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Crítica ao Editorial do Globo “Aumentar salários de servidores é incoerente”

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Observem, quem são os editores responsáveis pelo Jornal O Globo? Segundo o site do Jornal O Globo eles são: Ascânio Seleme (Diretor de Redação e Editor Responsável) e como Editores Executivos temos Chico Amaral, Paulo Motta e Sílvia Fonseca. Todos competentes e renomados jornalistas. Acesse a lista deles em http://oglobo.globo.com/expediente/
Chico Amaral é designer de formação (http://portaldosjornalistas.com.br/noticias-conteudo.aspx?id=1303).

Link do editorial: https://oglobo.globo.com/opiniao/aumentar-salarios-de-servidores-incoerente-19782873

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A questão é: o editorial é de responsabilidade desses senhores e senhora. Eles sabem o que de gestão pública? E de estrutura de carreiras públicas? E de prestação de serviço público? Nada, senhoras e senhores. Mas defendem um ponto de vista: neste editorial criticado é o de que “em época de crise fiscal, aumentar salário de servidor é incoerente com ajuste de contas públicas”. Reclamaram que todos os aumentos concedidos e a conceder geraram despesas de 59 bilhões de reais, sem dizer a partir de quando, o que dá impressão de que todo o déficit de 170 bilhões de reais previsto para 2016 um terço é para pagar servidor.

Não estou aqui querendo dizer que eles não possam publicar o que quiserem. Podem. Um jornalista, mesmo não formado, pode publicar o que quiser e é legítimo que assim o faça. A imprensa é livre. Nós somos totalmente a favor disso. Sardenberg e Miriam Leitão não são formados em economia e escrevem sobre economia. O Blogger deste Blog é formado em Ciências Sociais e Jurídicas (Direito) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e escreve sobre política, economia e questões sociais, apesar de que esses temas são afins ao seu curso de formação superior, mas enfim..

Agora, é interessante termos isso em mente quando lemos sobre a opinião de quem não estuda gestão pública e de quem aparentemente não tem compromisso com o debate sobre a eficiência da máquina pública. Só que se você se convence da opinião de alguém que não sabe do que fala, em especial no caso de serviços públicos, quem é que sofre? Você, o cidadão que precisa de serviços públicos bem prestados, não é mesmo?

Então veja. Muito grave o editorial nos termos em que se apresentou porque ele desinforma em massa a população sobre a realidade dos fatos e sobre o que afeta seu interesse no que tange à melhora da prestação de serviços públicos ao contribuinte que paga impostos.

Primeiramente, não houve qualquer ponderação sobre o fato de que não se tratam de aumentos, mas de reposições inflacionárias. E a pergunta é: trabalhador tem direito à reposição de inflação em seus salários? Sim. Mas naturalmente jornalistas regiamente pagos não estão se preocupando com isso que é a realidade para a maioria da população brasileira. Mas é isso que mantém a dignidade de trabalhadores, inclusive servidores, e sua qualidade de vida em face do aumento de custos causado pela inflação.

Segundo, não consideraram em momento algum que, além dos direitos remuneratórios dos servidores e da perda aquisitiva de seus salários em anos, o exercício da atribuição do cargo público no interesse público, principalmente contra ricos empresários e políticos, exige a garantia da estabilidade. Não consideram isso. Apresentam a estabilidade como benesse. Mas não haveria Operação Lava Jato sem estabilidade do cargo público. Nem fiscalização e auditoria de grandes empresas pelo Fisco. Como atacam a estabilidade, então? Bom, o Jornal O Globo é uma grande empresa.. não sei se fiscais, policiais e servidores autônomos, bem pagos, independentes e estáveis incomodam..

E mais, falam do salário dos servidores públicos ser maior do que a média dos trabalhadores brasileiros. É importante que se pergunte: que trabalhadores brasileiros? Qual o grau de educação desses trabalhadores brasileiros tirados para comparação com servidores públicos? No Judiciário da União, em torno de 85% dos servidores analistas são pós graduados e pouco menos do que isso de servidores técnicos também o são.

