoeducação. Isso é claro depende dos pais então sorte das crianças que terão nos pais essa autoeducação, que terão essa atenção dos pais estimulando a responsabilidade, mas não acelerando o processo dia a dia porque é sempre importante que mantenhamos a criança que existe em nós, só que com isso não é bom perpetuar a infância, embora seja bom ter tido a infância e não a abandonar. Assim se facilitará e se dará possibilidades para que essas crianças possam ter um autoconhecimento, uma segurança, para que possam fazer suas escolhas. E quando eu falei dos Young millennials, foram as crianças ou adolescentes dos anos 2000 que já estavam conectadas à internet com um smartphone.

As coisas estão cada vez mais assim, então a gente pode dizer que eles conheceram um mundo em recessão, eles tendem até a ser mais realistas, mais questionadores e financeiramente mais econômicos em contrapartida com essa geração Z, que aqui a gente chama de GenZ, que está mais motivada até mesmo, como citei, pelo Marketing com esse poder de ditar as marcas e logo também de ditar como deverão se comportar. Então essa geração Z, que é de 95 a 2010, já nasce no mundo conectado e cresceu já com o celular na mão por isso são conhecidos como os nativos digitais e pra eles não tem divisão entre online e offline porque eles estão conectados a todo momento em todo lugar e essa geração Z não perde tempo, eles também são muito ágeis. Nisso remeto ao que eu citei anteriormente, que eles vivem na era da big data, da explosão de dados, e eles precisam saber lidar com isso então sabemos que a partir disso tem a diferença da geração Y na qual eu falei dos Young millennials. Hoje nós podemos falar da geração Z: pesquisas até apontam que existem medos da geração Z na visão dos próprios familiares ― “será que eles terão dinheiro? Será que formarão família?” ― que têm medo do futuro. Há um questionamento geral se vão ter propósitos e carreiras ou se vão viver só de projetos. O que é apresentado dessa geração é que ela tem uma identidade bastante fluida, não se pode defini-los ou querer colocá-los em caixinhas.

A geração Alfa, que agora chamam de a bola da vez, é a dos nascidos de depois de 2010, que agora completam uma década e pouquinho. Essa geração Alfa que hoje tem aproximadamente 10 anos, eles não entraram nesse mercado de consumo, eles não vão ser alvos do Marketing, eles não sofrem restrições porque, como citei, eles vão ignorar, eles não vão entrar nessa mira, eles serão aqueles consumidores para quem o Marketing deve estar atento, porque eles terão um consumo consciente. Sabemos que ainda não há muitos estudos sobre essa geração, mas sabemos que eles vivem naturalmente com o celular e com a internet e a sua relação vai ser o que a inteligência artificial propõe. Então quando eu falei anteriormente que hoje para nós mantermos o nosso trabalho, para estarmos no trabalho, precisamos entender isso é porque nós iremos prover produtos e serviços para oferecer para essa nova geração Alfa, que então será a protagonista, e eles serão assim o que se percebe mesmo deles. Teve um grupo de estudo que falou há algum tempo para trás, não há tanto tempo assim, que essa geração vai vivenciar de novo, vai reaver e voltar nessa relação mais afetiva entre os seres humanos acompanhados das máquinas pois ela recebe muitos estímulos desde cedo e provavelmente não está preparada para as transformações também que estão por vir.

Então essa geração que é criada pelos pais da geração Y e pela geração Z tende a ser mais livre em relação à sua identidade, não é mais aquela coisa de menina tem que ser daquele mundinho cor de rosa porque não terá mais essa diferença ― e talvez seja mais fortalecida. Nós só poderemos saber mesmo com certeza é daqui a algum tempo quando houver mais pesquisas científicas que comprovem sobre esses comportamentos dessas crianças e também é bom destacar como o IBGE cita que no Brasil, hoje em 2021, temos mais de 30.000.000 de idosos, ou seja, a tendência do envelhecimento da população é contínua assim sendo temos que ver como separar os nossos pais, os nossos avós e os nossos filhos para que não sofram e não tenham problemas cada vez mais de ordem psíquica, mais transtornos psíquicos atrapalhando sua saúde mental.

