Início Colunas A verdadeira guerra do petróleo atual: o que a grande mídia não...

A verdadeira guerra do petróleo atual: o que a grande mídia não conta para você

723
0

Para nós, meros mortais, o que está acontecendo à Petrobrás e seu preço de mercado é meramente um reflexo da incompetência do governo petista na sua administração, exigência absurda de operação exclusiva da Petrobrás no Pré-sal e controle do preço da gasolina que acabou abalando a credibilidade do mercado na capacidade da empresa de lucrar. É… mas não é bem assim. E a solução, como podemos ler pelas indicações diretas e indiretas nos nossos grandes jornais é a privatização, retorno ao regime de concessão para o pré-sal e exclusão da Petrobrás como operadora exclusiva do Pré-sal.

Hoje, 02/04/2015, o jornal O Globo está com uma ótima edição (em quantidade de informação, nõa em qualidade), especialmente dedicada ao tema do petróleo. Sardenberg, no artigo “Privatizando na bacia das almas”, além de atacar o desenvolvimentismo, culpando-o pelos nossos males econômicos atuais, sustenta que “(…) a Petrobrás já está sendo privatizada, e isso  desde a época da Graça Foster”. Segundo Sardenberg, “chamam a operação de ‘vender ativos’ ou ‘desinvestimento’, mas o nome é privatização na forma mais clássica: alienar patrimônio para pagar dívidas e fazer caixa.”

- PUBLICIDADE -

E, não à toa, na página 21 da mesma edição, tem publicado o artigo intitulado “Projeto propõe que petroleira deixe de ser operadora exclusiva do pré-sal”, em que expõe o problema de caixa da empresa Petrobrás, a pressão de investimento que é ser a operadora exclusiva e o projeto de lei do Senador José Serra (PSDB-SP) que “propõe retirar da Petrobrás a exigência de que a estatal seja operadora exclusiva dos campos de petróleo no pré-sal, como forma de fortalecer a empresa no cenário atual de crise.”

O Blog nem é contra a proposta do Senador. Somos até a favor pelas razões que ele sustenta, como já exprimimos outras vezes. O índice de obrigatoriedade de operação nos blocos do pré-sal não deveria ser superior a 10%, infelizmente, porque como o parque exploratório é gigante, é muito dinheiro a ser levantado, o que realmente pressionou a Petrobrás. Mas isso não te informa sobre o que está acontecendo realmente no mundo do petróleo. Isso mascara o motivo pelo qual a Petrobrás está passando por problemas. e também não te informa sobre interesses estratégicos do país e de outros países na questão. Então vamos nós fazer isso por você, leitor, de novo.

Não foi somente má gestão ou aparelhamento da Petrobrás que está acabando com ela ou dificultando a sua vida. Duas coisas graves prejudicaram a Petrobrás: (1) Operação Lava-jato que expôs um vetor de corrupção muito grande, mas segundo Ricardo Semler e recente artigo sobre o tema, abaixo da média de 10% que ocorria desde os anos 70 (artigo “Nunca se roubou tão pouco”, de 21/11/2014), o que abalou a imagem de higidez de negócios da empresa a partir da intensa publicação do caso e (2) a queda do preço internacional do petróleo, a partir de sua manipulação por acordo entre EUA e Arábia Saudita. Desses dois, o componente internacional é de longe o mais importante. Isso é o que não publicam e sobre isso falaremos.

A partir de uma necessidade de os EUA submeterem a Rússia aos efeitos dos embargos americanos e europeus, por conta da crise da Criméia (sua anexação) e da Ucrânia – sem entrar no mérito sobre o que ocorre ali, que tem a ver com a realocação estratégica de equipamentos de defesa e expansão da Europa, alertando a segurança russa (o Blog não toma partido nessa questão estrangeira) -, os EUA entraram em acordo com a Arábia Saudita sobre manter por bom tempo grande produção de petróleo, o que faria o preço do mesmo baixar, afetando drasticamente a economia russa, obrigando, em algum momento, a Rússia a recuar de sua postura na Ucrânia. Não interessa neste artigo se isso é bom ou ruim. Foque no problema do petróleo e da Petrobrás.

A Arábia Saudita concordou em praticar dumping internacional, contra todo o sistema de livre mercado de petróleo, com a bênção dos EUA, prejudicando toda a economia dos países que vendem petróleo, enfraquecendo os principais problemas norte-americanos: Venezuela, Irã e Rússia, ao mesmo tempo. A Arábia Saudita, assim, quebra a organização financeira de concorrentes, inviabiliza vários investimentos em prospecção, como o próprio pré-sal brasileiro e aparentemente até  a prospecção do petróleo não convencional de xisto, dos EUA, pois com preço baixo, as prospecções mais caras ficam inviabilizadas.