A comparação é com a média de trabalhadores brasileiros, incluídos os trabalhadores sem formação primária? Porque essa é a maioria da população. Então a comparação é mentirosa. Quanto ganham os repórteres de elite da Globo? R$40 mil, R$150 mil mensais? E eles são quanto? Dez por cento da equipe? Os servidores são dez por cento da força de trabalho brasileira e estão em uma elite porque é necessário mais educação para passar em concurso público do que a maioria da população tem. Não considerar isso é mentir a mal da população e do serviço público e é desrespeito ao servidor público.

Mas não só isso. Observe que além de bater no servidor público, desconsiderar seus direitos remuneratórios e negar a informação de que há poucos servidores por habitante se compararmos o Brasil com países ricos e inclusive com o Chile e Portugal, não há uma reportagem sobre em que lugar há inchaço no serviço público e onde não tem servidor público. A fixação por remunerar menos e contratar menos, que o veículo de mídia escrito por pessoas sem conhecimento em gestão pública noticia, poderia ter inviabilizado até o Programa Mais Médicos, o qual importou em aumento de gasto de 13 bilhões de reais ao ano com a saúde pública. Esse programa, estejam contra ou a favor, garante atendimento médico de mais de 50 milhões de brasileiros. Também nunca a grande mídia pediu uma medida assim. Só menos gastos, menos salários e menos servidores.

Eles podem escrever isso, mas, eu pergunto, isso melhora a sua vida? Isso é compatível com a responsável administração da máquina pública? Como a máquina pública funcionaria sem servidores? Com contratados terceirizados. Os terceirizados contratados por Ongs e cooperativas sociais para prestar serviços médicos no Rio de Janeiro, por exemplo, ganham mais que servidores médicos e as cooperativas e Ongs ganham mais ainda em cima, mas esse gasto maior não é condenado pelo Jornal. É a eficiência da máquina pública ou a inversão de todos os valores públicos para a área privada que o Jornal O Globo defende?

E então veja que interessante: os gastos de 600 bilhões de reais do governo com juros da dívida, pagando 14,25% de juros básicos, o que dará 7% de juros reais no mínimo no ano de 2016, enquanto os principais países emergentes, inclusive em guerra, como a Rússia, pagam 2,5% de juros reais, não tem espaço de publicação na mesma proporção do gasto com servidores. E o gasto com servidores gera despesa de 240 bilhões de reais anuais no total, dando serviço público para todos os cidadãos brasileiros.

O aumento é de 59 bilhões anuais, referente ao reajuste de várias carreiras públicas sem reposição inflacionária há anos? Em quanto tempo haverá esse impacto de 59 bilhões anuais no orçamento?Dois a quatro anos? Diminuir o juros reais pagos por títulos da dívida pública a 3% economizaria imediatamente em um ano 150 bilhões de reais!!!!! Cadê a manchete? Rsrsrs

Controle da inflação por medidas macroprudenciais é feito na China há anos e anos. Mas aqui só pode ser por aumento de juros, seja lá qual for o motivo (que é o de manter lucros de bancos). O Globo denuncia essa sangria dos cofres públicos? Nem uma linha. Ao menos em proporção e destaque desse gasto, se comparado à proporção e destaque das publicação contra o servidor público e sua remuneração, é como se inexistissem publicações contra o pagamento de juros nababescos aos bancos, vilipendiando desnecessariamente o orçamento público.

Nós ficamos perplexos com o nível da liberdade e descomprometimento com que são publicadas matérias sobre reajuste de servidores como se fossem aumentos. Medidas de gestão de pessoal na área pública são publicadas como se fossem desnecessárias e furtivas e depenadoras do Erário. É impressionante o descomprometimento com o interesse público.