 5.  Quais rumos você enxerga para o Brasil, para o mundo e para a sua própria vida?

Um rumo que eu enxergo para o Brasil… Infelizmente não vejo, não enxergo, creio que eu estou com uma visão muito talvez míope de não ter um bom olhar, embora seja uma pessoa muito otimista, mas não com o poder nas mãos de quem está, fazendo a escolha de quais são as responsabilidades e de quais são as prioridades. Uma vez que eu vejo nitidamente que, para mim, é um pilar principal para a evolução de qualquer sociedade a educação e é onde nós temos menos valia.

A educação não tem valor nenhum no Brasil, a educação primária, até mesmo a conscientização familiar de hoje pensarmos numa saúde mental familiar, de termos programas que pudessem se desenvolver para uma formação de consciência desses adolescentes para hoje você não ter meninas com 12/13 anos tendo outras crianças. Isso é assustador, então esse controle de natalidade, como deve ser, deve ser dado pela educação. Podemos claro ter a liberdade, cada um tem a liberdade de escolha, de realizar o que quer com seu próprio corpo, mas não há essa preocupação com o outro, logo, é triste perceber que a educação não tem a menor importância para que as pessoas possam desenvolver um pensamento crítico e analítico e consequentemente poderem ser esse ente pensante e, por consequência, essa falta de educação afeta a saúde e os programas relacionados à saúde, afeta o poder econômico e a cadeia vai crescendo. Acredito que os gestores não se importam no discurso, na época eleitoral, posteriormente, isso é deixado de lado como neste momento da pandemia quantas crianças ficaram fora de qualquer modelo de educação formal e perderam anos de estudo. Um ano, 2 anos numa vida acadêmica escolar impactam porque daqui a pouco eles terão que ir para o mercado de trabalho e como irão para o mercado de trabalho sem saber ler e escrever porque não serão nem alfabetizados, nem alfabetizados funcionais.

Quanto à minha própria vida, eu espero e penso e desejo coisas boas, pois eu sei da minha história sei do meu esforço que fiz para alcançar os meus objetivos pessoais e profissionais, porém diante desse cenário talvez míope eu me vejo querendo explorar mais conhecimentos, realizando outras atividades ajudando ao outro, ao próximo pela Psicologia Clínica, no atendimento às pessoas que passaram por esse grande trauma da pandemia e que ainda estão passando. À minha família também, aos meus amigos e como usufruir mais e ter mais qualidade de vida, uma vez que trabalhei muito por razões pessoais para poder alcançar os meus objetivos pessoais. E foi através do trabalho, por isso valorizo muito, acredito e gosto principalmente do mundo acadêmico, da educação, mas não vou ficar me desgastando, malhando em ferro frio, como se diz, para não ser e para não ter o reconhecimento por tudo que eu fiz, por tudo que realizei porque eu só tenho essa vida, então é aquilo: eu quero usufruí-la com as pessoas de quem eu gosto, com as pessoas que me fazem bem, com o melhor para mim e para minha família, mas neste momento mesmo pensando em mim, pensando no meu eu, o que me habita, quantas pessoas habitam aqui dentro deste meu corpo: mãe, filha, irmã, amiga, professora, consultora… Consigo ver tantas coisas e os conflitos que valem e que não valem, e os desgastes que valem e que não valem, para poder ter mais algum tempo de vida com qualidade e quem sabe viajando bastante para poder estudar mais ainda a Psicologia Social, vendo as diferenças culturais sociais existentes neste nosso mundo.

Claro que tudo isso dependerá de como essa pandemia vai deixar ou como está deixando as suas marcas. Sinto falta do contato dos outros porque eu sou muito afetuosa afetiva no sentido até mesmo sinestésico e não ter tanto isso me fez falta também e trouxe essa carência em querer estar próxima das pessoas que me fazem bem e para quem eu sei que faço bem. Sabendo que ajudo os alunos quando ministro treinamento, ministro aula, o que for, e na clínica, no atendimento, posso desenvolver mais e melhor, sempre aprimorando meus estudos e realizando leituras científicas e não científicas, embora a minha tendência sempre seja para leituras científicas para que eu possa aprender um pouquinho do tanto que eu não sei.