A Arábia Saudita pode fazer isso porque não é uma democracia. Assim, a perda grave de receita com a manipulação do preço do seu principal, senão único, bem público que gera a arrecadação do Estado não produz pressões populares porque o Erário é da família real e na Arábia Saudita as pessoas vivem praticamente como na Idade Média, sem grandes serviços públicos para a massa da população. Os que existem não deixarão de receber seus valores por serem pouquíssimo gasto para a arrecadação. Então, esse país pode ficar praticando sua tirania de preço de petróleo livremente e por tempo indefinido, aparentemente.

Os EUA ganham com o enfraquecimento de regimes que os hostiliza e que são por eles hostilizados (Venezuela, Rússia e Irã) e ainda pode pressionar para entrar no pré-sal… pronto, cheguei no Brasil.

Quero deixar claro algumas coisas: não somos contra a participação de empresas estrangeiras, mesmo americanas, na exploração petrolífera no Brasil. Empresa é empresa e governo é governo (apesar de que nos EUA praticamente se confunde o privado e o público, ainda mias em setor petrolífero). Empresa gera investimento. Investimento gera riqueza, renda, emprego, lucro e impostos. Nós somos a favor do livre mercado (regulado e fiscalizado) e da participação estrangeira em tantos setores econômicos quanto possíveis, desde que não extingam a produção e empresas nacionais do ramo e desde que haja reciprocidade para entrada de produtos, serviços e empresas brasileiras no país que aqui entra. Então somos a favor da participação dos americanos na exploração de petróleo brasileiro.

Mas somos contra a manipulação de preço internacional do petróleo, contra investimentos em movimentos políticos internos brasileiros como o que ocorre no Movimento Brasil Livre (segundo publicação da Folha de São Paulo) e contra modificações do sistema produtivo no Brasil para satisfazer interesses norte-americanos, pois isso muitas vezes prejudica o Brasil. Não se deve deixar de fazer algo só porque os americanos querem ou gostam. Isso é besteira. Mas entender o que ocorre no mundo e como repercute no Brasil para nos adaptarmos e escolhermos autonomamente opções que defendam melhor nosso interesse em um determinado contexto é estritamente necessário. Para isso precisamos das informações corretas e a grande mídia não está ajudando.

Os EUA, em paralelo com seus interesses na Ásia, têm na queda artificial do preço do petróleo um ótimo meio de prejudicar o sistema de partilha do pré-sal e a diminuição da participação da Petrobrás como operadora exclusiva do pré-sal e, assim, poder entrar tanto na operação quanto na exploração do pré-sal, da qual ficou de fora. Como operadora de pré-sal, uma empresa pode escolher prestadores de serviços e empregar pessoas. Se essa empresa fosse americana isso sairia da exclusividade da Petrobrás e perderíamos esses serviços e empregos para os americanos e aliados, como os próprios sauditas.

Nós fomos contra o sistema de partilha, pois o regime de concessão é mais livre, menos custoso à Petrobrás e ao Estado, mas temos de admitir que o sistema de partilha garante fatia grande de riqueza ao Estado e quando o risco de encontrar petróleo é baixo faz muito sentido. Noruega usa tal regime e outros países também. Na Arabia Saudita a certeza é tão grande que nem partilha se faz, mas contratos de exploração. Os exploradores são pagos pela exploração, mas todo petróleo é do Estado. Faz sentido. Quanto menor o risco, mais o Estado põe a mão. A riqueza do Estado se reverte, ou reverteria, em serviços públicos, então aumentar a participação do Estado quando possível parece ser responsável. O Pré-sal brasileiro, por exemplo, terá 75% de sua arrecadação destinada à Educação Pública e 25%, à Saúde Pública.

O mesmo se diga da operação exclusiva à base de 30% dos blocos do Pré-sal. Como se estima a necessidade de investimentos para retirar o petróleo do Pré-sal em 600 bilhões de dólares, 30% são 180 bilhões de dólares… pesado para a Petrobrás sozinha. Melhor que fosse 10%, mantendo operação exclusiva da Petrobrás. Pressionaria menos o seu caixa, mas deixaria um fiscal genuinamente brasileiro em cada bloco, inclusive escolhendo prestadores de serviços e mantendo empregos no Brasil para explorar o que é nosso.