O orçamento está deficitário? Qual orçamento público dos países ricos não está? E vejam se pagam mal ou vilipendiam direitos remuneratórios de seus servidores que existem em muito maior quantidade por habitante do que aqui! E pergunto, empresas privadas não têm períodos de prejuízos? E podem baixar os salários de seus trabalhadores? Também não. Podem demitir com mais facilidade? Podem, mas pagam FGTS, hora extra, respondem na Justiça Trabalhista pelos abusos cometidos contra o trabalhador. O servidor só tem seu salário. Ele escolheu prestar serviço público em troca de independência na realização de seu trabalho e de remuneração menos volátil, mas isso pressupõe a reposição inflacionária.

E veja se há ponderação do Jornal O Globo sobre a concorrência que há entre cargos públicos? Alguns cargos melhor remunerados levam os servidores a mudar de cargos, através de concurso público, em igualdade de condições com todo brasileiro (o que não acontece em empresas privadas que muitas vezes privilegiam contatos familiares e de círculo próximo de negócios em detrimento da capacidade do trabalhador disponível, mas sem costas quentes). E como fica o órgão público que perdeu aquele servido de qualidade? Fica pior. Então medidas são adotadas para tentar manter equilíbrio entre as carreiras para manter os quadros públicos com quem quer ser servidor, porque nem todos querem ou mesmo teriam educação ou persistência para passar em concurso público.

Então, mais uma vez denunciamos o desrespeito ao servidor público, ao serviço público e ao cidadão brasileiro que este Jornal perpetra ao tratar o tema “política remuneratória do serviço público” como mera rubrica de aumento de gastos que depaupera o orçamento. Denunciamos a escolha de temas para cortar despesas que prejudicam o serviço público e a prestação de serviços públicos ao cidadão que paga impostos. Denunciamos que não há reclame quando os gastos do orçamento se direcionam ao bolso dos bancos e de grandes empresas e denunciamos que se não fossem servidores públicos bem pagos como os Policiais Federais, Procuradores da República e Juízes federais e seus servidores, não haveria Operação Lava Jato.

Sonhamos com o dia em que um veículo de comunicação desta magnitude, e que orgulha os brasileiros sendo a quarta maior empresa de comunicação do mundo, possa, quiçá um dia, abordar este tema de alto relevo para o interesse público, a gestão de recursos humanos na máquina pública, com o cuidado, zelo e profissionalismo que merece… talvez, quem sabe, com o mesmo empenho que dedica ao defender aumento de juros básicos para a economia, sob qualquer pretexto. Já seria ótimo e criaria um equilíbrio entre a defesa que o interesse de banqueiros recebe em detrimento do interesse da maior parte dos contribuintes brasileiros: a classe média e a menos abastada (estes últimos pagam tributos sobre o consumo, claro, não sobre a renda).

Incoerente seria o Presidente Michel Temer, Presidente de todos os brasileiros, que quer um Brasil trabalhando, não conceder reajuste inflacionário negado há anos pela ex-presidente Dilma Roussef (que mentiu e enganou por anos servidores e empresários), inviabilizando a máquina pública e um ambiente mais eficiente para apoiar a área privada. Incoerente seria ignorar os direitos remuneratórios dos servidores públicos e os acordos fechados com as classes de servidores durante a gestão da Dilma, da qual também participou.

Incoerência nós vemos é no Editorial em comento, em que se demonstra preocupação com o Erário e se ataca uma despesa que só será de 59 bilhões em dois a quatro anos, mas nem sequer menciona que já não devíamos pagar, a título de juros reais da dívida pública, mais de 150 bilhões de reais anuais ao menos há dois anos. Ou não denunciar que 25% da conta com servidores públicos federais está em Brasília, em sua grande maioria em cargos comissionados sem concurso público e que poderiam, facilmente, ser cortados a qualquer tempo. Ou seja, mais de R$50 bilhões de reais anuais estão nestes mais de 25 mil cargos que são usados como troca e para barganha entre políticos e empresários. Mas isso, para o Globo, baluarte do justo e do correto, pode. Ridículo.

p.s.: Texto revisto.

p.s. de 27/07/2016 – Texto revisado.

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