 6.  Qual(is) mensagem(ns) você gostaria de deixar para os leitores?

A mensagem que eu gostaria de deixar para os leitores é que tomem cuidados com as suas escolhas diante de suas crenças, que possuam um autoconhecimento para poder melhor fazer as escolhas e que suas crenças não impeçam de realizar aquilo que desejam. Ter tempo para si mesmo, para se conhecer, para olhar a natureza, para ver o quanto é Bela a natureza que, muitas vezes, o simples pode ser muito mais Belo do que algo muito complexo. E a própria simplicidade é ser você mesmo. Você se posicionar claramente sabendo o momento, a hora de buscar pessoalmente essa paz, que é difícil, já que vivemos em eternos conflitos porque a era da Psicanálise não nega que nós somos seres faltantes, faltosos, nós nunca chegaremos a 100% de plenitude, de completude, para atingirmos tudo que desejávamos conseguir, mas que possamos chegar perto daquilo que eu tenho como propósito, como objetivo, como é o meu o meu propósito de vida desenvolver pessoas através de suas competências, para que elas possam ter um mundo melhor e serem pessoas melhores, e, consequentemente, uma sociedade mais digna, mais íntegra, mais equitativa. Então é buscar a sua paz interior, o seu autoconhecimento, para que você possa saber escolher e dizer o sim e o não nas horas precisas e certas.

***

Maria do Carmo de Figueiredo Cisne

EU SOU uma entusiasta por pessoas, educação, desafios, inovação, tecnologia e, consequentemente, pelo trabalho porque acredito serem essenciais para a transformação sociedade. Acredito e gosto que possamos desenvolver competências nas pessoas e propiciar melhorias para o bem-estar do indivíduo com conversas compassivas. Sou uma pessoa que acredito que tudo ocorre bem quando é pela via do AFETO…

Graduação em Psicologia e Administração; Pós-graduada em Administração de Recursos Humanos; Mestre em Psicologia Social (bolsista da CAPES); Doutora em Psicologia das Organizações e do Trabalho (UFRJ); Professora e Coordenadora de cursos de Graduação e Pós-graduação nas áreas de Gestão e Educação; Professora MBA do curso de Compliance na FGV; Professora na Graduação em Direto e cursos preparatórios para OAB ― Psicologia Jurídica; Professora no IERB ― Escola do Governo MPRJ; Professora na modalidade EaD desde 2008; Primeira Professora a ministrar aulas Teletransmitidas ao vivo para todo Brasil em 2009; Treinamentos em Furnas (Sede e Regionais ― Brasil ― Gestão de Pessoas) e Caixa Econômica Federal (preparatório para CPA 10 e CPA 20 ― Ética profissional); Implementou a área de Recursos Humanos em Empresa Privada com 500 colaboradores; Atendimento Clínico ― Abordagem TCC e EMDR.

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5 COMENTÁRIOS

  1. Olá Marizeth.

    Muitíssimo grata por TODA atenção, generosidade e pelo incentivo!

    Torço pelo seu SUCESSO PROFISSIONAL E PESSOAL, pois sem pre foi muito dedicada.

    Sou suspeita porque gosto MUITO o objeto da ciência jurídica, o conhecimento do direito.

    Creio que compreender a diferença entre a moralidade dos sistemas filosóficos de Bentham e John Stuart Mill, bem como provar haver mais espaço para a elaboração de regras morais no utilitarismo de Mill, quando comparado ao utilitarismo de Bentham. Contudo, para se entender como a moral no sistema de Bentham distingue-se da moral no sistema de Mill, é necessário ter uma clara noção da natureza humana dos indivíduos de ambos os autores e dos respectivos princípios de utilidade que derivam destas distintas noções de natureza humana, pois o conceito de moralidade de cada autor decorre das respectivas ideias de natureza humana e do princípio de utilidade de tais autores. É muito instigante essa temática como outras tantas!

    Abraço,
    Carmo Cisne

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