Mas com os preços do petróleo tão baixos, os investimentos da Petrobrás que estavam super-focados no Pré-sal começam a ficar inviabilizados se o preço do petróleo ficar abaixo de 47 dólares o barril. Veja bem.. e a Arábia Saudita, por acaso, disse que pode mantê-lo em torno de 40 dólares!!! Que coincidência de preços, não?

Há, portanto, um conluio internacional entre americanos e sauditas que prejudica a saúde financeira da Petrobrás. Saiba disso. Se tivermos de alterar regime de exploração e de alterar a participação da Petrobrás, mesmo que americanos gostem e desejem e trabalhem para isso, que seja porque assim quisemos e entendemos interessante para o País e a Petrobrás em dado momento. Mas convém ver o que ocorre e que não é publicado. A Petrobrás ser estatal nos permite desenvolver várias politicas industriais, desenvolvermos tecnologia própria, inserir o país autonomamente no mundo e no mercado de petróleo, termos interesse estrangeiro sobre nós para podermos negociar questões de nossos interesses geo-políticos… e por isso querem privatizar a Petrobrás. Privatizá-la é quebrar uma perna do Brasil, pra quem vê que liberdade de mercado, infelizmente, é balela para pobre achar que está inserido na mesma realidade de europeus e americanos.

Mas a China sabe o que é a verdade sobre liberdade de mercado. E por isso está apoiando a Rússia e Brasil na sua produção de petróleo. Contratou com a Rússia fornecimento certo de petróleo por 30 anos e emprestou agora 3,5 bilhões de dólares à Petrobrás em troca de fornecimento de petróleo por dez anos (manchete econômica no Jornal O Globo de 02/04/2015 – “Um socorro da China – Sem acesso a mercado, Petrobras obtém US$3,5 de banco estatal chinês, Ações sobem 5%.”). Os EUA estão possessos!! Estão sacrificando seus lucros e de suas empresas de petróleo e prejudicando a extração de petróleo não-convencional com múltiplos objetivos mas talvez nõa consiga todos eles, ao menos contra a Rússia e o Brasil.

O que a China ganha? Fortalece sua imagem e posição entre os BRICS e ainda mantém a competitividade no mercado internacional de Petróleo, impedindo que os EUA e a Arábia Saudita, fiéis aliados, aumentem seu domínio no mercado internacional de petróleo, commodity importantíssima para seu futuro crescimento econômico e do qual é dependente de importação. Esse mercado petrolífero na m~]ao de americano é a economia chinesa na mão americana. E assim segue o mercado “livre” internacional, com a Arábia vendendo abaixo do preço de mercado e com a China comprando acima do preço, além de EUA tristes e Petrobrás com preço de mercado depreciado..

Plagiando aquele velho programa da Rádio-Relógio: Você, sabia?

Então é triste ver as notícias publicadas da forma como são, sem nenhuma nota sobre a questão internacional que influencia o mercado de petróleo, o preço do petróleo e as finanças da Petrobrás, empresas de petróleo por todo o mundo e países produtores e consumidores de petróleo. A Petrobrás está mal por causa dessa guerra internacional de preço de petróleo. é o momento de apoiá-la e não acusá-la ou querer privatizá-la. Isso é ridículo, mal informado ou mal intencionado. Privatizar ou não, isso não muda a guerra de preços internacionais!! E ainda retira um player estratégico do Brasil para políticas industriais e fomento ao desenvolvimento nacional de forma mais autônoma.

Ainda há a versão de que o que ocorre é um embate entre a produção de petróleo da Arábia Saudita e a produção de petróleo de xisto dos EUA. Nós publicamos primeiramente esta versão. Mas como a produção de xisto é altamente nociva para os lençóis freáticos dos EUA (o processo de extração de petróleo de xisto inclui a injeção de toneladas de ácido em lençóis de água doce que está em vias de saturar em 2025) e há muita vantagem geopolítica para o governo dos EUA com o preço tão baixo (Venezuela, Irã, Rússia e Pré-sal do Brasil) o Blog Perspectiva Crítica acha difícil crer que é uma coincidência tão boa para os EUA. Mas essa parceria que admitimos que ocorra pode ter um limite, pois os prejuízos econômicos dos EUA estão sendo razoáveis.

Acesse os seguintes artigos:

Versão da aliança EUA – Arábia Saudita
Trecho escolhido:
A insurgência liderada pelos sauditas reverteu a direção do mercado, colocou as ações globais em mergulho e causou pânico nos mercados de crédito. Enquanto o sistema financeiro se aproxima de uma nova crise, autoridades de Washington permanecem em silêncio, nunca soltando mais que um pio sobre a política saudita que pode ser descrita como um ato deliberado de terrorismo financeiro.

Por que? Por que Obama e companhia ficam calados enquanto os preços do petróleo desabam, uma indústria nacional é demolida e as ações caem de um precipício? Pode ser porque atuam em conjunto com os sauditas num grande jogo para aniquilar os inimigos da gloriosa New World Order?
Tudo indica que sim.”

Acesse a íntegra em http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/mike-whitney-golpe-petroleo-dos-estados-unidos-visa-perpetuar-reciclagem-extorsionista-dolar.html

Versão do embate EUA x Arábia Saudita

Trecho:
Os países mais afetados, como Irã, Rússia e Venezuela, suspeitam que a queda foi um esforço coordenado entre os sauditas e o seu aliado de longa data, os EUA, para enfraquecer a economia e a posição geopolítica de seus inimigos.

Mas a história da nova estratégia de petróleo da Arábia Saudita, segundo entrevistas com autoridades do Oriente Médio, dos EUA e da Europa, não é a da velha aliança. É uma história de crescente rivalidade, movida pelo que os sauditas consideram uma ameaça imposta pelas empresas de petróleo americanas, dizem essas autoridades.
A produção de petróleo de xisto no Texas e na Dakota do Norte elevou a oferta americana, substituindo as exportações de membros da Opep para os EUA, o que aumentou o volume excedente global.
A mensagem de outubro de Dossary sinalizava um desafio direto para as empresas de petróleo americanas, de que a monarquia árabe acredita que elas geraram o excesso de oferta ao usar as novas tecnologias de petróleo de xisto.
Autoridades sauditas estão convencidas de que não conseguem sozinhas elevar os preços com a nova enxurrada de petróleo disponível. Também concluíram que muitos outros membros da Opep se recusariam a promover cortes significativos, assim como grandes produtores não membros, como a Rússia e o México. Se a Arábia Saudita cortar a produção sozinha, os sauditas temem que outros produtores iriam ocupar esse espaço e roubariam fatias de mercado.
O ministro saudita do Petróleo, Ali al-Naimi, testou essa conclusão apenas 48 horas antes da decisão da Opep, de 27 de novembro de 2014, ao se reunir em Viena com ministros de outras grandes nações produtoras para sugerir um corte coordenado na produção. Como suspeitava, ele não conseguiu um acordo, disseram fontes a par da reunião. A opção foi deixar o preço cair para testar por quanto tempo, e em que nível, os EUA conseguem continuar extraindo petróleo de xisto.”

Acesse a íntegra em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2015/01/14/geopolitica-do-petroleo-arabia-saudita-eua-x-ira-russia-venezuela-ou-opep-x-eua/

Outros artigos:

Excelente artigo sobre a versão do embate ou consequência da política de dumping internacional:
http://www.infomoney.com.br/bloomberg/mercados/noticia/3804312/por-que-eua-vao-perder-guerra-precos-petroleo-avalia-leonid

Globo e Carta Capital estão juntas na informação do embate entre Arábia Saudita e EUA. O artigo da Carta Caital é mil vezes melhor do que o da globo. Veja você mesmo:

http://www.cartacapital.com.br/internacional/o-petroleo-despenca-e-a-arabia-saudita-sorri-3244.html

http://oglobo.globo.com/economia/em-busca-de-cota-de-mercado-arabia-saudita-reduz-precos-de-petroleo-para-clientes-de-asia-eua-14739481

Trecho do artigo da Carta Capital acima elencado:
Está claro que a Arábia Saudita resolveu deixar arder um mercado em chamas. Encastelados em reservas gigantescas de petróleo e dólares e com a produção mais barata do mundo, os sauditas vão perder, mas menos do que seus rivais e até aliados. De quebra, vão ver alguns possíveis concorrentes saírem do mercado ou adiarem explorações consideradas demasiado caras, como no Ártico ou em águas profundas – caso do pré-sal da Petrobras, o que ajudar a explicar a queda nas ações da estatal brasileira.

O conforto saudita com a depreciação acelerada do petróleo é tão grande que, em 22 de dezembro, o ministro saudita do Petróleo, Ali al-Naimi, não colocou prazo para acabar com a estratégia de não interferir no mercado. Questionado pela CNN até quando seu governo manteria a produção constante, foi conciso: “para sempre”.”
- PUBLICIDADE -

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui